¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, novembro 24, 2010
 
MENSAGEM DO VINICIUS


Já vai longe esta discussão sobre o rock, mas não posso deixar de registrar esta mensagem do professor Vinicius Ramon Fontanela, bom amigo com quem confraternizei em Cascavel. Respondo amanhã. La voilà:

Querido Janer,

você sabe o tamanho do apreço e admiração que lhe guardo. E nós dois temos aversão a fanáticos. Pois bem, penso que se eu concordasse sempre com você seria um fanático. Por isso, volta e meia me dou ao luxo de discordar.

Não concordo quando você diz que textos pequenos, músicas, frases de efeito não provocam revolução, que isso se faz com livros. E aí vejo, inclusive, um conflito de geração. É inegável que as gerações anteriores liam mais, até porque não tinham muitas outras coisas a fazer, digo, não havia video-games, computadores, redes sociais virtuais etc... Coisas com as quais os adolescentes perdem muito tempo. A geração criada sempre com muito estímulo – visual, auditivo, tátil – já não se empolga muito com sentar, ficar paradinho lendo um livro porque isso se faz “longe do estéril turbilhão da rua”. Estudos recentes mostram que o tempo de concentração em uma coisa só diminuiu nos mais novos. Eu fui um jovem criado pela TV e pelo video-game, conheci literatura e filosofia só na faculdade.

Sobre as frases pequenas que mudam comportamento, pergunte aos publicitários que não têm muito tempo para passar suas mensagens. Será que os esquerdossauros leram todos “O Capital” ou ficaram empolgados com a propaganda e as frases de efeito “Proletários do mundo, uni-vos!”? Toda revolução precisa de gente e ao povão a grande literatura não chega, a grande filosofia passa longe. E não preciso parar por aí, prefixos há um monte “Lula lá”, “Yes, we can”. Outra coisa que mostra a tendência de que estou falando é o sucesso do twitter. São 140 caracteres. Hoje há muita informação e bom é aquele que sabe filtrar o que lhe interessa. Saramago disse que estamos regredindo ao grunhido. Regressão ou não, é isso que está acontecendo.

Crítica bem feita é crítica ao que se conhece. Você bem disse que rock é uma palavra ônibus, pois ela abrange estilos musicais muito diferentes. Pois bem, veja você mesmo a extensão do que estamos falando: (Coloquei anexo no final).

Já fiz o teste, com meu pai, que dizia odiar rock, gosta apenas de modas de viola, sentei quinze minutos com ele e descobri que de alguns tipos ele gostava. Apenas não conhecia. Ainda prefere a viola, mas reconheceu que há rocks de que ele gosta. Minha mãe, preocupada com as drogas no rock, preferia que eu estivesse escutando louvores evangélicos. Dez minutos ouvindo rock, ela gostou de muita coisa. Fechou o bico.

Detalhe, nunca usei nenhum tipo de droga ilícita. Nem experimentei. Hoje festa de traficante é festa rave. Digo porque freqüento shows de rock. E o Reggae com sua apologia aberta à maconha? Seu principal expoente, Bob Marley, até criou uma religião – na qual a maconha era ritual. Quando morreu, dezenas de espécies de piolhos foram encontrados em sua cabeleira, alguns nunca antes estudados.

Há outra coisa com a qual você se engana, meu pai fumava, eu não, meus pais são religiosos, eu sou ateu, meus pais não curtem rock. Eu escuto o tempo todo. Determinismo, Janer? Sua filha gosta de ópera? Escuta todos os dias?

Não estou ignorando a possibilidade de você vir a não gostar de nenhuma das dezenas de estilos e milhares de grupos que você ainda não conhece, é possível. Mas, de novo, é bom conhecer aquilo que se critica.

Janer, você erra feio ao dizer que o rock tradicional é “mainstream”, mas muito feio. Você é uma grande exceção, mas pode comprovar que pessoas medianamente cultas conhecem rock. Pessoas tapadas não conhecem nada. Tive alunas da periferia que nem sabiam o que era Beatles. Elvis Presley, só tinham ouvido falar. Não porque foram criadas pela ópera e música clássica – seu caso - mas pelo funk carioca e música pop – e não porque os pais dela gostavam! Para se ter uma idéia, abro o site da maior rádio jovem do Brasil, a Jovem Pan, e vejo as mais pedidas, as sete melhores e não há nenhum, nenhum rock dos bons. Da Transamérica, pior ainda!

Você não vê isso, Janer, porque não escuta rádio, não vê programas de domingo da TV aberta (ainda bem), mas não veria o bom e velho rock 'n roll nesses programas. Sabe por quê? Por que o rock não é para todo o mundo. Para ser rockeiro o indivíduo não pode apenas saber batucar e rebolar – aliás, ninguém rebola no rock. Tem de ter estudado música – anos a fio para tocar algumas de suas variedades, tal a exigência de habilidade – por isso muitos músicos vêm sabe de onde? De orquestras! Ou você não sabia que há estilos de rock que se misturam com elementos de ópera? Há uma banda de rock composta por três violoncelistas (nenhum guitarrista), todos formados pela Academia Sibelius de Helsinki que você deve conhecer.

Aliás, a orquestra filarmônica de Berlim, gravou com o grupo Scorpions, se gravou é porque respeita. Outra coisa é que na Europa se escuta muito mais rock do que aqui, mas muito mais. Principalmente os estilos mais pesados – o metal – um amigo meu, depois de batalhar anos com sua banda aqui se mudou para Bulgária, está bem lá. Para gostar de rock tem de se ter identificação com o movimento – que não é mainstream, é contracultura!

Paul McCartney - que ganhou o título de maior honra da família real britânica – tem grande público aqui porque a última vez que veio foi em 1993. E sabe por quê? Porque aqui não é o país do rock. Ligue o rádio e veja você mesmo. Só escutará o bom rock em rádios especializadas, em casas especializadas, nas para o público geral, não toca. O povão não entende rock. Vá aos camelôs em que se vendem os sucessos, verá forró, música sertaneja, funk, não encontrará o rock de que te falo. Aqui na minha cidade pululam casas de música sertaneja. Rock? Há uma especializada, vou sempre, é muito elitizada e nunca vi consumo de drogas. Aliás, nessas casas onde vou, nunca espero na fila – não moro em país socialista – nem pago milhares de doletas. Nessa eu não caio!

Sobre os maus exemplos no rock, você citou Bono Vox, mas não falou que ele foi indicado ao prêmio Nobel da paz por campanha de ajuda humanitária na África, por ajudar a mediar o conflito entre Irlanda e Irlanda do Norte e muito mais.

Janer, não pretendo que você venha a gostar de rock, longe de mim. Tudo bem não gostar, mas ninguém é mais ou menos ridículo porque escuta ou toca rock, independente da idade.

Veja que não estou indo contra você, mas com essa sua opinião, não posso concordar.