¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, janeiro 31, 2009
 
ALVÍSSARAS! VEJA
VIU A GUERRILHA



Deve fazer já uns 15 – ou mais – anos, que defino o MST como guerrilha católico-maoísta. Suas táticas de invasão de terras são de guerrilha. Pretendem abertamente derrotar a “burguesia” - eta palavrinha obsoleta: cheira a século XIX! -, tomar o poder e impor uma ditadura socialista. Têm como ídolos Lênin, Mao, Castro e Che Guevara. Têm escolas onde transformam crianças em futuros guerrilheiros, cheios de ódio ao sistema capitalista... que os sustenta. Como é de conhecimento público, quem financia em boa parte a guerrilha católico-maoísta é o governo. Isto é, somos nós com os impostos que pagamos. A outra parte do financiamento provém de instituições e ONGs estrangeiras. Se, por um lado, isto é problema que só diz respeito aos contribuintes lá deles, por outro lado é escandalosa intervenção na política interna de um outro país.

São guerrilheiros hábeis. Não andam pelos campos de metralhadoras ou fuzis em punho. Isto dá muito na vista e pode atrair a atenção do Exército. Ostentam facões, lanças, foices, pás, machados, porretes, enxadas e gadanhos, estes "legítimos" instrumentos de trabalho do trabalhador rural. (Como se hoje se fizesse agricultura com esses resquícios da Idade Média. Mas que servem não só para matar, mas principalmente para intimidar. Se um fazendeiro contrata seguranças para proteger seu pasto ou seu gado, os seguranças não são mais seguranças. São jagunços, pistoleiros. A imprensa toda engoliu a terminologia safada. Sem armas de guerra, a guerrilha católica-maoísta ganhou a guerra da mídia.

Estamos em 2009. A Veja finalmente parece ter descoberto que o MST é, de fato, uma guerrilha. Em reportagem na edição desta semana, publica cadernos que são verdadeiros manuais de guerrilha, ao melhor estilo de Marighella.

“A barbárie, embora não seja exatamente uma novidade na trajetória do MST, é um retrato muito atual do movimento, que festejou seu aniversário de 25 anos na semana passada. Suas ações recentes, repletas de explosão e fúria, já deixaram evidente que a organização não é mais o agrupamento romântico que invadia fazendas apenas para pressionar governos a repartir a terra. (...) Agora, documentos internos do MST, apreendidos por autoridades gaúchas nos últimos seis anos e obtidos por VEJA, afastam definitivamente a hipótese de a selvageria ser obra apenas daquele tipo de catarse que, às vezes, animaliza as turbas. O modo de agir do MST, muito parecido com o de grupos terroristas, é uma estratégia. A papelada – cadernos, agendas e textos esparsos que somam mais de 400 páginas – é uma mistura de diário e manual da guerrilha. Parece até uma versão rural, porém rudimentar, do texto O Manual do Guerrilheiro Urbano, escrito por Carlos Marighella e bússola para os grupos que combateram o regime militar (1964-1985). Os documentos explicam por que as ações criminosas do movimento seguem sempre um mesmo padrão”.

Longo é o caminho da imprensa até o entendimento. Foi necessária a apreensão de documentos escritos para entender que o MST é uma guerrilha. Não bastaram os assassinatos cometidos pelo MST, os discursos belicosos de Stedile, a invasão e destruição de fazendas produtivas, a demolição de laboratórios de pesquisa, o culto ostensivo aos maiores assassinos do século passado, as escolas de formação de guerrilheiros, a organização cada vez maior, com representações inclusive no Exterior, não bastou esta estrutura toda, para que a imprensa visse o que estava vendo.

Como faltava um atestado escrito de que o MST era guerrilha, nossos bravos jornalistas preferiram não arriscar tão grave acusação. Segundo Felinto Procópio dos Santos, um dos líderes do MST, mais conhecido como Mineirinho, “oitenta por cento dos nossos dirigentes antigos são ex-seminaristas, padres e o pessoal da Teologia da Libertação. A maioria veio da Igreja. Por isso, todos os nossos símbolos, mística, jeito de ser, de celebrar e de vida, é tudo religioso”.

O que Veja parece não ter visto, é a origem católica desta guerrilha.

sexta-feira, janeiro 30, 2009
 
VAMOS DEIXAR DE HIPOCRISIA:
ABORTO JÁ É LEGAL NO BRASIL



Discutia, outro dia, com uma jovem leitora, a respeito do aborto. Ela era contra. Bom, eu também sou. Independentemente dos casos de estupro, de fetos malformados, há muitas moças no país usando o aborto como anticoncepcional. É preciso ser muito irresponsável para submeter-se a um procedimento traumático, tanto física como emocionalmente, só por não ter tomado uma pílula ou usado um preservativo. Neste sentido, sou contra o aborto.

Mas sou a favor da descriminalização do aborto, e não é de hoje que afirmo isto. Da mesma forma, sou contra as drogas. Mas a favor da descriminalização das drogas. Se uma mulher se descuida, não vejo porque teria de destruir sua vida criando um filho que não quer e que, na maior parte das vezes, não tem condições de criar. Não participo dessa idéia da Igreja Católica – bastante recente do ponto de vista histórico – de que a tal de alma já está presente no embrião. Há precisamente um ano, eu comentava que dois campeões da Igreja, são Tomás e santo Agostinho, eram favoráveis ao aborto. Segundo o aquinata, só haveria aborto pecaminoso quando o feto tivesse alma humana o que só aconteceria depois de o feto ter uma forma humana reconhecível. Para o Doutor Angélico, como o chamam os católicos, a chegada da alma ao corpo só ocorre no 40º dia de gravidez. A posição de Aquino sobre o assunto foi aceita pela igreja no Concílio de Viena, em 1312.

Nunca é demais lembrar que foi apenas em pleno século XIX, em 1869 mais precisamente, que o Papa Pio IX declarou que o aborto constitui um pecado em qualquer situação e em qualquer momento que se realize. Se os católicos se pretendem contra o aborto, deveriam começar destituindo seus santos da condição de sapiência e santidade. Ou seja, faz apenas 140 anos que a Igreja decidiu que uma mulher não mais é dona de seu próprio corpo.

Falava da jovem leitora. Ela dizia que, no Brasil, aborto é crime. Será? Veja, em sua última edição, lembra um dado que não é novo: os especialistas estimam que chegue a um milhão o número de abortos, hoje, no Brasil. O cenário teria sido bem pior na década de 80, quando os abortos clandestinos podem ter chegado a 4 milhões por ano. A redução desse número se deveria ao aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais e à disseminação no país de políticas de planejamento familiar, logo estas duas medidas às quais à Igreja se opõe ferozmente.

Aborto é crime? Ora, quando se cometem um milhão de crimes ao ano – ou quatro milhões – há muito o crime deixou de ser crime. Aborto entrou na categoria dos usos e costumes. Neste país onde 250 mil criminosos, já condenados, vivem livres como passarinho, porque não há mais vagas nas prisões, onde colocar um milhão – ou quatro milhões – de mulheres, mais os milhares de profissionais que as assistiram durante o aborto? Se aborto ainda é considerado crime pela legislação, é crime de condenação impossível. E sem sanção não há crime.

Sempre foi possível neste país incrível, para quem tivesse algum dinheiro, encontrar médicos e clínicas confiáveis – ainda que clandestinas – para interromper a gravidez. O risco sempre foi quinhão dos pobres, que tinham de submeter-se a péssimas a açougueiros sem maiores habilitações. Ainda segundo a Veja, as complicações decorrentes de abortos mal feitos, sem condições de higiene ou segurança, constituíram, no ano passado, a quarta causa de morte materna, atingindo 200 mulheres.

Há ONGs fornecendo seringas a drogados, em nome de uma política de minimização de danos. Por que não fornecer então aborto seguro para preservar vidas?

Deixemos de hipocrisia. O aborto está há muito legalizado no país. Como a droga e o contrabando.

quinta-feira, janeiro 29, 2009
 
HOLOCAUSTO DE JUDEUS
E HOLOCAUSTOS OUTROS



Costumo afirmar que padre não briga com padre. Mas o Bento XVI andou usando de mão inábil. Revogou, no sábado passado, a excomunhão sob a qual estavam submetidos há mais de vinte anos os bispos da Fraternidade Sacerdotal San Pio X, ou bispos lefebvrianos. O documento ressalta que a remoção do caráter de excomungados é uma iniciativa de Bento XVI para "recompor a ruptura com a fraternidade", em direção a uma "completa reconciliação."

Bento só não contava com a reação dos judeus. Ontem ainda, segundo o Jerusalem Post, o Rabinato de Israel cortou todos os seus laços com a Santa Sé de forma indefinida em protesto pela decisão do papa. Pois revogava a excomunhão de um bispo que nega o Holocausto.

Em uma carta enviada à Santa Sé por seu diretor geral, Oded Weiner, o Rabinato comunica sua indignação pela reabilitação do bispo britânico Richard Williamson e suspende um encontro entre judeus e cristãos programado para o início de março. "Sem uma desculpa pública será difícil continuar com este diálogo", afirma Weiner. O encontro devia acontecer entre os dias 2 e 4 de março em Roma entre o Rabinato e a Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo, presidida pelo cardeal Walter Casper.

O que o Rabinato não entendeu é que o bispo Williamson não foi excomungado por suas opiniões sobre o Holocausto. Coube a João Paulo II excluí-lo da comunhão dos fiéis, pelo fato de a Fraternidade Sacerdotal San Pio X, grupo fundado pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre, se opor ao reformismo das medidas aprovadas após o Concílio Vaticano II, como a autorização da celebração das missas em diferentes idiomas, e não só o latim.

Sem ter mandato para tanto, Lefebvre ordenou quatro bispos, entre eles Richard Williamson, que foram formalmente submetidos à excomunhão latae setentiae pela Congregação para os Bispos, no dia 1° de julho de 1988. Ou seja, nada a ver com a negação do Holocausto.

Negar o Holocausto já traz em si sua punição, é atestado de indigência mental. O que se pode discutir é o número de judeus mortos geralmente admitidos, seis milhões de cadáveres. Ora, ninguém consegue contar seis milhões de cadáveres, particularmente se foram incinerados. Pessoalmente, não tenho como dogma essa cifra.

Em suma, Sua Santidade meteu-se em um imbróglio bem mais complicado com Israel que o provocado por Tarso Genro com a Itália. Negar o holocausto praticado pelos nazistas é insanidade.

Neste sentido, os judeus são bem mais honestos. Jamais negaram os holocaustos que cometeram para a construção de Israel. Estão todos atestados na Bíblia e nenhum rabino os colocaria em dúvida.

quarta-feira, janeiro 28, 2009
 
LEITOR PROTESTA CONTRA MEUS
MOMENTOS SUBLIMES DA BÍBLIA



Ao contrário da Lia, que diz adorar ler os “momentos sublimes da Bíblia”, Há quem pareça não estar gostando muito. “Porque você não publica os ensinamentos de Cristo nos teus "momentos sublimes da Bíblia"? O sermão da montanha e as coisas que ele ensinou durante sua vida?” – pergunta Rodrigo. O que lembra minha falecida mãe, preocupada com a segurança da cria, naqueles idos de 64: “Por que não escreves sobre flores, meu filho? Há tantas no Brasil”.

Ora, meu caro, o sermão da montanha é muito batido. Todo mundo o conhece e os padres seguidamente o repetem em suas homilias. Ao Novo Testamento, eu prefiro o Antigo. Ali se sente melhor Jeová e seu poder. Nele existem centenas de histórias do Povo Eleito, os poderes e os desmandos dos reis de então, o relato dos patriarcas, o erotismo da Sulamita e a sabedoria milenar do Kohelet. (Aliás, estes são os meus dois livros prediletos. Poemas transgressores, custo a entender como tenham sido incluídos no cânone bíblico. Canta Sulamita:

O meu amado meteu a sua mão pela fresta da porta, e o meu coração estremeceu por amor dele. Eu me levantei para abrir ao meu amado; e as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos gotejavam mirra sobre as aldravas da fechadura. Eu abri ao meu amado, mas ele já se tinha retirado e ido embora. A minha alma tinha desfalecido quando ele falara. Busquei-o, mas não o pude encontrar; chamei-o, porém ele não me respondeu.

Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me; tiraram-me o manto os guardas dos muros. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe digais que estou enferma de amor.


Enferma de amor! A expressão é soberba. E é bom lembrar que se a enferma Sulamita andava em busca de seu amado pelas ruas de Jerusalém, não era para casar, não!

Ou a sabedoria do Kohelet:

Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol? Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.
O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce.
O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos.
Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios correm, para ali continuam a correr.
Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir: os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol.


