¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, dezembro 21, 2009
 
Os deuses precursores (III):
OSÍRIS, DIONISOS E SERAPIS



Ana Martos vai adiante e envereda pela mitologia egípcia. Os Textos das Pirâmides mostram que Osíris oferece seu corpo como pão de vida e seu sangue como vinho. “Tu és o pai e a mãe dos homens que vivem de teu sopro, comem a carne de teu corpo e bebem teu sangue. O que come tua carne e bebe teu sangue viverá eternamente”.

Os gregos identificaram Osíris com Dionisos, o deus encarnado, o salvador, filho de Deus, nascido de uma mulher mortal, em um 25 de dezembro, em uma cova humilde onde pastores o adoraram. Osíris Dionisos oferecia a seus seguidores o renascimento para a vida eterna mediante a imersão ritual na água. Em sua vida terrena converteu a água em vinho durante uma cerimônia nupcial. Entrou triunfalmente na cidade montado em um asno, enquanto as pessoas brandiam palmas. Morreu na Páscoa (na primavera) pelos pecados do mundo, desceu aos infernos e ressuscitou no terceiro dia para ascender glorioso à sua morada celestial, de onde descerá ao final dos tempos para julgar os homens bons e os maus. Dionisos, como Baco e, em alguns cultos, Orfeu, foi crucificado pelos pecadores, mas não em uma cruz de dor, senão em uma cruz de salvação, porque a cruz é símbolo e totem de muitos povos. Sua morte e ressurreição se celebravam com um ágape ritual com pão e vinho que simbolizavam sua carne.

A conversão do pão e do vinho em carne e sangue do deus era um ritual tão popular que Cícero, cético, chegou a protestar em De natura deorum e a perguntar se alguém podia estar tão louco para acreditar que o que ingeria era a carne e o sangue de um deus.

O culto a Osiris se ampliou e se aperfeiçoou durante o período helenístico, no qual o Egito esteve governado pelos gregos, para configurar uma nova divindade cuja morte e ressurreição assegurava vida eterna a seus fiéis. Unindo todas estas facetas, Ptolomeu I proclamou a religião de Serapis no Egito como religião oficial imposta, não espontânea como a de Isis ou Adonis, mas mantendo a tolerância em relação a outros deuses e outras religiões. Serapis era a união de Osiris e Apis, dois deuses egípcios que naquela época já incorporavam os aspectos do deus grego Dionisos, pelo que se proclamou Redentor filho da Trindade egípcia.

Serapis nasceu de mãe virgem no solstício de inverno, morrendo no equinócio da primavera para ressuscitar no terceiro dia. Não escapou de ameaças de morte, o que obrigou sua mãe, a virgem Isis, a fugir com o filho, montada em um asno. Isso sem falar da imagem de Orfeos Bakkikos, a primeira que se conhece de um deus crucificado, utilizada nos mistérios órficos e dionisíacos celebrados no Mediterrâneo... desde o século VI antes da era cristã.

Conhecemos essa história, não? É a do cara aquele que nasceu num 25 de dezembro de mãe virgem, foi anunciado por anjos, curou enfermos e leprosos, fez andar os paralíticos, devolveu a visão aos cegos, transformou água em vinho e ressuscitou mortos. Sua doutrina falava de bondade, de ajudar e amar-se mutuamente e de socorrer os frágeis e inválidos. Ensinou que é preciso amar aos demais como a si mesmo, que é melhor devolver bem por mal e que a melhor forma de viver é praticar a caridade e todas as virtudes. Desafiou os sacerdotes de sua época, foi crucificado, morto e sepultado e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos.

Se alguém ainda acha que isto não é ficção de hábeis sacerdotes, que se vai fazer?