¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, junho 07, 2008
 
PASTORAL EXTRATERRESTRE



A notícia é antiga, mas não resisto a um comentário. Mês passado, mancheteou o El País:

EL VATICANO SALUDA AL HERMANO EXTRATERRESTRE

Segundo a reportagem, é lícito crer em Deus e nos extraterrestres. Pode-se admitir a existência de outros mundos e outras vidas, inclusive mais evoluídas que a nossa, sem por isso perder a fé na criação, na encarnação e na redenção. Quem afirma isto é o astrônomo do Vaticano, o sacerdote argentino José Gabriel Funes, de borgiano sobrenome. Quem não lembra de Funes, el memorioso?

Segundo este outro Funes, astronomia e fé não se chocam, senão que a astronomia serve para “restituir aos homens a justa dimensão de criaturas pequenas e frágeis frente ao cenário incomensurável de bilhões de galáxias. (...) A meu juízo, esta possibilidade existe. Os astrônomos consideram que o universo está formado por centenas de bilhçoes de galáxias, cada uma formada por bilhões de estrelas. Muitas delas, ou quase todas, poderiam conter planetas. Como se poderia excluir que a vida tenha se desenvolvido também em outros lados?”

Depois da humilhação de Galileu, é um passo e tanto para o Vaticano. Impertérrito, padre Funes continua: “Assim como existe uma multiplicidade de criaturas na Terra, poderiam existir outros seres, também inteligentes, criados por Deus. Isto não contrasta com nossa fé, porque não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus”.

O sacerdote argentino suscita instigantes questões teológicas. Adorarão os extras o bíblico Jeová? Acreditarão no Pai, no Filho e no Paráclito? Terão eleito um vice-deus, como fizeram seus irmãos terráqueos? Jeová admite mais de um vice? Terão tido um paraíso do qual foi expulso o primeiro homem? Houve, nalguma galáxia, um pecado original? Pois sem pecado original, o Redentor não tem sentido. E Abraão e Moisés, como é que ficam?

O astrônomo vaticano não hesita: os extraterrestres “também, de alguma forma, teriam a possibilidade de gozar da misericórdia de Deus”. Talvez padre Funes não tenha percebido, mas está abrindo um novo campo na teologia. Jeová crucificou seu filho por aquelas bandas? Ou bastou tê-lo crucificado na Terra? A jurisdição de Bento XVI se estende a galáxias distantes? Ou os extras elegeram outro papa por lá? Existem apóstolos? Pois sem apóstolos as religiões não vão adiante. Será que os extras bebem o sangue e comem a carne de seus semelhantes? Terão adotado a hematofagia e o canibalismo como seus longínquos irmãos católicos?

São perguntas que se impõem. Assim como hoje existe uma pastoral dos sem-terra, talvez tenhamos para breve uma pastoral dos extraterrestres.