Sabedoria sofrida de um rei-filósofo, que reinou sobre Israel. Por outro lado, para edificação dos crentes, prefiro aqueles trechos mais ignorados da Bíblia. Aqueles momentos em que o bom Jeová mata e manda matar, massacra e manda massacrar homens, velhos, mulheres e crianças. Ou será a Bíblia uma espécie de canal de televisão, onde o leitor se detém sobre o que faz bem à sua pobre alminha e zapeia rápido sobre o que não lhe apraz? Não é assim que vejo o Livro. Penso que deve ser lido e relido em sua totalidade.

Em todo caso, para alegria do Rodrigo, qualquer hora comentarei as coisas que o Cristo ensinou durante sua vida. Talvez comente aquele trechinho em que ele chamou uma cananéia de cadela.

 
MENSAGEM DE LIA


Éééé, Janer, não é fácil. Mexer com uma mentira tão bem bolada e repetida duante séculos causa polêmicas mesmo. Tem gente que acha que foi o marqueteiro do Hitler que sacou essa de repetir uma mentira até ela se tormar verdade. Tsktsk, ele só copiou o que os papas vem fazendo com bastante competência, diga-se.

E não só os papas. Fiquei neles pra não viajar muito longe no tempo e na história. A doença já existia antes do cristianismo, com deuses ou Deus, singular ou plural, variações sobre o mesmo tema.

Mas discutir sobre uma divindade abstrata, mera ficção, é bom exercício intelectual. Sempre se aproveita alguma coisa. Instiga a busca a saber mais. Agora, discutir sobre coisas bem concretas, como a opressão sobre as mulheres e as formas como foram e são realizadas é que dá medo.

Quando leio os comentários no blog do Reinaldo Azevedo, sobre a questão do aborto, fico tentando imaginar que tipo de gente é aquela que tem a coragem de defender que não interessa se ela foi estuprada, ou se a gravidez vai levar à cova, não pode abortar e pronto. Isto vindo de mulheres e até ateus!

Sinceramente não vejo diferença entre eles (maioria) e os que jogam ácido nas mulheres porque estão indo à escola.

Mesmo o Reinaldo Azevedo, sendo um católico,tem o bom senso de admitir o aborto em casos de estupro e risco de morte para as mulheres. Não a torto e a direito. Mas tem comentaristas lá que, tenho pra mim, se não foram abusadores de alguma menina, até mesmo estupradores, devem ter fantasias a respeito e vontade de submeter mulheres. Só pode ser.

Posições tão fundamentalistas sobre quem é dono do corpo da mulher - corroboradas por mulheres! - me dão a certeza de que a ginecofobia deles não tem limites nem de burcas. Parece um ódio profundo contra mulheres; pra eles deve ser um castigo que elas merecem, quem mandou nascer mulher(talvez quizessem dizer 'rachadas').

Aquela gente não foi nascida. Só pode. Como podem olhar pras mães, irmãs, filhas e mulheres e dizer que não se importam se elas morrerem de uma gravidez tubária ou engravidarem de um monstro?

Que tipo de humanidade é aquela???

Nem precisa você pegar exemplos do Irã, do Afganistão...Tá muito mais perto, Janer, se bobear, moram em Higienópolis, hehe.

Adoro ler os 'momentos sublimes da Bíblia'.

Att.

Lia

terça-feira, janeiro 27, 2009
 
EVO MORALES
PARTE BOLÍVIA
EM 37 PAÍSES



Se há algo que não entendo em um país são diferentes justiças para diferentes grupos de cidadãos. No Brasil, temos a justiça que nos foi legada pelos legisladores da nação... e mais umas quatro ou cinco. Deputados e ministros têm foros privilegiados. Índios podem matar seus filhos, enterrá-los vivos, podem estuprar e espancar suas mulheres, podem interditar estradas, invadir prédios e fazer reféns. Negro, quando disputa uma vaga na universidade, tem mais direitos que um branco. Os sem-terra também podem interditar estradas, invadir prédios fazendas, fazer reféns e destruir laboratórios de pesquisa. Ou seja, o tecido jurídico do Brasil está completamente dilacerado.

Pelo jeito, estamos fazendo escola. Na Europa, já se começa a falar em tribunais muçulmanos para julgar muçulmanos. Em junho do ano passado, um tribunal na cidade de Lille, no norte da França, anulou a união de dois muçulmanos, porque o marido disse que sua esposa não era a virgem que alegava ser. O caso chocou o país, fundamentalmente laico, onde não se admite que a religião interfira na vida pública.

Ainda em 2008, Rowan Williams, arcebispo de Canterbury provocou alvoroço no Reino Unido ao sugerir que a adoção de elementos da lei Shariah islâmica no Reino Unido era “inevitável” para a promoção da coesão social. Os muçulmanos, disse o arcebispo, devem poder escolher que suas disputas matrimoniais ou financeiras sejam resolvidas em tribunais da Shariah, que lida com os assuntos da lei islâmica. Na Suécia, já existem tendências. Mais um pouco, e veremos mulheres infiéis ou meninas que tiveram relações antes do casamento sendo lapidadas em Piccadilly Circus ou no Kungsträdgården, em Estocolmo. E se um sueco ou britânico quiser matar a mulher e permanecer livre como um passarinho, bastará que se converta ao Islã

Evo Morales, o presidente da Bolívia, talvez contaminado pelos usos e costumes do vizinho incrível, ousou voar mais alto. Domingo passado, os bolivianos aprovaram ontem uma nova Constituição, impulsionada por Morales. Segundo o disposto na nova Carta os 36 "povos originários" – leia-se populações indígenas - passam a dispor de uma quota obrigatória em todos os níveis de eleição, a ter propriedade exclusiva dos recursos florestais e direitos sobre a terra e os recursos hídricos. Até aí, vá lá. Se bem que resta no ar a pergunta sobre se os indígenas teriam quadros intelectualmente preparados em número suficiente para o preenchimento dessas cotas obrigatórias.

Mas o insólito no novo documento é a instituição da equivalência entre a justiça tradicional indígena e a justiça ordinária do país, autorizando tribos a julgarem e punirem suspeitos de crimes segundo os seus costumes tradicionais, e não de acordo com os preceitos jurídicos herdados da colonização espanhola. Se ainda sei contar, teremos então 37 sistemas jurídicos diferentes. 36 das tribos bolivianas, mais um do
“invasor” espanhol. Não sei se Evo se deu conta, mas, a meu ver, partiu a Bolívia em 37 pedaços.

Poderá um país viver em harmonia com 37 justiças? É hora de relembrar o eterno Eça de Queirós que, em 1890, já escrevia: “Haverá talvez Chiles ricos e haverá certamente Nicaráguas grotescos. A América do Sul ficará toda coberta com os cacos dum grande Império!"

segunda-feira, janeiro 26, 2009
 
VALENTES TALEBAN
DEFORMAM ROSTOS
DE UNIVERSITÁRIAS



Alguém ainda lembra da guerra do Afeganistão? Não falo da penúltima, aquela travada contra a Rússia, em 1979. Começou no mesmo ano em que o aiatolá Khomeiny entrava no Irã a ferro e fogo, com seus pasdarans metralhando bares e boates, estes antros ocidentalizados do Grande Satã. Uma conterrânea minha, de Santana do Livramento, estava lá nesse dia, fazendo dança de ventre. Não me perguntem porque uma santanense fazia dança de ventre em Teerã. Santanenses têm desses ímpetos. Bueno, teve de correr para a embaixada brasileira, de chador, fio dental e passaporte na mão.

O conflito ocorreu entre tropas soviéticas, que apoiavam o governo marxista do Afeganistão e os muhajidin afegãos que, armados pelos Estados Unidos, tentavam derrubar o regime comunista no país. Dez anos depois, em 1989, os russos acharam melhor voltar para casa. Há historiadores que consideram terem sido os altos cultos econômicos e militares da guerra que contribuíram para o colapso da União Soviética, dois anos depois.

Falo da última guerra no Afeganistão. Após a saída dos russos, criou-se um vácuo de poder, que foi assumido pelos taleban – talib, no singular – milícia sunita da etnia dos pashtuns, que instauraram uma república teocrática muçulmana, com tudo que isso significa em matéria de opressão para as mulheres. Aconteceu então o 11 de Setembro, cujo mentor, o saudita Bin Laden, teria suas bases de treinamento no Afeganistão. Antes mesmo da explosão das torres gêmeas, os EUA já pediam aos taleban a expatriação de Bin Laden, que, ironicamente era parceiro dos aliados afegãos dos americanos na luta contra os russos.

Com o atentado ao World Trade Center, em outubro do mesmo anos, as tropas americanas invadem o Afeganistão e expulsam os taleban do poder. Apesar de a maioria dos terroristas do 11 de Setembro serem sauditas, liderados por um terrorista saudita, Bush aproveitou a azo e invadiu também o Iraque. É bem possível que este seu gesto tenha eleito Barack Obama. O grande cabo eleitoral de Obama, a meu ver, foi George Bush. McCain poderia ter as simpatias do eleitorado americano, mas não foi possível carregar Bush nas costas.

Mas não era disto que pretendia falar. Queria, antes de entrar no assunto, relembrar alguns fatos que não permanecem muito tempo nesta nossa memória RAM dos dias que correm. Basta desligar a mente, e lá se foi a memória toda pro espaço. Mas o jornalista se previne passando alguns dados para o disco rígido. E o meu tem muito espaço. O que mais me marcou nesta segunda guerra do Afeganistão foi a burka, que muito jornalista até hoje confunde com o chador iraniano ou o hijab e o nikab árabes. São véus bem distintos.

A burka surgiu nos jornais com a segunda guerra do Afeganistão. É uma espécie de gaiola que cobre todo o rosto, a mulher só conseguindo ver atrás de uma tela quadriculada. O rosto permanece completamente oculto. Chador é outra coisa. Para começar, é iraniano e não árabe. Cobre o corpo e os cabelos da mulher, mas não o rosto. O hijab árabe também não cobre o rosto. O nikab cobre o rosto e só deixa os olhos à mostra.

Falava de meu disco rígido. Não sei se comporta dez megabytes de memória. Mas certas imagens dos jornais eu as mantenho nítidas. Numa página, os bravos soldados americanos, verdadeiros arsenais ambulantes. Na outra, mulheres, com dentaduras magníficas, sorrisos encantadores, rostos livres ao vento. A civilização ocidental vencia. As muçulmanas podiam agora exibir toda sua beleza. As reportagens se tornaram lugares-comuns atrozes: soldados cheios de armas, mulheres cheias de dentes.

Leiamos então a Folha de São Paulo de hoje. Relata Dexter Filkins, do New York Times:

PARA ESTUDAR, JOVENS AFEGÃS DESAFIAM ATAQUES DE ÁCIDO

CANDAHAR, Afeganistão - Numa manhã recente, Shamsia Husseini e sua irmã caminhavam à escola local para meninas quando um homem de motocicleta parou ao lado delas e perguntou: "Vocês estão indo à escola?"

Então ele arrancou a burca de Shamsia de sua cabeça e borrifou seu rosto com ácido. Hoje as pálpebras e o lado esquerdo do rosto de Shamsia são recobertos por cicatrizes irregulares e descoloridas. Sua vista freqüentemente se anuvia, causando dificuldade para ler.


Tenho muitos outros desses casos em minha memória, particularmente no Egito, na Argélia e na Tunísia. Mas pelo o crime não era a freqüência à universidade, e sim o fato de andar seu véu. Os bravos machos muçulmanos, não suportando a visão de uma cabeça sem véus, jogavam ácido no rosto das hereges. No Afeganistão, o caso é mais grave. O crime é querer instruir-se, adquirir uma profissão. Educação é privilégio de quem tem colhões. Quem não os tiver, que permaneça em casa, inútil e analfabeta. Mas, ao que tudo indica, as afegãs não estão pensando render-se aos brutos. Continua Filkins:

Se o ataque com ácido a Shamsia e 14 outras mulheres - alunas e professoras - visava apavorar as meninas e levá-las a permanecer em casa, parece ter fracassado em seus propósitos. Hoje quase todas as meninas feridas estão de volta à escola Mirwais para Meninas, incluindo Shamsia, cujo rosto ficou tão gravemente queimado que ela precisou ser enviada ao exterior para ser tratada. Algo que talvez seja ainda mais espantoso é que quase todas as outras alunas da comunidade, profundamente conservadora, também retornaram às aulas - cerca de 1.300 ao todo.

"Meus pais me disseram para continuar vindo à escola, mesmo que me matem", disse Shamsia, 17. Como quase todas as mulheres adultas dessa área, sua mãe é analfabeta. "Quem me fez isto não quer que as mulheres tenham instrução. Quer que sejamos burras."


