¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, abril 11, 2008
 
AVENTURAS DE UMA NOITE DE VERÃO


Um amigo me escreve: “Eu sou um seguidor do Cristaldo. A filosofia dele é: não uso nada, só bebo vinho e cerveja. E eu também!” Em verdade, tenho tomado distância até mesmo da cerveja. Claro que uma Leffe sempre vem bem. Posso até encontrá-las em São Paulo. Mas sub especie garrafa. A meu ver, a Leffe tem de ser sur pression. É o que vou degustar mês que vem, nos cafés de Paris e Bruxelas.

Diria que sou um dos raros espécimes de minha geração a não ter apelado às drogas. Sempre fui muito individualista e a primeira coisa que não me agradava nos usuários das drogas era seu jeitão de rebanho. De modo geral, só se drogavam em grupo. Parecia mais culto que gosto. É possível que hoje as coisas sejam diferentes, mas na época – anos 70 – droga era prática grupal.

Para não dizer que nunca bebi desta água, em 71, talvez 72, em Estocolmo, dei duas tragadas de haxixe. Brasileiros me convidaram para uma festinha, num apartamento ao lado do meu. Meio a contragosto - o que eu menos queria encontrar na Suécia era brasileiros - fui até lá. Os patrícios eram dezoito.

Todos siderados, consideravam a suprema manifestação de liberdade puxar fumo Livremente. Havia mais três suequinhas, lá pelos seus 15 ou 16 anos. Todos sentados no chão, todos fumando. Ninguém falava. Me passaram a bagana. Para não bancar o estraga-prazeres, dei uma tragada. Não gostei. O cachimbo passou de novo, dei uma segunda tragada. Prazer nenhum.

Ora, eu era naquele grupo o único a falar sueco. Uma das meninas me interpelou:

- Vocês, brasileiros, são todos assim?
- Como assim?
- Não conversam, só fumam e falam com o próprio umbigo.

Comecei esclarecendo que não era exatamente brasileiro, mas gaúcho. O que era um pouco diferente. E que preferia falar com seres humanos a falar com meu umbigo. Apesar do alto preço do vinho, eu sempre tinha algumas botellitas em meu apartamento. Se a maconha era livre em Estocolmo, o álcool sempre constituía pecado. Convidei as meninas para pecar chez moi.

Elas adoraram a idéia. Começaram a despedir-se dos panacas. Um carioca, achando que me fazia uma gentileza, me alertou: "olha, elas estão saindo, vai em cima". Ora, eu já fora. Saí abraçado com as meninas e - já ia dizer - bebemos até o amanhecer. Não, não bebemos até o amanhecer.

Porque no verão sueco não amanhece nunca, é sempre dia.