¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, julho 22, 2011
 
SOBRE OS PRAZEIRES DE UM ATEU


De leitor que se identifica apenas por duas iniciais, recebo:

Enquanto houver tribunais com crucifixos, expressões crentes na constituição e no dinheiro, juízes que condenam réus a serem evangelizados, bispos no Conselho Nacional de Saúde, evangélicos contra a ciência, criacionistas querendo debater com a ciência (e mesmo interditá-la), isenções fiscais às igrejas, lutas religiosas pelo mundo, reacionarismo contra a contemporaneidade nos costumes e nas artes por razão religiosa e preconceitos, abertos ou velados, eu continuarei financiando e defendendo a ATEA. Mesmo ciente de seus erros - e a campanha é cheia de erros - o resto é muito, muito pior. Os que defendem a permissividade com as religiões e com a religiosidade no mundo contemporâneo fazem um favor ao que há de ruim no passado histórico, e um desfavor à democracia.

Se Daniel fosse juiz ou bispo, duvido que o redator se referisse, assim desrespeitosamente, como "um tal de". Antes de ser apresentado, e não havendo ofensa declarada, é o Sr. Daniel Sottomayor. Nenhum sábio ou messias, mas alguém que tem a coragem de desacomodar, e de fato perturba, é eficiente em sua meta maior.

Ateus, vivemos heisemberguianamente, sem precisar desses fantoches infantis que iludem os ignaros há milênios, ou de narrativas prontas para ver o mundo. A autonomia é prazeirosa e promissora.

FM


Atirei no que vi e acertei no que não vi. De fato, Sottomaior não é indiferente a doações. Que isso de lutar por uma causa sem subsídios é coisa de insanos. Até Marx, o pensador ateu que mais influenciou o século passado, não se fazia de rogado quando Engels lhe repassava o vil metal.

Você não deixa de ter razão em alguns de seus considerandos. Isso de crucifixo em tribunais e artigos de fé na constituição e no dinheiro constituem arrogância da Igreja. Quanto a juízes condenando réus a serem evangelizados, jamais ouvi falar disso. Se ocorreu, o juiz deveria ser denunciado à Corregedoria. Ainda há pouco, li nos jornais que um juiz condenou um adolescente a assistir missas. Bom, o meritíssimo está criando um ateu e dos mais ferozes. Quanto a criacionistas defenderem seus pontos de vista, isto é direito deles. Vivemos no Ocidente democrático. Da mesma forma, considero que qualquer crente tem o direito de defender sua fé.

O que não se admite é que queiram impor suas crenças em legislações de países laicos. É o caso do aborto e do divórcio, sem ir mais longe. Se os católicos são contra o aborto e o divórcio, que não abortem nem se divorciem. Mas não pretendam proibir isto aos demais cidadãos que não participam de suas fés.

As igrejas só me incomodam quando se metem em minha vida. Isto aconteceu muito em minha juventude. Os padres queriam controlar até mesmo minha vida sexual. Invadiam as camas de todo mundo, fossem crentes ou não crentes. Hoje, esta pressão quase inexiste. Os padres estão transando adoidado com homens e mulheres e agora preocupam-se com os pecados ditos sociais. Os sexuais já eram.

Quanto a referir-me ao prócer ateu como “um tal de”, assim o fiz por não saber se Sottomaior é açougueiro ou alfaiate. Qual é a profissão deste senhor? Onde trabalha? De que vive? Até onde me consta, sua profissão é ser ateu. Se um dia souber qual seu emprego, passarei a designá-lo por seu ofício.

Sou ateu, mas disso não faço bandeira nem profissão. Sou ateu naturalmente, como quem respira. Religiões, só as condeno quando se metem na vida do Estado. Ou na minha. Quem quiser papar hóstias, esteja a gosto. Acredita em vida no Além? Azar dele. Em verdade, nem vai perceber o engodo, já que depois da morte nem ele existirá.

Acredita em Deus? Só faço uma pergunta: em qual deles? Só no Antigo Testamento há vários. Desde o Deus quase antropomórfico que luta com Jacó e janta com Sara, até o deus distante e impessoal que surge quando Israel se torna poderosa. Mas esta pergunta só pode ser feita a quem leu a Bíblia com atenção, algo raro entre católicos.

Mas, como diz o leitor, a autonomia é prazeirosa. Pelo jeito, sente prazeires ao financiar a ATEA. Ora, sempre tive os ateus como pessoas cultas. Pelo que vejo, não se fazem mais ateus como antigamente.