O pior ataque às meninas foi em 12 de novembro passado, quando três duplas de homens em motocicletas começaram a circular em volta da escola. Eles atacaram 11 meninas e quatro professoras; seis foram hospitalizadas. O caso mais grave foi o de Shamsia.

Valentes, estes senhores, os taleban. Os muçulmanos, costumo afirmar, padecem de ginecofobia. São muito machos para se explodirem em lugares públicos e matarem inocentes. Reagem como cachorro covarde, com o rabo entre as pernas, ao ver um rosto feminino nu ou uma mulher tentando educar-se e adquirir uma profissão.

domingo, janeiro 25, 2009
 
EL RATÓN, TOURO QUE
PENSA, É UM PERIGO



Tendo vivido na Espanha – e para lá volto quase todos os anos – nunca assisti a uma tourada. Para começar, por meu asco às multidões. Continuando, como em todos esses grandes espetáculos, o espectador está sempre longe do que está acontecendo. Só com binóculos para se ver o que de fato acontece. Mesmo assim, não consegui escapar de touradas. No verão espanhol, em qualquer bar que você esteja, a las cinco en punto de la tarde, alguma televisão estará transmitindo uma tourada. Assim sendo, acabei entendendo um pouco do assunto.

Tourada é algo complexo, não compreensível a qualquer turista. Há pelo menos três personagens na lídia, o picador, o banderillero e o herói da festa, o toureiro. Mais outros dois, o cavalo do picador e o touro, é claro. O picador é quem dá início ao massacre. Está montado em um cavalo, blindado por cotas de malha, e com uma venda nos olhos. A venda é para não se assustar com a investida do touro. Ou seja, o cavalo anda às cegas. O picador tem uma lança – a pica – com a qual penetra na cerviz do animal. Uma vez picado, o touro não consegue mais erguer a cabeça.

Feito isto, entram os banderilleros. São aqueles valentes que cravam quatro lancetas no lombo do animal já debilitado. Ficam balançando enquanto o touro corre e servem para irritá-lo. Quando ele está reduzido a um caco, entra o herói da festa, com seu “traje de luces”, todo bordado em ouro. Se você assistiu alguma tourada na televisão, deverá ter visto a nonchalance com que o toureiro dá as costas ao touro, e se afasta serenamente sem sequer olhar para trás. É truque. O touro, como todos os herbívoros, tem um olho para cada lado. À sua frente, há um ponto cego, onde ele não vê nada, e é este ponto cego que o herói aproveita para humilhar o touro.

Mesmo assim, debilitado, o touro reage. Nesta última temporada em Madri, vi foto espantosa em um jornal. Um touro acertou, com precisão inesperada, o ânus de um banderillero. Levantou-o nas aspas e fez um rasgo de 18 centímetros. Não sei se o banderillero morreu, não acompanhei a notícia. Mas aquele foi certamente o dia do touro.

Uma das coisas que me aprazem na vida é conversar com barbeiros. Bueno, certa vez, a las cinco en punto de la tarde, entrei em uma peluqueria, na calle Echegaray, centro de Madri. Na televisão, uma corrida. O touro começou estripando o cavalo do picador, apesar de sua cota de malha. Entraram os banderilleros, o touro enfiou as aspas na coxa de um deles e o jogou para o alto. Reuniu-se então a Presidência da tourada e decidiram devolvê-lo para o brete, por ser um touro manso. Chamaram quatro vacas que o conduziram de volta às coxias.

- Como touro manso? – perguntei a meu Fígaro.
- Bueno, no es que se pueda afagar como a un gato. Explicou-me melhor. Touro manso é aquele que está familiarizado com o ser humano. O toureiro gosta mesmo é do touro burro. É aquele que, quando sente a pica na cerviz, investe contra a pica e a crava mais fundo no próprio lombo. O touro manso é inteligente. Mal sente a pica, recua. O toureiro já se põe em alerta.

Tourada é algo complexo, dizia. Há dicionários de tauromaquia e é preciso ser um pouco erudito para entender uma tourada. Um dos passes se chama veronica. O toureiro se ajoelha, de costas para o animal, balança a capa e deixa que a besta venha. Bom, pela televisão, assisti a um passe desses. Ocorreu que o herói, naturalmente preocupado com o que lhe vinha pelas costas, olhou para trás. Vaia total da platéia: Cagóóón!

Tudo isto, para saudar El Ratón, a meu ver um touro manso. Leio no El País de hoje:

Ratón, la res más cotizada de los encierros, agiganta su fama a golpe de cornadas y sangre

"Lo feliz que me ha hecho este animal no lo cambio por nada. No tiene precio", afirma orgulloso su dueño


El Ratón, um touro de oito anos, ganhou lenda de assassino nas corridas de rua em Valência. Já matou um e feriu mais de trinta com cornadas. Tornou-se o herói das festas, ao invés do toureiro. Está enchendo arenas e seus seguidores acodem a todos os vilarejos em que vai. Na Internet, são contadas suas façanhas, de forma por vez exageradas.

El Ratón se tornou celebridade dos bous al carrer, que é como os catalães decidiram chamar as touradas. Tem muitos seguidores, mas também um grande número de detratores. Há quem louve sua valentia, sua bravura e inteligência. Outros o caluniam como covarde, touro que se aproveita de toureiros inexperientes e que os corneia à traição. Enfim, el Ratón não deixa a ninguém indiferente. Segundo Gregorio de Jesús, ex-matador que se dedicou à criação de gado, “es ágil, inteligente, rápido. Muy alegre. No es bruto, no es como los demás toros que actúan por instinto y chocan contra todo. Éste piensa, analiza y después ataca".

Um touro que pensa é um perigo. Ao mesmo tempo, uma atração. Gregório cobra seis mil euros por cada apresentação de el Ratón, quando um touro de aluguel não custa mais que mil euros. El Ratón se limita a aparecer umas dez vezes por temporada, em Aragón, Valencia, Cataluña y Navarra, comunidades nas quais o regulamento não obriga a sacrificar as reses após serem toureadas.

Cá entre nós, um dia bem que pode ser do touro.

sábado, janeiro 24, 2009
 
MENSAGEM DO VANDERLEI


Meu caro, concordo integralmente com tua posição sobre Mariana. Eu não defenderia a liberação da eutanásia, pois vivemos num país incrível, como você diz, mas desejar que a pessoa sobreviva sem mãos e sem pernas, chega às raias do sadismo. Sou cego, e ao contrário do discurso conformista, que nos é empurrado a machado, não acho exatamente uma coisa boa não enxergar. Se tivesse meus movimentos paralisados, reivindicaria a pena de morte para mim com urgência, porque simplesmente viver não valeria a pena.

Vanderlei Vazelesk.

 
RIP! O BOM DEUS
LEVOU O RESTO



Mariana Bridi morreu nesta madrugada. Os crentes que me desculpem, mas a notícia me conforta. Difícil conceber aquela menina linda sem pés nem mãos. Requiescat in pace, Mariana.

 
INFELIZ PAÍS ESTE NOSSO


Cláudia Costin é moça que tem costas quentes. Sai governo, entra governo, ela sempre está ocupando alguma sinecura. Hoje, é secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro. Começa sua gestão oferecendo aos professores uma cesta básica de livros. A cada três meses, os 36 mil docentes da prefeitura receberão dois livros. Um título será indicado pela secretaria. O outro, escolhido pelos docentes em votação pela internet. Cláudia também quer fazer das escolas municipais pontos de acesso ao livro.

Pouca vergonha! Professsores lendo dois livros a cada três meses. Dois livros é o que qualquer pessoa que queira entender o mundo deveria ler por semana. Os títulos oferecidos deverão sair dos lançamentos de ficção. Ensaios, ni pensar! Pode queimar as sinapses dos professorinhos. "Queremos que os professores leiam por prazer", diz Cláudia. Diretores foram convocados a criar clubes de leitura, onde docentes poderão trocar impressões.

Ora, isso de querer que alguém leia por prazer não existe. Ou a pessoa tem prazer em ler, ou não tem. Clubes de leitura não levam ninguém a ler. Lê quem gosta de ler. Quem não gosta não lê. Conheci professores universitários que não tinham um único livro em suas casas. Conheço jornalistas que não têm biblioteca. Dois livros a cada três meses dá oito livros por ano. É mais ou menos o que leio por mês. Isso que estou longe do magistério. Professor que lê apenas oito livros por ano deveria buscar outra profissão. Taxista, quem sabe. E olhe lá! Um de meus taxistas prediletos é versado em Kant e Hegel. Mal entro no táxi, ele fica se coçando para começar um papo sobre filosofia. Se falo com ele sobre o imperativo categórico ou o espírito da história, ele me responde com competência. Não sei quantos professores universitários poderiam conversar comigo no mesmo nível.

Tendo conhecido de perto estes senhores, os professores universitários, penso que dona Cláudia deveria pensar em uma proposta simplinha. Talvez começar com Paulo Coelho, Bruna Surfistinha, talvez Lya Luft, quem sabe José Sarney. Em meus dias de universidade, minhas aluninhas gostavam muito de Graciliano Ramos e Clarice Lispector. Porque seus livros são fininhos. Livro grosso, não é qualquer aluno que gosta de ler. Pelo jeito, nem mesmo professor.

Seguidamente vemos na imprensa projetos de incentivo à leitura. São projetos safados. Não pretendem incentivar a leitura. Mas levar, isto sim, os jovens à compra das nulidades literárias nacionais. Até entendo que se procure levar os jovens à leitura. Mas professores – logo estes senhores que têm obrigação de ler – me parece totalmente despropositado.

Infeliz país, o que tem de induzir seus professores a ler.

sexta-feira, janeiro 23, 2009
 
TENDE PIEDADE, Ó SENHOR!
APROVEITA E LEVA O RESTO



Acabo de ler notícia sobre a modelo capixaba Mariana Bridi, 20 anos, que teve as mãos e os pés amputados por causa de uma infecção urinária, que evoluiu para infecção generalizada. Vejo a foto da moça, exuberante, plena de vida e beleza. Leio também que teve uma piora no estado de saúde. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o quadro da jovem, que era considerado grave até ontem, passou a ser gravíssimo. Mariana foi submetida ainda a uma cirurgia para a retirada de parte do estômago.




Sob a notícia, comentários de leitores:

“Gente , ela não morreu !! Ainda há esperanças ! Não comentem nada como se ela já estivesse morrido ! pelo amor de Deus !”

“Que Deus esteja com ela e seus familiares. Força e Fé a todos vocês”.

“Estou fortemente chocada mas para Deus nada é impossível Deus vai te curar em nome de Jesus”.

“Por mais que possa doer na família e nela mesmo, temos uma única certeza, nada acontece sem que Deus permita, o que quer que aconteça, Deus estará junto dela. Muita luz e amor pra Mariana e família”.

“Olha lhe desejo toda sorte do Mundo, e q Deus abençoe você que vai dar tudo certo em nome do Senhor Jesus Cristo e muita paz e fé para toda sua família, fique com Deus”.

Confesso que nunca li tanta cretinice. Que vai fazer essa moça, esse ser que só de olhar nos alegra a vida, sem pés nem mãos? De maravilha da natureza a um ser mutilado, do dia para a noite. E ainda há quem deposite esperanças no tal de deus que permitiu tal crime. Este senhor vai devolver-lhe pés e mãos? “Ainda há esperanças”, diz um panaca. Esperança de quê? De viver uma vida sem pés nem mãos? É preciso muito cinismo para invocar deus numa hora destas.

Não acredito em deus, especialmente num deus que prega tais peças. Mas, se acreditasse, oraria: “Poupa a Mariana desse tormento. Já que levaste os pés e as mãos, Senhor, manifesta tua piedade e leva o resto”.

quinta-feira, janeiro 22, 2009
 
SATANÁS DERRUBA
TETO DA RENASCER



Cultivo certos prazeres perversos. Um deles é assistir, nas madrugadas, os cultos das igrejas ditas neopentecostais. Aqueles templos repletos de crentes, com capacidade para quatro ou cinco mil pessoas, sem uma única cadeira vazia, me fascinam. Gosto de ver closes dos rostos dos fiéis. Milhares de pessoas, compungidas até as lágrimas, ouvindo o palavrório vazio de um gigolô das angústias humanas. Como pode? Não terá aquela gente toda algo melhor a fazer de suas noites? Fico perplexo. Assistir aqueles cultos pela televisão é uma forma de conhecer o Brasil sem sair de meu sofá.

