¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, janeiro 28, 2008
 
COTAS ESTIMULAM ÓDIO RACIAL



Há mais de década defendo a idéia de que, com o desmoronamento do comunismo, os antigos apparatchiks se entrincheiraram na luta racial. Luta de classes morta, luta racial posta, escrevi lá pelo início deste século. Os velhos comunistas brasileiros, que já não conseguem empunhar as antigas e bolorentas bandeiras, estão tratando de importar para o Brasil o ódio racial dos Estados Unidos. Pretendem inclusive instituir a one drop rule ianque, pela qual só existe preto e branco. O mulato, prova evidente da miscigenação ocorrida no Brasil, passa a não existir. Neste ano em que se comemora o centenário da morte de Machado de Assis, não tenhamos dúvidas: os ativistas dos movimentos negros pretenderão enquadrá-lo como negro.

É óbvio que a política de cotas para os negros nos vestibulares só pode estimular o ódio racial. Qual estudante branco verá com bons olhos um negro que teve classificação inferior à sua e só entrou na universidade porque é negro? Estamos diante de uma política racista deslavada, que vem sendo louvada por uma expressão que não tem lógica nenhuma, a tal de discriminação positiva. Ora, discriminação é discriminação e ponto final.

Claro que, ao fazer tais afirmações, fui sumariamente pichado como racista. Assim, é com sumo prazer que vejo hoje, no Estadão, pelo menos duas manifestações em favor de minha tese. Em artigo para a página de editoriais, Antonio Paim, presidente do Conselho Acadêmico do Instituto de Humanidades, escreve:

“O que me parece mais grave no racismo de tais movimentos consiste em que as políticas que têm conseguido obter correspondem a equívoco funesto. A médio e longo prazos, trarão prejuízos definitivos tanto a instituições como a indivíduos. É óbvio que a obtenção de títulos acadêmicos, mediante ingresso na universidade por meio de cotas, disseminará indevidamente a pecha de incompetente a pessoas que, sendo bem dotadas, poderiam alcançá-los sem benesses. Quanto ao acesso à universidade dos que, por dificuldades econômicas, não tiveram condições de se preparar de forma a enfrentar a competição, a política adequada consiste em proporcionar-lhes bolsas que lhes permitam ingressar pela porta da frente”.

Mais adiante, em entrevista ao jornal, afirma o procurador da República Davy Lincoln Rocha que as “cotas estão estimulando o ódio racial”. É o que venho afirmando há mais de década. Foi este procurador quem conseguiu suspender, na Justiça Federal, o sistema de cotas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Diz Lincoln Rocha:

“Recebi a representação de alunos, analisei, vi que as cotas não estavam previstas em lei. Como a Constituição estabelece a igualdade de direitos, entendi que a universidade não pode reservar vagas para alguns e impedir o acesso de outros candidatos. Há 30% de estudantes que estão sendo retirados por proibição, mesmo tendo notas para ingressar na faculdade”.

O procurador vai mais longe: “Entrarei com uma ação civil pública pedindo a anulação de um concurso para juiz do TRF 4 que está em andamento e não prevê reserva de vagas para negros, egressos do ensino público e índios e um novo concurso que estabeleça cotas. O tribunal não pode ter uma política para fora e uma para dentro”.

Trata-se, é claro, de um chamado à lógica dirigido à magistratura. O pior que pode acontecer é que tenha sua ação julgada procedente. Conclui o procurador:

“A universidade não é lugar para quem quer, mas para quem tem intelecto para freqüentá-la. E a capacidade intelectual não está na raça ou na condição social. O negro e o pobre não são incapazes e não devem ser apequenados pelo paternalismo. O acesso pode ser por um sistema de bolsas que contemple quem tem aptidão e não tem recursos. Do jeito que estão, as reservas condenam cotistas ao vexame na faculdade e à discriminação no mercado. No futuro, poderemos ter pessoas evitando a contratação de serviços de médicos e engenheiros cotistas. (...) Essa questão das cotas está estimulando o ódio racial. Recebi e-mails com conteúdo muito ofensivo dos dois lados”.