¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, janeiro 19, 2010
 
NA FRANÇA, NÃO SE PODE MAIS
CHAMAR MUÇULMANO DE MUÇULMANO



Essa agora! Na França não se pode mais chamar muçulmano de muçulmano. Nesta segunda-feira passada, ao referir-se à comemoração de um jogo de futebol pelos argelinos, Jean-Claude Gaudin, o prefeito de Marselha, comentou:

- Nós nos alegramos que os muçulmanos estejam felizes com o jogo, salvo que quando eles se reúnem entre 15 mil ou 20 mil na Canebière (rua do centro da cidade), só há a bandeira argelina e não a francesa, isto nos desagrada.

É espantoso ver como a imprensa francesa, sempre tão crítica em relação ao políticamente correto, se manifeste corretamente política quando estão em jogo os imigrantes. Gaudin foi imediatamente jogado no rol dos racistas. O pior é que o prefeito assume ter tomado uma atitude racista. Hoje, no Libération, se desculpa:

- Usei uma palavra infeliz, cometi um lapso, quando disse muçulmanos, em vez de falar de comunidade muçulmana, de franceses vindos da Argélia ou oriundos da diversidade da diversidade da imigração. Se fui inábil, se cometi um lapso, isto pode acontecer. Normalmente, não acontece. (...) Quanto àqueles que querem me associar ao racismo ou sei lá o quê, não creio que as comunidades em Marselha – e elas são muitas – tenham queixas depois de quinze anos de Gaudin.

Ou seja, o prefeito aderiu ligeirinho ao politicamente correto. Se dissesse argelinos, provavelmente também seria reprovado. Ou seja, não há mais muçulmanos na França. E sim “franceses oriundos da diversidade da imigração”. Como se todos os argelinos ou muçulmanos de Marselha tivessem nacionalidade francesa.

Na Alemanha, um imigrante turco já chamou um cidadão alemão de “alemão de merda” e, pelo que li, ficou tudo por isso mesmo. Não só o insultou, como também o espancou. Na França, ai de quem chamar muçulmano de muçulmano.

Verdade que, entre nós, a moda é bem mais antiga. Negro não é mais negro. É afrodescendente. Há alguns anos, em Brasília, um negro foi para a cadeia porque chamou outro negro... de negro. Em respeito aos novos tempos, até eu já nem chamo um negrão de negrão. Chamo de afrodescendentão.

Há alguns anos, ao comentar algo sobre favelas, disse Cristina, minha fiel faxineira: “Professor, não se pode mais dizer favela, agora é comunidade”. E quem disse, Cristina, que não se pode dizer favela? “A professora de meu filho”. O politicamente correto – leia-se stalinismo na linguagem – está invadindo o ensino e a imprensa do mundo todo.

Pelo jeito, a palavrinha comunidade está fazendo carreira também na França. Muçulmano já virou palavrão. Claro que um mulá em sua mesquita pode tranqüilamente falar em muçulmanos. Francês é que não pode. Mais um pouco e francês não poderá chamar árabe de árabe. É esperar para ver.