Encontrei-me, outro dia, em um de meus restaurantes diletos, com um de meus bons interlocutores. Conversa vai, conversa vem, manifestei esta minha perplexidade. Coincidiu que ele administrava o aluguel de um imóvel da IURD – Igreja Universal do Reino de Deus – fundada em 1977 pelo infatigável pastor Edir Macedo, que antes deste ano da graça trabalhava como caixa de uma agência lotérica. Ele contou-me então o que eu não imaginava existir. O templo tem capacidade para 15 mil pessoas sentadas. E mais 35 mil em pé. Sob o altar, os santos pastores construíram um compartimento subterrâneo. A coleta dos dízimos cai diretamente do altar para os cofres desse compartimento. E de lá sai, sabe-se lá para onde, por um túnel. Tudo construído sem licença da prefeitura.

Em 2005 o deputado João Batista (PFL de São Paulo), que respondia como presidente da igreja, e mais seis pessoas foram detidas pela Polícia Federal com dez milhões de reais em dinheiro transportado em sete malas. O deputado disse que "o dinheiro é resultado de doações dos fiéis" e a IURD manteve a posição de que o dinheiro é fruto de doações.

Mais ainda. Contou-me meu interlocutor que ninguém assiste a um culto sem pagar nada. Se o crente foi lá apenas para orar ou ouvir o pastor, sem levar grana no bolso, seu nome é anotado como devedor. Sua dívida tem de ser paga no próximo culto. Ou você acha que a palavra de Deus é gratuita?

Ocorrem-me estas lembranças em função do desabamento do teto do templo maior da igreja Renascer em Cristo, fundada por um casal de notórios vigaristas, hoje cumprindo prisão nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Quis o bom Deus que os pastores fundadores da igreja, os sedizentes apóstolo Estevão e a bispa Sonia, permanecessem em segurança, em prisão domiciliar, na Flórida.

A igreja Renascer foi criada em um fundo de quintal em 1986. Hoje, tem mais de 1.200 templos espalhados pelo Brasil, Japão, Argentina e Uruguai. A fortuna amealhada pelo casal de apóstolos é avaliada, hoje, em 20 milhões de reais. Templo é dinheiro.

Em meio a isso, prefeitura, órgãos de fiscalização e a própria igreja se acusam mutuamente pelo desastre. O Contru – órgão da Prefeitura de São Paulo responsável pela fiscalização da segurança dos imóveis da cidade – atestou, em julho de 2007, que o prédio onde funcionava a sede da Igreja Renascer em Cristo, no Cambuci, estava "em condições aceitáveis de segurança". No último domingo, o telhado do templo desabou matando nove pessoas e ferindo outras 124.

O Contru informou, à época, que o templo estava irregular devido à falta de alvará, vencido em 2004. Após novas cobranças de documentos por parte do Contru, o pedido de renovação do alvará foi indeferido em outubro de 2007. Mesmo assim, nenhum órgão da prefeitura tomou providências para multar a igreja ou mesmo lacrar o prédio. Além do mais, a Renascer em Cristo contratou uma empresa sem registro no Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), a Etersul Coberturas, para executar a reforma no telhado de sua sede.

Enfim, esta discussão burocrática é o que menos interessa. Os pastores fundadores, o apóstolo Estevão e a bispa Sonia, hoje presos na Florida, fizeram uma aparição virtual a cinco mil fiéis, em templo emprestado por outros irmãos de vigarice, a Assembléia de Deus. Disse o apóstolo Estevão Hernandes:

"Nós vamos renascer das cinzas", disse ele, "Vamos esmagar com nossos pés sangrando a cabeça do gigante-satanás que fez aquele teto da Lins de Vasconcelos desabar", disse, referindo-se ao endereço do templo.

Descobriu-se, finalmente, o responsável pelo desastre, o gigante-satanás. Segundo a Folha de São Paulo, Hernandes comparou-se ao personagem bíblico Jó, a quem Deus permitiu que Satanás infligisse todos os sofrimentos para testar sua fé. "Também a casa de Jó caiu com seus filhos dentro", disse o apóstolo em um tom choroso, ao lado da bispa Sônia, toda coberta de preto. "Mas o sofrimento e a dor me glorificam".

Ou seja, o sofrimento e a dor dos crentes o glorificam, já que o apóstolo, protegido por uma confortável prisão nos Estados Unidos, não sofreu nada. Como de todo sofrimento sempre se pode tirar algum lucro, o bom pastor aproveitou o azo para acrescer alguma grana à seus vinte milhões de reais: "A imprensa que está aqui vai dizer que nós estamos pedindo uma doação especial. E estamos mesmo. Não é para mim, nem para a bispa, é para a glória de Deus. Venham aqui, à frente do altar, apresentar as suas doações. Porque a quem dá, Deus não permite que falte nada”.

Independentemente da doação dos fiéis, me parece que a Renascer deveria entrar com processo contra o gigante-satanás, único responsável pela queda do teto, por danos, perdas, lesões corporais e assassinato.

Tudo pela glória de Deus. Amém?

 
ONE DROP RULE
VOLTA A VIGER



O que mais espanta neste oba-oba-Obama é ler jornalistas que afirmam não mais existirem preconceitos raciais nos Estados Unidos, afinal um negro foi eleito. E aqui já começa o preconceito. Obama não é negro, é mulato.

Excesso de zelo da imprensa nossa. No censo de 2.000, quase sete milhões de norte-americanos, pela primeira vez, foram autorizados a identificar-se como integrantes de mais de uma raça. As categorias inter-raciais mais comuns citadas foram branco e negro, branco e asiático, branco e indígena americano ou nativo do Alasca e branco e "alguma outra raça". Os Estados Unidos deixaram de lado a one drop rule, pela qual um cidadão é considerado negro mesmo que tenha uma única gota de sangue negro em sua ascendência, e descobriram o mestiço.

Mas não a imprensa nacional. Para nossos jornalistas, deste país mestiço, Obama é negro. Não bastasse isto, Carlos Heitor Cony escreve hoje na Folha de São Paulo:

“Tampouco espero maravilhas curativas da gestão de Barack Obama. O mais importante já foi feito – e com brilho histórico: enterrou formalmente o preconceito racista que ainda prevalecia em algumas camadas da sociedade. Neste particular, os Estados Unidos merecem nota dez”.

Enterrou? Então sugiro ao imortal cronista viajar aos Estados Unidos e, ao preencher seu pedido de visto, definir-se como branco. Não vai dar. Segundo os critérios americanos, nem Cony, nem Fernando Henrique Cardoso, nem o tal de Lula da Silva, nem mesmo eu, somos brancos.

Pertencemos à exótica raça dos hispânicos. Como se brasileiro fosse hispânico. O que não é de espantar para quem pensa que na América Latina se fala o latim, como já disse o Dan Quayle. A eleição de Obama, no fundo, significa a instauração definitiva do preconceito. Sendo mulato, é definido como negro. A one drop rule, que parecia ter sido sepultada há nove anos, voltou a viger. E com força.

quarta-feira, janeiro 21, 2009
 
MUCHO ESTRUENDO Y POCAS NUECES


Pelo que leio na imprensa, só faltaram os magos. Ah! E também a estrela que os guiou ao berço do menino. Já não consigo ler jornais nestes dias, só dá Obama. Mas que realizações tem em seu currículo este senhor, que a mídia toda apresenta como um Messias, detentor da medicina para todos os males, não só dos Estados Unidos como também do mundo? Confesso que, pelo que tenho lido, não vi nada de excepcional em sua biografia. A não ser que tem suas origens na África. Mas isto não quer dizer nada.

A imprensa nacional tem dado até cadernos à eleição de Barack Obama. Redatores enchem lingüiça todos os dias, tornando monótona a leitura dos jornais. O novo ungido, em seu discurso de posse, evocou cristãos e muçulmanos, hinduístas e descrentes, citou o Iraque e o Afeganistão, mas não dirigiu uma palavrinha sequer ao quintal latino-americano. Por que então esse entusiasmo todo?

Aliás, a eleição de Obama só servirá para incentivar o racismo negro no Brasil. Se o presidente americano, sendo mulato, é saudado por toda a imprensa como negro, isso significa que mulato é coisa que não existe. Os mulatos brasileiros, a partir de agora, podem-se considerar raça extinta.

Seu discurso de posse foi redigido por um marqueteiro de 27 anos, Jon Favreau, extremamente talentoso em matéria de demagogia. É um repositório de bons propósitos. Daqueles dos quais o inferno está cheio. Discurso à parte, Obama promete fechar Guantánamo. Só tem um problema, a condição jurídica futura dos que lá estão presos. Então, fechar Guantánamo não será para já. Promete retirar as tropas americanas do Iraque. Mas se entrar numa guerra é fácil, retirar-se é que são elas. Que será então do Iraque, sem uma força estrangeira e coercitiva? Provavelmente se divida em três: um país xiita, outro sunita e mais um curdo. Todos em guerra entre si.

Isso sem falar em Gaza. Conseguirá o Messias impedir o Hamas de lançar foguetes sobre Israel? Conseguirá impedir Israel de fazer tábula rasa de Gaza? Posse é sempre festa. Amanhã começa o pior, o governo.

Os propósitos de Obama me lembram antiga piada. Um técnico britânico foi chamado ao Rio para resolver os problemas de trânsito. Estudou o tráfego durante várias semanas e chamou os jornalistas para uma conferência, onde pronunciaria seu veredicto. Do alto de um prédio carioca, olhou para a cidade e disse: “Deixem tudo como está. É o melhor que se pode fazer”.

De qualquer forma, quando um senador de 47 anos confia seu discurso de posse a um menino de 27, o mínimo que se pode deduzir é que o novo deus pouco ou nada tem a dizer a seus fiéis. Much ado about nothing, como diria Shakespeare. Ou, como traduzem os espanhóis, mucho estruendo y pocas nueces.

terça-feira, janeiro 20, 2009
 
A LUCIDEZ DO COUTINHO


JOÃO PEREIRA COUTINHO *

John McCain, presidente

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Mantenho a minha aposta no republicano porque as pesquisas não merecem confiança
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ALGUNS COLUNISTAS não têm vergonha na cara. Felizmente, sou um deles. Em dezembro de 2007, quando o mundo apostava em eleições presidenciais americanas entre Rudy Giuliani (republicano) e Hillary Clinton (democrata), eu olhei para a minha bola de cristal e disse, com certeza cósmica: McCain vencerá. Lembram? Escrevi aqui e recebi assobios de volta.

Muita água passou debaixo da ponte. McCain foi o candidato republicano. Mas as pesquisas atuais são esmagadoras para McCain. Sete pontos de desvantagem são sete pontos de desvantagem. E perder Estados-chave (como a Flórida ou a Virgínia) praticamente resolve a questão presidencial a favor de Barack Obama. E agora, Coutinho?

Agora, volto a olhar para a minha bola de cristal, e McCain continua vencendo. Os leitores não acreditam no colunista? O colunista vai tentar convencer os leitores.
Sim, qualquer jornal diz o óbvio: McCain falhou em dois momentos essenciais. Falhou na crise financeira e nos debates televisivos.

Na crise, McCain falhou na forma inicial como lidou com ela: ao suspender a campanha eleitoral e ao ameaçar não comparecer ao primeiro debate, o comportamento de McCain não foi entendido como politicamente responsável, mas como oportunista e errático. McCain começou a sangrar nesse preciso momento, quando ainda liderava nas pesquisas.
E os debates? Os debates não foram meigos para McCain. Substancialmente, McCain venceu os três: é o mais preparado em política externa e, economicamente falando, a América não se salva com mais Estado; salva-se com melhor Estado, ou seja, com uma administração que seja capaz de não interferir abusivamente no mercado em nome de uma agenda "social".

Mas Obama venceu porque televisão é imagem, e imagem é poder. Ele é jovem, retoricamente hábil e um crítico de Bush; McCain é velho, fisicamente limitado e injustamente colado a Bush.

Apesar de tudo, mantenho minha aposta em McCain. E mantenho minha aposta porque as pesquisas não merecem confiança. Os republicanos sempre se deram mal com elas. Em 1980, dez dias antes da eleição, Reagan (39%) perdia para Carter (47%). Dez dias depois, Reagan vencia Carter. Os analistas dizem que o caso só é explicável pela crise dos reféns americanos na embaixada de Teerã, que Carter não soube resolver. Verdade.

Mas existe um padrão nas pesquisas dos últimos 30 anos, que sempre foram tradicionalmente benevolentes para com os democratas. Será preciso relembrar as pesquisas de 2000, quando Al Gore vencia Bush?

Ou a vitória virtual de John Kerry sobre o mesmo Bush em 2004? Deu no que deu.
A juntar a tudo isso, Obama é negro. Eu sei que não é politicamente correto relembrar o fato. Mas conto uma história para sossegar os ânimos: em 1982, Tom Bradley era candidato a governador da Califórnia. Bradley liderava nas pesquisas com margem confortável. Bradley era negro. No dia da votação, Bradley perdia para George Deukmejian, o candidato branco.

