¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, janeiro 24, 2009
 
INFELIZ PAÍS ESTE NOSSO


Cláudia Costin é moça que tem costas quentes. Sai governo, entra governo, ela sempre está ocupando alguma sinecura. Hoje, é secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro. Começa sua gestão oferecendo aos professores uma cesta básica de livros. A cada três meses, os 36 mil docentes da prefeitura receberão dois livros. Um título será indicado pela secretaria. O outro, escolhido pelos docentes em votação pela internet. Cláudia também quer fazer das escolas municipais pontos de acesso ao livro.

Pouca vergonha! Professsores lendo dois livros a cada três meses. Dois livros é o que qualquer pessoa que queira entender o mundo deveria ler por semana. Os títulos oferecidos deverão sair dos lançamentos de ficção. Ensaios, ni pensar! Pode queimar as sinapses dos professorinhos. "Queremos que os professores leiam por prazer", diz Cláudia. Diretores foram convocados a criar clubes de leitura, onde docentes poderão trocar impressões.

Ora, isso de querer que alguém leia por prazer não existe. Ou a pessoa tem prazer em ler, ou não tem. Clubes de leitura não levam ninguém a ler. Lê quem gosta de ler. Quem não gosta não lê. Conheci professores universitários que não tinham um único livro em suas casas. Conheço jornalistas que não têm biblioteca. Dois livros a cada três meses dá oito livros por ano. É mais ou menos o que leio por mês. Isso que estou longe do magistério. Professor que lê apenas oito livros por ano deveria buscar outra profissão. Taxista, quem sabe. E olhe lá! Um de meus taxistas prediletos é versado em Kant e Hegel. Mal entro no táxi, ele fica se coçando para começar um papo sobre filosofia. Se falo com ele sobre o imperativo categórico ou o espírito da história, ele me responde com competência. Não sei quantos professores universitários poderiam conversar comigo no mesmo nível.

Tendo conhecido de perto estes senhores, os professores universitários, penso que dona Cláudia deveria pensar em uma proposta simplinha. Talvez começar com Paulo Coelho, Bruna Surfistinha, talvez Lya Luft, quem sabe José Sarney. Em meus dias de universidade, minhas aluninhas gostavam muito de Graciliano Ramos e Clarice Lispector. Porque seus livros são fininhos. Livro grosso, não é qualquer aluno que gosta de ler. Pelo jeito, nem mesmo professor.

Seguidamente vemos na imprensa projetos de incentivo à leitura. São projetos safados. Não pretendem incentivar a leitura. Mas levar, isto sim, os jovens à compra das nulidades literárias nacionais. Até entendo que se procure levar os jovens à leitura. Mas professores – logo estes senhores que têm obrigação de ler – me parece totalmente despropositado.

Infeliz país, o que tem de induzir seus professores a ler.