¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, agosto 21, 2009
 
JORNALISTA BOLSA-DITADURA
DEFENDE BISPO VIGARISTA
NA FOLHA DE SÃO PAULO



Escreve hoje Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo: “Durante a campanha eleitoral de 1989, esta Folha recebeu em almoço todos os principais candidatos. Menos, salvo erro de memória, Fernando Collor, no que se revelaria uma profilática premonição do jornal”.

Pelo jeito, as preocupações profiláticas do jornal morreram há vinte anos. Hoje é o dia das colunas dos três canalhas: um senador corrupto, um deputado corrupto e um jornalista bolsa-ditadura. Em sua coluna, José Sarney - que comparado a Collor o torna um homem probo -, acossado pelo Conselho de Ética do Senado, prega olimpicamente... o fim do Conselho de Ética do Senado. Com o aval da Folha.

"Ao Senado - escreve Sarney - compete julgar os membros do Supremo, e a este, os membros do Senado. Nada mais justo, democrático e de respeito à soberania popular que o mandatário do povo, eleito pelo voto, tenha direito a um julgamento isento. Assim, na reforma política, deve ser estabelecida a extensão desta norma, de membros de um Poder julgarem os do outro, que leva a se fazer sempre justiça, e não como hoje um tribunal político, um tribunal de exceção, um tribunal político partidário, como são os conselhos de ética”.

Por outras razões que não as do senador imortal – e como! – dou razão a Sua Excelência. Sempre vi os códigos e conselhos de ética como um acordo entre canalhas. Se há ética, para que conselho? E se não há ética, conselho de nada adianta. Como está se vendo agora, quando senadores de rabo preso defendem suas mútuas maracutaias.

Na mesma página, o deputado corrupto, escrevendo sobre o Senado, diz que “a instituição putrefata vai exalar seu horrível fedor sobre as forças que mantiveram Sarney”. Gabeira, se alguém não lembra, é aquele terrorista que militava no MR-8, que foi um dos responsáveis pelo seqüestro do embaixador Charles Elbrick, que viajou às custas do contribuinte durante a farra das passagens aéreas, que deitou verbo contra as bolsas-ditadura de dois vigaristas do Pasquim, Ziraldo e Jaguar, ao mesmo tempo em que reivindicava uma bolsa-ditadura junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, pelos dias em que passou puxando fumo em Estocolmo.

Para Gabeira, instituição putrefata é o Senado, não a múmia putrefata que o preside. A instituição putrefata vai exalar seu horrível fedor sobre as forças que mantiveram Sarney, não sobre Sarney, imune a qualquer fedor.

Na mesma edição do jornal, no caderno “Ilustrada”, o jornalista bolsa-ditadura e também imortal como Sarney – que aliás dia 9 deste fazia uma defesa entusiástica do senador corrupto – faz hoje uma velada defesa ... de Edir Macedo. Compara-o, nada menos, a Paulo, que “foi perseguido não apenas pelos povos pagãos, mas pelos próprios cristãos da nascente igreja de Jerusalém, comandada por Pedro, príncipe dos apóstolos, que não aceitava a pregação universal daquele adventício que chegara a combater com armas os próprios cristãos, dos quais mais tarde se tornaria, depois do fundador, o mais eficiente propagador e intérprete”.

Vai mais longe: compara o bispo vigarista ao próprio Cristo, "acusado de charlatanismo, de enganar o povo, de promiscuidade sexual e, por fim, de subversão: acabou, como sabemos, em cima do Calvário, pregado numa cruz que se tornou sinal de ignomínia durante três séculos, até que o imperador Constantino visse uma no céu: "In hoc signo vinces". Com este sinal vencerás”.

Sem pretender comparar, mas comparando, escreve: “Evidente que não estou fazendo comparações, nem aproximações. Mas todos os movimentos religiosos foram combatidos em suas nascentes pelo poder e pelas classes dominantes”.

Para concluir: “Maomé sofreu o diabo e parece que terminou rico, tão rico como o sr. Edir Macedo, só que não vendia espaço na TV, mas camelos. Não pretendo dar lições a ninguém, muito menos a um cidadão que se diz bispo. Mas basta a leitura de alguns trechos das epístolas de São Paulo para buscar um paralelo impressionante, embora o autor da Carta aos Romanos, um dos pilares da religião que pregava, não vivesse de dízimos nem de aplicações financeiras, mas era tapeceiro, vivia de fazer e vender tapetes, que não deviam ser lá essas coisas”.

Vai mal a Folha de São Paulo. Abriga em suas páginas um senador corrupto cujo filho, graças a um juiz amigo, impôs a censura ao Estadão, que denunciava suas falcatruas. Abriga um deputado corrupto que chama o Senado de putrefato, menos o senador que o putrefaz. E abriga ainda um jornalista bolsa-ditadura que faz a defesa, não só do senador corrupto, mas do bispo vigarista, que em óbvia litigância de má-fé impetrou mais de cem processos contra a jornalista da Folha que denunciou as vigarices de sua Igreja.

A meu ver, só falta à Folha chamar o bispo para assinar coluna em suas páginas. Triste ver um jornal que um dia foi honesto e combativo deixar-se contaminar pelos miasmas que emanam do Planalto.