Moral da história? Existe um racismo escondido que diz uma coisa para as pesquisas e outra para o boletim de voto. Os números atuais não refletem os cinco pontos (mínimo) que o "efeito Bradley" costuma roubar ao candidato negro.
E se os especialistas afirmam, com infundada certeza, que a América está menos racista do que em 1982, é necessário recordar um pormenor básico: desde então não houve uma oportunidade séria para testar esse otimismo. Como disse recentemente Edward Luce, colunista do "Financial Times", os políticos negros que são eleitos nos EUA representam apenas eleitorados igualmente afro-americanos. Jogar em casa não vale.

As pesquisas devem ser lidas com ceticismo. E se McCain, até dia 4/11, mostrar que é o líder mais preparado e experiente para levantar a economia americana sem um assalto abusivo ao bolso dos contribuintes; e se conseguir reconquistar o centro moderado sem alienar a falange direitista dos republicanos, o mundo inteiro que já elegeu Obama para a Casa Branca vai abrir a boca de espanto e horror.

* Folha de São Paulo, 21 de outubro de 2008

 
DEUS, SE EXISTE,
PUNE PANACAS



Em uma de suas obras mais metafísicas, A Peste, Camus discute o problema do mal no mundo. A peste se abate sobre Oran, durante meses os esforços para combatê-la se revelam inúteis. Tarrou, um ativista que militou na Europa, mais os médicos Rieux e Castel, o jesuíta Paneloux e também Grand, o empregado da prefeitura, reúnem suas forças para conjurar o mal. Pouco a pouco, Castel consegue descobrir o soro que faz a peste recuar. Para o padre Paneloux, a bondade divina não pode ser posta em questão. Se os homens estão em desgraça, é porque a mereceram. Para salvar sua fé, Paneloux acusa os homens:

"Este flagelo aparece pela primeira vez na história para golpear os inimigos de Deus. Faraó se opõe aos desejos eternos e a peste o faz cair de joelhos. Desde o começo de toda história, o flagelo de Deus derruba a seus pés os orgulhosos e os cegos. Meditem sobre isto e caiam de joelhos".

Paneloux faz uma longa exposição sobre os flagelos que acometeram os homens por vontade divina. Como o Cristo, ele aceita passivamente o Mal, sem mesmo se interrogar sobre as eventuais motivações da divindade. Se o Cristo, em um momento de sua agonia, deixa escapar o "lamma sabachtani", Paneloux morrerá sem uma só palavra nos lábios.

"Há muito tempo, os cristãos da Abissínia viam na peste um meio eficaz, de origem divina, de se obter a eternidade. Aqueles que não haviam sido atingidos se enrolavam nos lençóis dos pestíferos para terem a certeza da morte. Sem dúvida, este desejo furioso de saúde não é recomendável, pois denota uma deplorável precipitação, bem próxima do orgulho. Não se deve ser mais apressado do que Deus. Tudo o que pretende acelerar a ordem imutável, estabelecida de uma vez por todas, conduz à heresia. Mas este exemplo, pelo menos, traz sua lição. Para nossos espíritos mais clarividentes, faz luzir este brilho delicado de eternidade que jaz no fundo de todo sofrimento. Esta luz ilumina os caminhos crepusculares que conduzem à libertação. Ela manifesta a vontade divina que, sem falhar, transforma o mal em bem".

Submissão total. Não existissem homens como Rieux que, frente à peste, julga ser necessário "fazer o que é necessário", talvez não restasse na mítica Oran de Camus sobrevivente algum para contar sua história. O autor, que vê na doutrina do Cristo o assentimento total, a não-resistência ao Mal, considerava A Peste como seu livro mais anticristão.

Nem mesmo a agonia de uma criança abala a fé do padre:
"– Eu compreendo, murmurou Paneloux, isto é revoltante porque ultrapassa nossas medidas. Mas talvez se deva amar o que não conseguimos entender".

Estas reflexões me ocorrem a propósito do desabamento do templo da igreja Renascer, criada por dois vigaristas, a sedizente bispa Sônia Hernandes e o sedizente apóstolo Estevam Hernandes, hoje cumprindo cadeia nos Estados Unidos, por transportar dólares ilegalmente dentro de uma Bíblia. A bispa é autora de um achado teológico insólito: “Deus é uma coisa quentinha, gente!”

O casal fundou a Igreja Apostólica Renascer em Cristo em 1986. A estréia da nutricionista e dona de butique casada com o ex-gerente de marketing da Xerox no mundo da religião foi modesta: eles montaram um grupo de oração dentro da própria casa. Com o crescimento do grupo, eles transferiram as orações para o piso superior de uma pizzaria. Pouco tempo depois, se mudaram para o prédio da avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci (São Paulo), sede internacional da Renascer. Acusados de cometer os crimes de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e estelionato, Sônia e Hernandes são donos de uma fortuna estimada hoje em R$ 20 milhões. Templo é dinheiro.

A bispa Sônia, e seu marido, o apóstolo Estevam Hernandes, enviaram, dos Estados Unidos, onde estão em prisão domiciliar, uma nota de pesar pelo desabamento do teto da sede da igreja. "Foi uma grande fatalidade o que ocorreu. Não sabemos o motivo. Mas há de haver um propósito para tal sofrimento", afirma o casal.

Como pode o bom Deus matar nove pessoas e ferir cerca de cem outras que se prestavam a adorá-Lo? “Talvez se deva amar o que não conseguimos entender”, diria Paneloux. Por outro lado, os nove mortos estarão hoje no seio da deidade. Autênticos eram os cristãos da Abissínia, que se enrolavam nos lençóis dos pestíferos para terem a certeza da morte. Felizes são os nove. Os cem feridos são um pobres diabos, que não mereceram encontrar-se com o Senhor.

Certamente deve haver algum propósito para tal sofrimento. Se o tal de Deus existe, deve ser cioso de sua reputação. Vai ver que decidiu punir os panacas que acreditaram em dois vigaristas que pregavam em seu nome.

segunda-feira, janeiro 19, 2009
 
QUANDO JEITINHO
VIRA INDÚSTRIA


Quem tem 60 anos deverá lembrar desta história. Escrevo para minha geração, como relembrança, e para os mais jovens, que a desconhecem. Em 1961, Peter Kellemen, vigarista húngaro de alto bordo, escreveu um livrinho que definiu muito bem o Brasil e bem merecia uma reedição, Brasil para principiantes – venturas e desventuras de um brasileiro naturalizado. Foi publicado pela Civilização Brasileira, de Ênio Silveira. Como o livro há muito está esgotado – sem falar que foi proibido pelo regime militar - vou reproduzir boa parte do primeiro capítulo.


UM “JEITO” + UM AGRÔNOMO = VISTO CONSULAR

- Nome?
- Paulo Kennedy.
- Profissão?
- Médico.
- Idade?
- 25 anos.
- Recém-formado?
- Sim. Há oito meses.
- Pretende exercer a profissão no Brasil?
- Não sei... talvez com o tempo... não conheço a língua.
- Então, em lugar de médico, vamos colocar: agrônomo. Assim, posso fornecer o visto imediatamente. Sabe como são essas coisas, não? Quotas de profissões, instruções confidenciais do departamento de imigração, besteiras... sem importância. Em todo caso, assim ficará cem por cento dentro das normas legais.

O cônsul brasileiro falava um inglês claro e compreensível e sorria para mim como se fora um ginasiano que, acumpliciado com um amigo, acabasse de enganar o professor.
- Obrigado. Mas gostaria de evitar uma declaração falsa que futuramente viesse a incriminar-me. Não entendo nada de agronomia... posso me sair mal. Não saberei como explicar às autoridades... Para ser sincero, acho uma solução pouco recomendável.

Enquanto eu falava, pela minha cabeça desfilavam tôdas as experiências anteriores com funcionários graduados de diversos países e de vários governos, inclusive os de minha própria pátria. “Pois sim... êste homem está me provocando. Quer me instigar a fazer uma declaração falsa... quem sabe para quê? Quer observar minha reação...”
Redobrei meus esforços para enfrentar aquêle homem aparentemente tão sincero, mas, na realidade, um “agente provocador”.

Porém êle não me deu muita importância. Veio para bem perto de mim.
- Meu filho, êste negócio de agrônomo não vai ser problema. Assim que chegar, quando estiver no Brasil...
Parou. Percebi que procurava a palavra adequada. Falava um inglês carregado, mas fluente. Ficou pensando e depois de alguns instantes virou-se para o auxiliar:
- Castro! Como se diz em inglês “lá no Brasil você dá um jeito”?

Castro aparentava ter uns 50 ou 55 anos. Gordo, usava óculos grossos e era totalmente calvo. Virou-se para mim:
- Senhor Paulo, eu falo bem o inglês, mas prefiro o alemão. Posso mesmo considerar o alemão como a minha segunda língua materna, pois nasci no Sul do Brasil, onde predominou a colonização alemã. Meu pai era filho de alemães e freqüentei escolas onde parte dos exames era feita neste idioma. Mas “dar um jeito” não posso traduzir para o alemão... e tampouco para o inglês.

Bateu no meu ombro, levou-me para um sofá e sentou-se a meu lado.
- Escute com atenção. Vamos ver se consigo traduzir. Você é médico, não é?
- Sou.
- Vai declarar que é agrônomo?
- Vou.
- Acha que será uma declaração falsa ou, digamos, uma afirmação sem fundamento?
- Mais ou menos.
- Meu caro Paulo, não se trata disto, absolutamente. Apenas queremos dar um jeito para que você possa viajar sem mais delongas. Evitamos sòmente que perca seu tempo e possa embarcar logo. Seu visto ficará pronto à tarde.

Percebi então que não se tratava de provocação, mas ainda não sabia que acabara de falar com dois representantes de um povo onde as leis são reinterpretadas, onde regulamentos e instruções centrais do Govêrno já são decretados com um cálculo prévio de percentagem em que serão cumpridas, onde o povo é o grande filtro das leis e os funcionários, pequenos ou poderosos, criam sua própria jurisprudência. Ainda que esta jurisprudência não coincida com as leis originais, conta com a aprovação geral, se é ditada pelo bom senso.


Costumo citar Chesterton, quando se trata de conhecer um país: “Não se conhece uma catedral permanecendo dentro dela. É preciso vê-la de fora”. Kellemen foi o primeiro autor a ensinar-me o que era o Brasil. Estrangeiro, tinha a necessária distância para fazer um bom juízo do país. Em 61, eu tinha 14 anos. Devo tê-lo lido um pouco mais adiante, aos 16 ou 17. Comecei então a entender os bois com que lavrava.

O jeitinho, ao que tudo indica, de prática informal tornou-se instituição oficial. Leio na Folha de São Paulo de ontem, em reportagem de Vinícius Queiroz Galvão:

ESTRANGEIROS FAZEM AULA DE "JEITINHO" PARA SE ADAPTAR AO PAÍS

Treinamento ensina "expatriados" a lidar com a informalidade do brasileiro; pesquisa mostra que Brasil é o quarto pior país do mundo para adaptação


O repórter começa falando da moscovita Marina Nasedkina, 32, que não imaginava que a maior dificuldade que encontraria no país seria os brasileiros. "Na minha terra temos um estilo muito direto. No Brasil as pessoas têm ouvido de cristal." Marina explica: "É falar a verdade na cara. Ofendi e magoei os brasileiros sem saber. As pessoas diziam que eu era mal-educada, tive de mudar".

Para que outros estrangeiros entendam a malandragem e o "jeitinho brasileiro", uma consultora, formada e com mestrado em relações internacionais, dá aulas e treinamento para que esses "expatriados", como ela diz, aprendam a viver em São Paulo e consigam se adaptar ao Brasil e aos brasileiros.
(...)
"O primeiro problema é entendimento da informalidade. Isso é muito difícil para o estrangeiro entender", afirma Mariana Barros, 28. Com 600 "alunos" treinados nos últimos anos -cada um ao custo que varia de R$ 1.000 a R$ 10 mil-, a "professora" Mariana faz um intensivo de dois ou três dias de aulas de história, geografia e cultura brasileira.
.

Se Kellemen entendeu de cara o jeitinho, entendê-lo hoje virou comércio e custa caro. Exige professores com mestrado em relações internacionais. O que não deixa de ser uma sofisticada indústria do jeitinho.

 
COMUNISTAS DESCOBREM
UM HABITAT ADEQUADO



Do Paraná, Luís Bonow me encaminha uma notícia alvissareira, publicada nos estertores do ano passado:

Comunismo no museu:
VEREADORES APROVAM PROJETO


(O Globo, 27/12/2008).

O sonho do Partido Popular Socialista (PPS) de ter um espaço para contar a história da imprensa comunista no Brasil virou realidade. A Câmara dos Vereadores do Rio aprovou, semana passada, um projeto que cria o Museu da Imprensa Comunista. Ele será instalado num casarão da Gamboa comprado pelo Partido Comunista Brasileiro em 1950 e transformado em gráfica, onde eram impressos jornais, livros e outros materiais do movimento comunista.

