¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, fevereiro 20, 2011
 
ESTADÃO ACEITA CENSURA
DE CHANCELER CORRUPTA



Comentei, no início do mês, as viagens da ministra francesa de Relações Exteriores, Michèle Alliot-Marie, junto com seu amante, Patrick Ollier – ministro de Relações com o Parlamento – no ano passado, em um avião particular de propriedade de um empresário pertencente ao círculo íntimo do ditador da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, recentemente derrubado. Não bastassem estas relações no mínimo suspeitas com a ditadura tunisiana, reveladas pelo Canard Enchainé, o jornal malvado saindo às quarta-feiras descobriu ainda que os pais da chanceler compraram imóveis pertencentes a Aziz Miled, o empresário que lhe deu carona em seu jato particular.

Fosse só isto, seria pouco. Tentando defender-se, a ministra empunhou uma série de mentiras, todas elas desmascaradas não só pela imprensa francesa, como por seu próprio gabinete. Entre outras, assegurou jamais ter tido “algum contato privilegiado” com o ditador Ben Ali. Ora, seus próprios assessores afirmam que Michèle teve um breve colóquio por telefone com Ben Ali, durante sua estada na Tunísia.

Madame Alliot-Marie, cuja cabeça vem sendo pedida pela oposição e jornais franceses – junto com a de seu amante, o ministro de Relações com o Parlamento – deve chegar amanhã toda pimpona ao Brasil, para tentar reverter a decisão de Dona Dilma sobre a compra dos caças Mirage. Pelo menos é o que leio no Estadão. Em tempo: segundo recente sondagem, 54% dos franceses esperam que se demita. Entre os simpatizantes de esquerda, são 82% que esperam sua renúncia. Enquanto isso, indiferente ao temporal, a ministra visita o Terceiro Mundo, como se nada estivesse acontecendo em torno a si.

O Estadão de hoje repete, pela enésima vez, que está sob censura:

''Estado'' está sob censura há 569 dias

Desde 29 de janeiro de 2010, o Estado aguarda definição judicial sobre o processo que o impede de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, pela qual a Polícia Federal investigou a atuação do empresário Fernando Sarney.

A pedido do empresário, que é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em julho de 2009, de noticiar fatos relativos à operação da PF.


Em verdade, está sob censura por que quer. Em dezembro de 2009, Fernando Sarney entrou com pedido de desistência da ação contra o jornal, que não o aceitou. O Estadão prefere o prosseguimento da ação, a fim de que ela tenha seu mérito julgado. É uma opção.

Na mesma edição de hoje, o jornal dos Mesquita publica uma entrevista, feita por e-mail, com a ministra amiga dos amigos do ditador tunisiano. A chanceler impôs uma condição: é proibido falar sobre "viagens pessoais". Roberto Simon, o entrevistador, na introdução à matéria, não deixa de narrar as peripécias da madame. Fala do escândalo por causa de seus laços com o clã do ex-ditador. Fala da viagem no jatinho do empresário ligado ao ditador. Fala também das negociatas de seus pais e do diálogo telefônico com Ben Ali. Mas na hora da entrevista, o repórter acata docilmente a censura imposta pela chanceler. Nenhuma palavrinha sobre viagens.

O Estadão chia todos os dias contra a censura imposta por um rebento do clã Sarney, prolatada por um juiz amigo da quadrilha. Aceita, sem tugir nem mugir, a censura imposta por uma chanceler corrupta em visita ao Brasil. Corrupta e com a reputação em pandarecos.