¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, fevereiro 11, 2013
 
VICE-DEUS É EQUIPARADO
A CRIMINOSOS DE GUERRA *



Há horas venho defendendo a necessidade de denunciar Sua Santidade Bento XVI ao Tribunal Penal Internacional ou à Corte de Haia, por crimes contra a humanidade. Pois o que era um desejo quase utópico acaba de acontecer. Uma associação americana de vítimas de padres pedófilos anunciou nesta terça-feira que apresentou uma queixa ao Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o papa Bento XVII e outros dirigentes da Igreja católica por crimes contra a humanidade.

As razões da entidade americana são outras que não as minhas. Eu responsabilizava a tacanha política vaticana de proibição dos preservativos nos países africanos com grandes contingentes católicos como a causa de um verdadeiro genocídio. Segundo dados de 2006, dos 39,5 milhões de acometidos pela Aids no mundo, 25 milhões estão na África subsaariana. Em 2009, em uma visita a Iaundé, capital do Cameroun, um dos países africanos mais devastados pela peste, Bento afirmava que o problema da Aids não pode ser resolvido pela distribuição de preservativos e o uso destes só serve para agravar o problema.

Mais seguro que o preservativo, só a abstinência. Ora, abstinência é utopia. E isto os eunucos do Vaticano jamais entenderão.

As razões dos americanos são outras, dizia. Os dirigentes da associação Snap, orientados pelos advogados da ONG americana "Centro para Direitos Constitucionais", entraram com uma ação para que o papa seja julgado por "responsabilidade direta e superior por crimes contra a humanidade, por estupro e outras violências sexuais cometidas em todo o mundo".

A Snap tem membros nos Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Bélgica, quatro países muito afetados pelo grande escândalo de pedofilia que envolve a Igreja. "Crimes contra a dezenas de milhares de vítimas, a maioria crianças, foram escondidos pelos líderes nos mais altos níveis do Vaticano. Neste caso, todos os caminhos levam a Roma", declarou a advogada Pamela Spees.

O abuso de crianças pelos sacerdotes de Roma – que envolveu até bispos e cardeais – assolou o planeta, dos Estados Unidos à Europa, da Irlanda a Viena, da Holanda à Bélgica, da Alemanha à Itália, da França à Espanha. Em carta dirigida aos fiéis irlandeses, em março do ano passado, Sua Santidade se dizia envergonhada pelos abusos cometidos no seio da Igreja Católica da Irlanda. Criticava ainda a postura das autoridades eclesiásticas dessa diocese e ordenava aos bispos que ajudassem as autoridades civis.

"Expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos provamos", disse então o Papa, esclarecendo às vítimas que este também é um "grande dano" à Igreja e "à pública percepção do sacerdócio e da vida religiosa”.

“A Justiça de Deus exige que assumamos nossas ações sem ocultar nada. Reconheçam abertamente a sua culpa, submetam-se às exigências da Justiça", determinou aos envolvidos nas agressões. Dirigindo-se aos padres pedófilos, Bento XVI reiterou que estes devem responder por seus crimes, "perante ao Deus onipotente e também frente aos tribunais devidamente constituídos".

Sobre os abusos no coral de Ratisbona quando dirigido por seu irmão e sobre a proteção a um padre pedófilo durante seu cardinalato em Munique, Bento não disse água.

Após seu pronunciamento anódino sobre os padres pedófilos da Irlanda, Sua Santidade voltou a proferir sandices. No Angelus do domingo seguinte ao seu pronunciamento, proferido na praça São Pedro, pediu “perdão para o pecador, intransigência com o pecado”. Estava se referindo aos abusos sexuais dos ministros da Igreja irlandesa.

Pelo jeito, não entra no bestunto pontifício que pedofilia não é uma questão de pecado. Pedofilia é crime. Pecado se perdoa com um ato de contrição, três pais nossos e dez aves marias. Crime se pune com cadeia. Ao acobertar pedófilos, tanto João Paulo II como Bento XVI livraram seus sacerdotes da Justiça penal.

Esta é a denúncia da Snap. A organização acusa o chefe da Igreja católica de ter tolerado e ocultado sistematicamente os crimes sexuais contra crianças em todo o mundo. À queixa acrescentaram 10.000 páginas de documentação de casos de pedofilia. Os bispos e, em alguns casos, o próprio Vaticano rejeitaram ou ignoraram muitas das queixas das vítimas de padres pedófilos. O escândalo desacreditou a Igreja em vários países na Europa.

Claro que a denúncia vai cair no vazio. Um tribunal europeu jamais condenará o bispo de Roma. Mas já é reconfortante ver o vice-Deus sentado no mesmo banco de criminosos de guerra.

* 13/09/2011