Para restaurá-lo, a Fundação Astrojildo Pereira, com apoio da Prefeitura, fará campanha nacional. O objetivo é angariar recursos e buscar parcerias para a elaboração do projeto e revitalização do local.


Longa é a jornada de um imbecil até o entendimento. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, depois anos depois do desmoronamento da União Soviética, finalmente os comunossauros tupiniquins descobriram seu habitat adequado, o museu.

Bem que ilustres senhores como Carlos Niemeyer, Ariano Suassuna, Chico Buarque, Luis Fernando Verissimo, Aloísio Nunes Ferreira, Tarso Genro, Zé Dirceu, José Genoíno, Dilma Roussef et caterva já podiam ir doando seus corpos para serem mumificados e assim enriquecer o acervo.

Não gosto lá muito de museus, mas este eu visitaria com prazer.

domingo, janeiro 18, 2009
 
SOBRE FUTEBOL E ECONOMIA


Quando compro um jornal, jogo fora imediatamente dois cadernos, o de esportes e o de economia. O primeiro, porque esportes se reduziu a futebol no Brasil e detesto futebol. Dentro de trinta minutos, estarei batendo ponto em um simpático botequinho, onde vou limpar a serpentina aos sábados e domingos, antes de dedicar-me à bona-xira. Invariavelmente, todo santo sábado e domingo, lá reúne-se uma mesa onde há um único assunto, futebol. Eles são incapazes de falar de viagens, cinema, amizade, mulheres. Só futebol. Sempre procuro manter uns bons dez metros de distância dos fanáticos, para não ouvir besteiras.

Não que deteste o esporte em si, aliás o considero um esporte bonito e inteligente. O problema são as multidões e o fanatismo que gera. Jamais entrei em um estádio. Enfim, a bem da verdade, certa vez entrei em um, em construção, para fazer uma reportagem. Foi em janeiro de 1969, creio. Estava começando como repórter no Diário de Notícias, de Porto Alegre, e “seu” Olinto, o diretor de redação, me chamou:

- Janer, vai até o Gigante da Beira-Rio ver o andamento das obras.

Minha resposta quase custou-me o emprego:

- Certo, “seu” Olinto! De que time é mesmo esse estádio?

Perplexidade na redação. A sala era enorme, tínhamos de falar alto. Os redatores não acreditavam no que haviam ouvido. Do setor de esportes, voou pela redação uma pergunta indignada do editor:

- Tu não sabes a que time pertence o maior estádio particular do mundo?

Não sabia. Aliás, sabia até demais para minha erudição na área. Sabia pelo menos que o tal de Gigante tinha algo a ver com futebol. Essa foi a única vez que entrei em um estádio. Não por preconceito. Eu até que era bom no esporte, me lembro que certa vez fiz um gol. (Milagres acontecem! Meus colegas não conseguiam acreditar no que haviam visto). Ocorre que multidões me horrorizam, sejam quais forem. Se uma multidão vai para o sul, eu rumo ao norte. Pela mesma razão, jamais assisti a uma tourada. Os réveillons quase sempre me pegam nalguma capital européia. Em vez de comemorar na rua com a multidão, me refugio no quarto do hotel.

Quanto ao caderno de economia, eu o jogo fora por duas razões. Primeiro, nada entendo de economia. Já entendi o mistério da Santíssima Trindade, mas até hoje não consigo entender a oscilação das bolsas. Por que razões, quando um banco quebra nos Estados Unidos, o índice Bovespa cai? Por que quando uma sumidade americana faz um discurso, a Bolsa sobe? Como é que se fecham grandes negócios com simples gestos de mão? Mistério profundo. Segundo, por mais que eu leia sobre economia, isso não vai afetar minha economia pessoal. Não sou grande investidor, não sou empresário, não sou administrador. Então, nada tenho a ver com tal caderno.

Meu consolo foi o que ouvi certa vez de um amigo, redator de economia da Folha de São Paulo:

- Nós redatores de economia, não entendemos nada de economia. Mas descobri outra coisa: os economistas também não entendem.

O que é óbvio. Se entendessem, uma crise financeira jamais surpreenderia alguém. Assim sendo, é com satisfação que leio, no El País de hoje, esta declaração de Jean Daniel, diretor de redação do francês Nouvel Observateur:

Hemos perdido los instrumentos de previsión; eso es lo más novedoso. No hay ciencia económica, no hay conocimiento analítico financiero: se han equivocado todos. Desde hace diez años se han equivocado todos. Hemos perdido los instrumentos de previsión y nos faltan paradigmas. Estoy rodeado de jóvenes economistas, muy seductores y muy simpáticos, pero si los reúno no saco nada en claro. Primero, porque no están de acuerdo entre ellos y cuando están de acuerdo no saben qué va a pasar. Levi-Strauss me lo ha dicho y lo he escrito: la ciencia es importante, todo el mundo se alegra de ello, pero nada es verdadero porque el mundo se ha vuelto imprevisible. Eso decía.

Bom saber que não sou só eu que não entende de economia.

sábado, janeiro 17, 2009
 
Momentos sublimes da Bíblia:
JEOVÁ MANDA MATAR
12 MIL HOMENS DE AI



Josué, 8:

1 Então disse o Senhor a Josué: Não temas, e não te espantes; toma contigo toda a gente de guerra, levanta-te, e sobe a Ai. Olha que te entreguei na tua mão o rei de Ai, o seu povo, a sua cidade e a sua terra. 2 Farás pois a Ai e a seu rei, como fizeste a Jericó e a seu rei; salvo que para vós tomareis os seus despojos, e o seu gado. Põe emboscadas à cidade, por detrás dela. 3 Então Josué levantou-se, com toda a gente de guerra, para subir contra Ai; e escolheu Josué trinta mil homens valorosos, e enviou-os de noite. 4 E deu-lhes ordem, dizendo: Ponde-vos de emboscada contra a cidade, por detrás dela; não vos distancieis muito da cidade, mas estai todos vós apercebidos. 5 Mas eu e todo o povo que está comigo nos aproximaremos da cidade; e quando eles nos saírem ao encontro, como dantes, fugiremos diante deles.

6 E eles sairão atrás de nós, até que os tenhamos afastado da cidade, pois dirão: Fogem diante de nós como dantes. Assim fugiremos diante deles; 7 e vós saireis da emboscada, e tomareis a cidade, porque o Senhor vosso Deus vo-la entregará nas mãos. 8 Logo que tiverdes tomado a cidade, pôr-lhe-eis fogo, fazendo conforme a palavra do Senhor; olhai que vo-lo tenho mandado. 9 Assim Josué os enviou, e eles se foram à emboscada, colocando-se entre Betel e Ai, ao ocidente de Ai; porém Josué passou aquela noite no meio do povo. 10 Levantando-se Josué de madrugada, passou o povo em revista; então subiu, com os anciãos de Israel, adiante do povo contra Ai. 11 Todos os homens armados que estavam com ele subiram e, aproximando-se pela frente da cidade, acamparam-se ao norte de Ai, havendo um vale entre eles e Ai. 12 Tomou também cerca de cinco mil homens, e pô-los de emboscada entre Betel e Ai, ao ocidente da cidade.

13 Assim dispuseram o povo, todo o arraial ao norte da cidade, e a sua emboscada ao ocidente da cidade. Marchou Josué aquela noite até o meio do vale. 14 Quando o rei de Ai viu isto, ele e todo o seu povo se apressaram, levantando-se de madrugada, e os homens da cidade saíram ao encontro de Israel ao combate, ao lugar determinado, defronte da planície; mas ele não sabia que se achava uma emboscada contra ele atrás da cidade. 15 Josué, pois, e todo o Israel fingiram-se feridos diante deles, e fugiram pelo caminho do deserto: 16 Portanto, todo o povo que estava na cidade foi convocado para os perseguir; e seguindo eles após Josué, afastaram-se da cidade.

17 Nem um só homem ficou em Ai, nem em Betel, que não saísse após Israel; assim deixaram a cidade aberta, e seguiram a Israel: 18 Então o Senhor disse a Josué: Estende para Ai a lança que tens na mão; porque eu ta entregarei. E Josué estendeu para a cidade a lança que estava na sua mão. 19 E, tendo ele estendido a mão, os que estavam de emboscada se levantaram apressadamente do seu lugar e, correndo, entraram na cidade, e a tomaram; e, apressando-se, puseram fogo à cidade. 20 Nisso, olhando os homens de Ai para trás, viram a fumaça da cidade, que subia ao céu, e não puderam fugir nem para uma parte nem para outra, porque o povo que fugia para o deserto se tornou contra eles. 21 E vendo Josué e todo o Israel que a emboscada tomara a cidade, e que a fumaça da cidade subia, voltaram e feriram os homens de Ai.

22 Também aqueles que estavam na cidade lhes saíram ao encontro, e assim os de Ai ficaram no meio dos israelitas, estando estes de uma e de outra parte; e feriram-nos, de sorte que não deixaram ficar nem escapar nenhum deles. 23 Mas ao rei de Ai tomaram vivo, e o trouxeram a Josué. 24 Quando os israelitas acabaram de matar todos os moradores de Ai no campo, no deserto para onde os tinham seguido, e havendo todos caído ao fio da espada até serem consumidos, então todo o Israel voltou para Ai e a feriu a fio de espada. 25 Ora, todos os que caíram naquele dia, assim homens como mulheres, foram doze mil, isto é, todos os de Ai. 26 Pois Josué não retirou a mão, que estendera com a lança, até destruir totalmente a todos os moradores de Ai.

27 Tão-somente os israelitas tomaram para si o gado e os despojos da cidade, conforme a palavra que o Senhor ordenara a Josué: 28 Queimou pois Josué a Ai, e a tornou num perpétuo montão de ruínas, como o é até o dia de hoje. 29 Ao rei de Ai enforcou num madeiro, deixando-o ali até a tarde. Ao pôr do sol, por ordem de Josué, tiraram do madeiro o cadáver, lançaram-no à porta da cidade e levantaram sobre ele um grande montão de pedras, que permanece até o dia de hoje.

sexta-feira, janeiro 16, 2009
 
EU, PROFETA


Em junho de 2004, em resposta a Luiz Mott, Secretário de Direitos Humanos do Grupo Gay da Bahia, Professor Titular de Antropologia, Universidade Federal da Bahia, eu escrevia, comentando o casamento entre homossexuais:

Mais um pouco e estarão exigindo fidelidade do parceiro. Muito em breve, teremos tédio conjugal e divórcio, males que antes não afetavam os homos. Em vez de fugir ao modelo que está se revelando inadequado ao mundo contemporâneo, os gays nele buscam proteção. Como se núpcias de véu e grinalda os redimissem de um hipotético pecado original. O que um dia foi transgressão e libertação, está virando instituição. Homossexualismo está perdendo a graça. Mais um pouco, os homos - da mesma forma que os negros - estarão exigindo cotas na universidade.

Parece que a idéia vingou. Um leitor me envia texto recente do Secretário de Direitos Humanos do Grupo Gay da Bahia:

Políticas afirmativas e cotas de reparação para os homossexuais

1. A concessão de cotas como estratégia governamental de ação afirmativa em favor dos afro-descendentes (20%), das mulheres (20%) e deficientes físicos (5%) já é lei na contratação de novos funcionários nos Ministérios da Justiça e Reforma Agrária, e em proporções específicas na seleção de alunos para o Itamaraty, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, etc. Trata-se portanto de uma tendência que deve se ampliar para outros setores, estados e com certeza, incluir outros segmentos discriminados. (...) Claro que medidas estruturais de longo alcance são igualmente imprescindíveis, permitindo que negros, mulheres, homossexuais, deficientes físicos, índios e demais minorias sociais tenham igualdade de acesso a todos os benefícios que hoje são privilégio da elite comanda pelo homens-brancos. E que políticas públicas afirmativas e legislação específica sejam implementadas no sentido de erradicar e punir o racismo, homofobia, machismo e demais preconceitos que impedem o acesso igual de todos à cidadania plena.

