¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, novembro 30, 2011
 
DOIS EMBUSTES QUE SÓ
ENGANAM PESSOAS CULTAS



Comentando a crônica de ontem, um leitor achou minha análise um pouco preconceituosa: “tirou base por sua vida, lembre sempre que existem outros no mundo. Vivemos sim, num mundo de conflitos, certamente sem respostas. E o capitalismo a qual Adam se refere não é o econômico, e sim o de imposições, de relações triviais (a exemplo da internet, que massificou os relacionamentos). Um grande abraço!”

Que vivemos em um mundo de conflitos, disto não tenho dúvida alguma. Só não vejo porque "prazer profundo, com troca entre pessoas" seja difícil, cheio de conflitos. Vivo bem, tenho meus prazeres, tanto os profundos, como diz o psicanalista, como também outros nem tão profundos. Há décadas, não vivo conflito algum.

Mas o psicanalista precisa encontrar conflitos, mesmo onde não existem. Ou não ganha seu pão. Quando teço críticas à psicanálise, não falta psicanalisado que, papagueando Freud, ache que estou precisando de uma análise. Ora, vivo serenamente minha vida, não tenho conflitos de ordem alguma. Por que razões iria eu pagar um vigarista para me ouvir? Meus amigos e amigas me ouvem com prazer, sem que eu precise desembolsar um vintém. Vivia em conflito, isto sim, quando era adolescente. Não por ser adolescente, mas porque a idéia de Deus me foi enfiada a machado na cabeça. Mas logo abandonei a crença em Deus e minha vida se tornou um mar de rosas. Há mais de quarenta anos não sei o que seja conflito.

Diz ainda o leitor que o capitalismo ao qual Adam se refere não é o econômico, e sim o de imposições, de relações triviais (a exemplo da internet, que massificou os relacionamentos. De acordo quando à primeira parte. Aliás, não falei em capitalismo econômico. Quanto à Internet ter massificado os relacionamentos, não acompanho este raciocínio. Internet não tem responsabilidade alguma pela massificação. Muito antes das redes sociais, futebol e rock há muito vinham uniformizado as pessoas. E muito antes ainda, lá atrás, as religiões eram um poderoso fator de massificação da sociedade. Utilizo diariamente a Internet e não me sinto nenhum pouco homem-massa. Pelo contrário, uso a rede para manifestar minha individualidade. Não fosse a Internet, eu não teria voz. Massificadora é a imprensa escrita, onde qualquer opinião mais contundente é censurada pelos editores.

Isso de afirmar que "o capitalismo trivializou a paixão, fez com que as pessoas se desiludissem em relação ao amor" é grossa besteira. A idéia de amor evoluiu, desde os poemas de Safo de Lesbos até nossos dias, passando pelo amor cavalheiresco e pelo amor cristão. Amor é um sentimento literário, alimentado e desenvolvido através dos séculos, e espanta ver um psicanalista usar uma palavra que designa uma ficção como se significasse algo real. Swift, ao responder a uma jovem que estava em vias de casar-se, foi preciso: “o amor é uma paixão ridícula, que não tem razão de ser, fora dos livros de recreação e dos jornais. Hoje, este sentimento é a mola que impulsiona o mercado em datas como dias dos pais, dos namorados, da mãe e Natal.

Quando me falam de amor, gosto de contar um episódio narrado por Morton Hunt, em A História Natural do Amor. Em uma aldeia nos confins da África, um antropólogo tentava explicar aos nativos o que seria este sentimento. Contou então uma lenda, sobre um cavaleiro que sai em busca de uma donzela e enfrenta montanhas, abismos de dragões para conquistá-la. Um ancião da tribo, interpretando o sentimento dos demais, perguntou:

- Por que ele não procurou outra moça?

Um outro leitor me pergunta se considero comunista qualquer pessoa que critique o capitalismo. Não necessariamente. Mas a entrevista de Phillips tem um viés nitidamente comunista. Não é que o capitalismo tenha trivializado o amor. Ocorre que este sentimento transformou-se através dos tempos. Ao atribuir ao capitalismo a trivialização do amor, o psicanalista deixa entender que há um sistema alternativo onde o amor não foi trivializado. Ora, só há dois sistemas políticos no Ocidente, o capitalismo e o socialismo. (E não me venham com a piada de que as sociais-democracias constituem uma terceira via). Até pode ser que Phillips não se pretenda comunista. Mas pensa como tal. Vejo todos os dias, à minha volta, pessoas que talvez nem saibam o que seja comunismo. Mas pensam de modo idêntico aos comunistas. São comunistas sem sabê-lo.

Por outro lado, estou cansado de ver esses intelectuais que vivem em plena sociedade de consumo, que fazem suas fortunas graças ao sistema capitalista e depois saem a condenar o sistema. O que, aliás, lhes rende ainda mais dinheiro. É o caso do lingüista americano Noam Chomski, que fez fortuna, literária e pessoal, criticando a sociedade que o embala e sustenta e louvando regimes onde estaria na cadeia mal abrisse a boca. Ou de Michael Moore, que fez fama e fortuna mentindo em seus filmes sobre o país que o abriga e protege.

Esses personagens são universais. Entre nós temos, sem ir mais longe, Jorge Amado. Passou boa parte de sua vida condenando o capitalismo e louvando as ditaduras comunistas. Em O Mundo da Paz, insultou o Ocidente e particularmente Paris. Foi inclusive proibido de entrar na França. Onde foi morar depois de tornar-se rico atacando o Ocidente? Foi morar em Paris, na Rive Droite, em uma mansão com vista para a Notre Dame.

O mesmo diga-se de Chico Buarque, que sempre denunciou o capitalismo e alinhou-se com os países socialistas. Jamais disse uma palavrinha contra as ditaduras comunistas. Muito menos contra o regime da Disneylândia das esquerdas, a Cuba de Castro. Foi por acaso morar em Pequim, Moscou ou Cuba? Nada disso. Hoje tem apartamento na privilegiada e caríssima Île de la Cité, quase ao lado do apartamento de Amado.

Psicanálise e marxismo, costumo afirmar, são dois embustes que só conseguem enganar pessoas com certa cultura. Analfabetos não fazem psicanálise nem aderem ao marxismo. Ambas as doutrinas estão sendo celeremente desmascaradas. Nesta Pindorama que sempre vive a reboque do pensamento contemporâneo, gozam ainda de boa saúde.