2. Diz a Constituição Federal que todos são iguais perante a lei. Ora, se as cotas e demais ações afirmativas visam corrigir as discriminações históricas contra os grupos socialmente mais vulneráveis, todos os grupos sociais vítimas de discriminação e que têm sua cidadania limitada devido a tais peculiaridades, devem ter igualitariamente os mesmos direitos a se beneficiar das reparações legais. Portanto, já que os homossexuais de ambos sexos constituem comprovadamente o segmento social mais discriminado na sociedade brasileira posto que diferentemente das demais minorias, os gays, travestis, transexuais e lésbicas sofrem gravíssimas violações de seus direitos dentro de casa, praticados pela própria família, ultrapassando em mais de 95% os homossexuais que devido à opressão heterossexista não ousam assumir e afirmar sua identidade sexual e estilo de vida diferenciado; já que o critério diferencial da implementação de ações afirmativas é exatamente o maior grau de apartação social que pesa sobre diferentes grupos sociais, nada mais justo e certo que os mais discriminados sejam os mais beneficiados, cabendo portanto aos homossexuais tratamento diferenciado pois são comprovadamente os mais vitimizados em nosso país. Aliás, a própria Constituição Federal garante o princípio de isonomia: a igualdade de todos perante a lei. Se as cotas foram legalizadas para os discriminados, que todos, inclusive os GLT tenham acessos igual a tais direitos.


Em suma, na hora do vestibular, se você quiser ganhar no tapetão, se não for negro basta dizer-se homossexual. Mesmo que não seja. O acesso à universidade sempre vale uma inocente mentirinha. Mas Mott já se previne contra fraudes:

3. A argumentação de que a implementação de cotas aos homossexuais abriria espaço para "falsos" homossexuais concorrerem a tais benefícios não é suficiente para descartar esta proposta afirmativa. Primeiramente, caberá aos verdadeiros gays, lésbicas e transgêneros se anteciparem na solicitação das cotas, o que redundará na maior visibilidade, reforço da auto-estima e afirmação de uma numerosa categoria social que faz da auto-negação, da clandestinidade, da mentira, seu estilo de vida. Do mesmo modo como deve funcionar com os afro-descendentes, o critério de seleção dos beneficiários das cotas deve ser a auto-identificação, e apenas em casos de dúvida, em comprovação documental no caso dos negros, a cor dos progenitores ou antepassados próximos, ou até mesmo, exame do dna nos casos mais polêmicos. No caso dos homoeróticos, a auto-identificacao como gay, lésbica ou transgênero deve ser suficiente para comprovar a orientação sexual. Porém, no caso de dúvida, provas documentais podem ser exigidas como já faz o INSS para comprovar que o/a homossexual vivia relação estável com alguém do mesmo sexo, recebendo o benefício correspondente. Não vamos deixar de pleitear direitos fundamentais sob o argumento menor que haverá fraudadores. Nestes casos, os grupos homossexuais organizados têm estrutura e criatividade para propor soluções afim de equacionar tais problemas. Neste sentido, o Conselho Nacional de Combate à Discriminação aprovou em sua primeira reunião, (18-12-2001), minha proposta de criação de um Conselho Nacional das Minorias Sexuais (nome e funções a serem discutidas), órgão que poderá, perfeitamente, estabelecer os critérios de comprovação da fidedignidade dos candidatos homossexuais e exclusão dos falsários.

Como provará esse órgão - sem trocadilhos - a condição de homossexual do vestibulando? Se sexualidade é algo íntimo, de modo geral praticado entre quatro paredes, sem testemunhas, como comprovar homossexualidade ante uma comissão? A meu ver, só um método seria eficiente: baixar as calças e mandar ver. Quanto ao Conselho Nacional das Minorias Sexuais, a idéia também é minha. Em junho de 2004, comentando o financiamento estatal das paradas gays, eu propunha a criação da Homobrás:

Não bastasse este obsceno saque, sacramentado por leis corporativistas, ocorreu em junho/2004, no centro de São Paulo o insólito em matéria de corrupção estatal. O centro da cidade foi tomado por uma parada gay, que vem se repetindo há sete anos. Que os gays façam paradas, até que se entende, embora particularmente me desagrade todo exibicionismo sexual nas ruas.

O difícil de entender é que a promoção tenha sido beneficiada pela Lei do Mecenato do Ministério da Cultura, captando 503 mil reais, de pessoas físicas e jurídicas, a título de incentivos fiscais. Já no ano passado, a Associação do Orgulho Gay, entidade promotora do evento, havia tungado do contribuinte R$ 441 mil. O governo ainda repassou R$ 43 mi do Fundo Nacional de Cultura para a realização da versão baiana da Parada Gay, realizada em semanas anteriores em Salvador.

"Não estamos repassando recursos para um movimento social, mas para um movimento cultural", justificou o ator e secretário de Identidade e Diversidade Cultural do ministério, Sérgio Mamberti. "O ministério trabalha com um conceito ampliado e moderno".

"Neste país incrível, homossexualismo é cultura. Mais ainda: virou questão de Estado. Mais um pouco e teremos a Homobrás. O homossexualismo é nosso. Do universo entre as nações, resplandece a do Brasil. Criamos o gay estatal".


Cala-te boca! Sem querer, virei profeta.

 
MINISTÉRIO DO PRAZER
FORNECE DILDOS E GEL



Que Oscar Niemeyer teça loas a Stalin, entende-se. Niemeyer sempre foi stalinista. Que Tarso Genro conceda asilo a um terrorista, ao arrepio do Itamaraty e do STF e mesmo de seu próprio ministério, também se entende. Tarso sempre foi comunista e está dando proteção aos companheiros de obscurantismo. Mais difíceis de se entender são as medidas do ministro José Gomes Temporão, da Saúde.

Entre as metas do ministério da Saúde para este ano está a distribuição de 1,2 bilhão de preservativos para Estados e municípios. O valor representa quase o triplo do que foi repassado no ano passado, e que já havia batido o recorde, com 406 milhões de unidades. De acordo com o ministério esta será a maior compra de preservativos já realizada no mundo.

A medida é discutível. Se preservativos são necessários para evitar doenças venéreas, gravidez e principalmente a AIDS, é de perguntar-se se cabe a um ministério fornecer à população medidas que deviam ser tomadas pelos interessados. Em um país em que o Estado não consegue garantir sequer a segurança de seus cidadãos, transferindo a cada um o ônus da própria proteção - grades, câmeras de vigilância e vigilantes – soa estranho ver um ministério se preocupando em garantir a todos sexo seguro. Constata-se mais preocupação com a sexualidade do cidadão do que com sua vida ou posses. A medida é discutível, dizia. Mas vá lá. Se previne gravidez e DSTs, não deixa de ter seu mérito.

Já mais difícil de entender é a distribuição de pênis de borracha e cartilha para tornar mais prazeroso o sexo anal. Os pênis de borracha teriam finalidade didática, para ensinar como se coloca um preservativo. Como se fosse necessário levar um dildo a uma sala de aula para ensinar tal prática. Enfim, como o material não é descartável, sempre poderá servir para tornar mais alegre a sofrida vida das professoras. Mas, se o problema é de ordem didática, bem que se poderia contratar um casal de atores pornôs, ou mesmo prostitutas, para ensinar direitinho como exercitar a prática deste ato extremamente complexo. O que, além do mais, expandiria o mercado de trabalho dos profissionais do sexo, medida muito oportuna nestes dias de crise.

Mas mais difícil de entender – senão impossível – é a compra de 15 milhões de sachês de gel lubrificante, geralmente empregados para a prática de sexo anal. Por um lado, se distribui camisinhas para evitar, entre outras doenças, a AIDS. Por outro, se estimula a prática que mais propicia a AIDS. O governo – isto é, o contribuinte, eu, você, nós todos – vai gastar 40 milhões de reais na brincadeira. Só para tornar mais confortável o sexo anal.

Quem me acompanha, sabe que nada tenho contra o homossexualismo. Sou a favor de toda e qualquer prática sexual, desde que não implique constrangimento nem violência. Daí a contribuir para lubrificar pênis alheios, vai uma longa distância. Temos não propriamente um ministério da Saúde. Mas um ministério do Prazer. O que me parece luxo demais para um país com problemas tão graves como o nosso. Mais um pouco, e o ministro Temporão estará financiando o atendimento das profissionais a todos os sem-sexo do país.

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este!

quinta-feira, janeiro 15, 2009
 
MINISTRO DA SAÚDE QUER
BRASIL MAIS LUBRIFICADO



PREGÃO N.°142/2008

PROCESSO N° 25000.019579/2008-71

Tipo de Licitação: MENOR PREÇO
Data: 22/12/2008
Horário: 10:00 horas
Local: Esplanada dos Ministérios, Bloco “G”, Ed. Anexo, Ala “A”, Sala 423, Brasília/DF

A União, por intermédio da Coordenação-Geral de Recursos Logísticos – CGRL da Subsecretaria de Assuntos Administrativos – SAA do Ministério da Saúde, mediante o Pregoeiro, designado pela Portaria nº 02, de 20 de maio de 2008, publicada no D.O.U do dia 21 de maio de 2008, torna público para conhecimento dos interessados que na data, horário e local acima indicados fará realizar licitação na modalidade de PREGÃO, do tipo menor preço, conforme descrito neste Edital e seus Anexos.

1. DO OBJETO

1.1. O presente Pregão tem por objeto a aquisição do produto abaixo, conforme Termo de Referência – Anexo I:

ITEM PRODUTO QUANTIDADE

01 Gel Lubrificante
15.000.000 de sachês

1.2. Os interessados em participar desta Licitação poderão obter este Edital na Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Ministério da Saúde, Anexo “A”, 4º andar, Hall, das 8h às 12h e das 14h às 18h, ou no site www.comprasnet.gov.br.

quarta-feira, janeiro 14, 2009
 
RESPOSTA AO FERNANDO


Meu caro Fernando:

Não tenho preconceitos. Preconceito não é falta de inteligência, como você o define. Preconceito é fazer juízos a respeito do que não se conhece. Eu não faço juízos a respeito do que não conheço. Só os faço sobre o que eu conheço. Não tenho preconceitos. Tenho pós-conceitos. É diferente. Preconceito, por exemplo, é chamar de abominável o Homem das Neves, que afinal de contas ninguém ainda viu de perto. Por que então abominável?

Não interpreto a Bíblia. Nunca interpretei. Deixo isso para os teólogos. Eu a exponho como ela é. Muitas vezes, publico capítulos inteiros da Bíblia sem fazer um único comentário. Se isto choca, o que choca é o texto bíblico, não o cronista. Não tenho responsabilidade alguma nos massacres provocados por Jeová e muito menos nos massacres que Jeová autoriza ao Povo Eleito executar.

"Você ofende o Deus que bem ou mal guia a vida de milhões". Eu não ofendo Deus nenhum. Para começar, Deus não existe. Impossível ofender o que não existe. Me reservo no entanto o direito de tecer comentários àquele deus proposto pela Bíblia. Eu o comento como personagem literário, assim como comentaria o Quixote ou Pantagruel. Por esse personagem, não tenho nenhum respeito.

Se fosse respeitá-lo, teria também de respeitar tiranos como Lênin, Hitler, Stalin, Mao, Pol Pot ou Castro. Estes senhores mataram parte da humanidade. Jeová, no Gênesis, mata todos, menos Noé e sua família. E por que? Porque os filhos dos deuses acharam belas as filhas dos homens. Ora, isso é lá motivo para exterminar o gênero humano, mais os animais de cambulhada? É o ódio veterotestamentário à beleza. “Quem mata um é assassino, quem mata milhões é conquistador, quem mata todos é Deus”, já dizia Jean Rostand.

Não existe 50% de chances de se estar certo ou errado sobre a existência de Deus. As chances são de 100%. Ou existe, ou não existe. Se existisse, em nada influiria em minha vida. Só o que faltava o criador de todas as coisas estar preocupado em gerir a vida de cada um dos bilhões de seres que habitam um planetinha de uma galaxiazinha perdida nos confins do universo conhecido. E se por acaso estivesse preocupado em gerir minha vida, eu o mandaria às favas.

Respeito a fé das pessoas. Jamais diria a alguém para abandonar sua fé. Fé é coisa que faz falta a pobres de espírito e jamais me ocorreria chutar a muleta de um aleijado. Religiões e Deus não respeito. Você certamente nunca leu a Bíblia. Se a lesse com atenção, perderia todo respeito por aquele deus tribal, ciumento, autoritário e cruel, que as Escrituras mostram. Por favor, leia o Livro. Desconheço obra mais sanguinolenta e cheia de ódio. Mesmo o Cristo, que fala de amor, afirma com todas as letras: "Eu não vim trazer paz, mas espada". Isso sem falar na constante ameaça de inferno no Novo Testamento, uma das criações mais odiosas dos autores dos textos ditos sagrados.

Não sei o que você entende por emergente. A palavra é bastante ambígua. Eu a entendo como a definição de alguém que saiu de uma classe social inferior, tornou-se rico e vive vida de rico. Emergente, para mim, é um eufemismo para novo rico. Sim, eu escapei de minha classe social. Era um camponês, vivia no campo, sem acesso algum aos bens culturais da cidade. No campo não há comunicações, trocas culturais. Se lá permanecesse, seria um zero à esquerda.

Mas não sou rico - muito menos novo rico - nem levo vida de rico. Tenho o dinheiro suficiente para meu sustento e para minhas viagens, nada mais que isso. Não tenho carro. Aliás, nem sei dirigir. Não tenho sítio nem casa de praia, não uso roupas de grife, não freqüento colunas sociais nem restaurantes de luxo. O apartamento em que vivo é meu único imóvel. Viagens à parte, meu consumo consiste em comer e beber - e sem isto não se vive - e comprar algumas calças e camisas lá de vez em quando. Ah! Também compro livros e música. Se fosse rico, meu caro, esteja certo de que não estaria vivendo no Brasil.

Me reservo o direito de criticar toda e qualquer religião. Se criticamos o Estado, se criticamos filosofias e comportamentos, se criticamos artes e literatura, por que estaríamos proibidos de criticar religiões? Estariam as religiões acima de qualquer crítica? Não estão. Se isto fere suas convicções, paciência. Qualquer jornal que você leia, em algum momento, inevitavelmente, vai ferir seu modo de ver o mundo. Democracia é assim mesmo. Idade Média é outro departamento.

Ainda há pouco, um amigo me dizia: "se deixasses de criticar comunistas e católicos, decuplicarias teu público". O que me lembrou minha falecida mãe. Preocupada com o futuro da cria, já há uns bons quarenta anos, me recomendava: "Por que não escreves sobre flores, meu filho? Há tantas flores no Brasil". Ora, em primeiro lugar, nada entendo de floricultura. Em segundo, não tenho interesse algum em decuplicar meu público. Deixo isso para os Edires Macedos e Bentos da vida. No dia em que eu tiver cem mil leitores, me olharei no espelho e me perguntarei sobre o que ando escrevendo de errado. Escrevo para poucos e cultivo meus poucos.

Você fala de uma "lei da justiça (por mais que você não a consiga compreender ou não concorde), e ela será aplicada a todos". Confesso nunca ter ouvido falar de uma lei da justiça. Ouvi falar de leis e de justiça, conceitos que nem sempre coincidem. As leis são tentativas de chegar-se à justiça. Sua afirmação soa como ameaça: "ou você acredita em deus ou assume as conseqüências de sua descrença". Não aceito ameaças. Quanto às conseqüências de meu modo de pensar, as assumo serenamente.

Não sou proselitista, jamais pedi a alguém que me siga. Nem mesmo que me leia. Quanto a mulheres, eu as tenho porque gosto. Não vejo nada de errado em gostar de mulheres. Sempre me senti bem entre elas e sempre as cultivei com carinho. Junto com o vinho, as viagens e a música, são o melhor da vida. Quis o bom deus dos ateus que elas jamais me faltassem.

Se você se decepcionou com minhas colunas, é simples. Não mais as leia. Evitará aborrecimentos.

 
CARTA DO FERNANDO


Um leitor me escreve:

Janer,

Acompanho o Baguete há dois anos, desde que mudei de SP para Porto Alegre e recentemente descobri sua interessante coluna. Acompanhei algumas e me pareciam bastante interessantes. Descobri então seu Blog e li vários textos, de várias datas diferentes. Permita-me expressar a você minha opinião, assim como você expressa a sua publicamente.

Não quero discutir doutrinas, dogmas, fatos históricos, religiosos, sejam eles verdadeiros ou manipulados e inventados pelo homem, pois seu conhecimento que você tanto gosta de se orgulhar de ter adquirido parece ser amplo e obviamente maior que o meu.

Mas penso meu caro, que você comete um grave erro nas suas colunas, que é o do preconceito. Para mim preconceito é falta de inteligência e não gera nada de valor. Vide Rio Grande do Sul, que é um estado formado por um povo cheio de preconceitos, logo, não sai do mesmo lugar há décadas...

Seus comentários sobre religião são preconceituosos. São baseados em suas experiências negativas e sua interpretação da bíblia e de outros escritos. Você diz respeitar todas as "fés", mas seus textos são completamente desrespeitosos. Você ofende o Deus que bem ou mal guia a vida de milhões. Você se coloca em uma posição de superioridade por seus títulos seculares, suas viagens, as tantas mulheres que você diz terem passado por seu caminho, seu dinheiro. Você se orgulha de ser um emergente, ter saído de uma infância pobre e ter se tornado o que você se tornou e seu texto evoca prepotência.

Você não respeita o que não lhe agrada. Você menospreza quem julga inferior a todo seu conhecimento e vida. Isso não condiz com toda a cultura que você tanto se gaba de ter adquirido.

Eu respeito que pessoas não acreditem em Deus. Eu creio e tenho razões para isso. Você não crê e tem suas razões para isso. Mas você não respeita a religião e o Deus das pessoas. E neste ponto, me decepcionei com suas colunas.

Se pensarmos friamente, você tem 50% de chance de estar certo, de Deus não existir, de tudo ser uma grande bobagem. Por outro lado, você tem 50% de chance de estar errado e você ter sido, com o perdão da palavra, um grande pateta toda a sua vida.

Torça para estar certo, pois há uma lei em que os cristãos crêem que é a lei da justiça (por mais que você não a consiga compreender ou não concorde), e ela será aplicada a todos.

Atenciosamente,

Fernando

 
MINISTRO COMUNISTA QUE DEVOLVEU
À DITADURA CUBANA DOIS DISSIDENTES
CONCEDE ASILO A TERRORISTA ITALIANO



Não bastasse Oscar Niemeyer tecer recentemente loas a um dos maiores assassinos do século passado, coube agora ao ministro da Justiça, Tarso Fernando Genro, conceder asilo político a um assassino menor, terrorista foragido da justiça italiana.

Tarso, que devolveu à ditadura cubana dois esportistas que buscavam asilo político no Brasil e jamais haviam cometido crime algum em Cuba, acaba de conceder asilo político ao italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos entre 1978 e 1979. Ex-militante comunista das Brigadas Vermelhas, ele foi preso no Rio em março de 2007 e pode ser solto hoje.

Battisti viveu por mais de uma década na França, abrigado inicialmente pelo governo de François Mitterrand, sob a condição de ter renunciado à luta armada. Na Itália, foi condenado à prisão perpétua à revelia, a partir de provas fornecidas pelo depoimento de Pietro Mutti, fundador do Proletários Armados pelo Comunismo, do qual Battisti fez parte.

"A sua potencial impossibilidade de ampla defesa face à radicalização da situação política na Itália, no mínimo, geram uma profunda dúvida sobre se o recorrente teve direito ao devido processo legal", diz o texto assinado por Tarso ao justificar a concessão do refúgio. Como se a Itália contemporânea fosse uma ditadura onde um réu não tem direito à defesa. Battisti foi condenado à revelia porque estava refugiado na França, sob as asas protetoras do colaborador nazista François Mitterrand.

Em favor do terrorista italiano, manifestou-se também um outro terrorista brasileiro, Fernando Gabeira, seqüestrador do cônsul americano Charles Burke Elbrick e que hoje posa de vestal defensora do verde.

Não por acaso, o Brasil é o país preferido por onze entre dez facínoras internacionais. O ministério italiano de Assuntos Estrangeiros pediu hoje mesmo que o presidente brasileiro reveja a decisão de Tarso Genro. Mas comunistas sempre protegem terroristas. Se Lula revisar a decisão de seu ministro de Justiça, está mais que na hora de mandá-lo passear.

terça-feira, janeiro 13, 2009
 
JUIZ MANTÉM O MUNDO
LONGE DOS BRASILEIROS



Tenho comentado, em crônicas passadas, o absurdo das tarifas aéreas internacionais praticadas no Brasil. Na Folha de São Paulo de hoje, leio sobre um levantamento feito pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), segundo o qual a compra de bilhetes para o exterior pode custar até 66% mais no Brasil do que se a passagem fosse comprada no exterior. O percurso São Paulo-Nova York-SP pela American Airlines custa US$ 972 no Brasil. Já o bilhete Nova York-SP-Nova York sai por US$ 584, de acordo com a coleta que inclui exemplos também de TAM, Air France e British Airways.

Como já comentei na terça-feira passada, estava previsto para o dia 1º de janeiro o início de um processo de flexibilização de tarifas que resultaria na liberdade total de preços a partir de 2010. Segundo a Folha, o Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) - leia-se TAM - questionou na Justiça o fato de a agência não ter realizado uma audiência pública, e o início das promoções foi suspenso. Três empresas aéreas já estavam com descontos prontos para serem aplicados no início deste ano, mas foram forçadas a engavetá-los.

No fundo, o dedo da TAM. Na sentença que suspendeu o desconto, o desembargador Jirair Meguerian argumentou que a resolução da Anac gera “efeitos imediatos e catastróficos para as companhias aéreas brasileiras e para o mercado em geral, além de favorecer a prática do dumping pelas companhias internacionais, que valem-se de subsídios governamentais e poderão praticar tarifas muito inferiores àquelas praticadas pelas empresas nacionais”.

Na época, a Anac, que propunha a liberação de tarifas, aventava redução de até 80% no prelo dos bilhetes (U$174 numa passagem de ida-e-volta para a Europa). A meu ver, isto é um tanto inviável. Mas quem deve decidir isto é o mercado e não um juiz. Só o que faltava, um juiz pretender revogar a lei da oferta e da procura. Isto existia nos países socialistas.

Ora, o socialismo morreu há duas décadas – et pour cause! – e a TAM ainda não tomou conhecimento disto. Da falecida Varig, herdou a mania de oligopólio. Se antes o protecionismo da empresa aérea era garantido pelo DAC (Departamento de Aeronáutica Civil), hoje é assegurado pela justiça. Ora, lixem-se as empresas nacionais. Se não são competentes para enfrentar a livre concorrência, que vendam suas naves como sucata e entreguem seus slots a quem tiver competência. Enquanto no Ocidente todo se viaja barato, nós, brasileiros, temos de pagar as mais altas tarifas. Isso sem falar nas taxas de embarque, que também estão entre as mais altas do mundo.

Comentei minha estratégia de fugir ao oligopólio nos dias de Varig. Viajava sempre pela LAP, PLUNA, Linhas Aéreas Argentinas. O problema é que tinha de sair do Brasil para pegar o avião. As empresas estrangeiras podem oferecer preços de sonho aos brasileiros. Mas de lá para cá. Daqui para lá, a guilda não permite.

Você já pensou em viajar pagando zero, seja lá na moeda que for? Isso existe. Há uns quatro ou cinco anos, passando por Madri, convidei para visitar-me uma sobrinha que vivia em Londres. Ela voou pela Ryan Air, por... zero libra esterlina, mais as taxas de embarque. Pagou mais indo de metrô até o aeroporto do que voando de Londres a Madri. Certa vez, tive de fazer um vôo de Milão a Madri. A moça me perguntou se era ida-e-volta. Não, era só ida. Ok, disse a moça, então você compra ida-e-volta. Mas eu quero só ida, objetei. É que ida-e-volta é mais barato do que só ida.

Há uns três anos, em Barcelona – quando ainda não existia o AVE Barcelona/Madri – eu tinha de chegar a Madri. Examinei os preços de trem. Custava algo em torno de 100 euros, para nove horas de viagem. Resolvi pesquisar em uma agência de turismo. De avião, pela Easy Jet, paguei 56 euros. Para uma viagem de uma hora. O que, no fundo, até me entristece. Pois gosto de viajar de trem. Mas na hora de comparar preços e tempo de viagem, impossível resistir ao avião.

Proponho ao leitor alguns trajetos hipotéticos. Por exemplo, de Londres a Oslo, na Noruega. Ou de Londres a Perugia, na Itália. Ou de Liverpool a Paris. Ou de Liverpool a Estocolmo. Ou de Birmingham, na Inglaterra, a Barcelona. Ou de Bristol a Budapeste. Tem idéia o leitor de quanto pagará por tais trajetos? Claro que não tem. Então, informo: 1 £. Ou seja, uma libra esterlina. Ou seja, 3,39 reais, à cotação de hoje. Pela mesma Ryan Air, onde minha sobrinha pagou 0 £ - zero libra esterlina – para ir de Londres até Madri. Zero libra, é bom lembrar, é igual a zero real, seja qual for a cotação do dia.

Por acaso a British Airways teme falir com a concorrência da Ryan Air? Bateu às portas da Justiça para evitar dumping? O Brasil, apesar das fanfarronices do Supremo Apedeuta, ainda não saiu daquela época em que, graças ao monopólio estatal da telefonia, se pagava 4.000 dólares por um telefone. O deplorável, em tudo isso, é que um juiz, de uma penada, afaste os brasileiros do Exterior.

Se você tem alguma dúvida quanto às tarifas praticadas pela Ryan Air, confira: http://www.ryanair.com/site/EN. E depois repita comigo: MORTE À TAM!