¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

terça-feira, julho 17, 2007
 
CRIMINOSO E SACERDOTE




Escrevi há pouco que os abusos sexuais de adolescentes constituem um crime tipicamente católico. A Santa Sé parece ter percebido e já põe as barbas de molho. Pedofilia não é exclusividade da Igreja, disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, em nota divulgada hoje na página da Rádio Vaticano, ao comentar o acordo financeiro feito entre a Arquidiocese de Los Angeles com 508 supostas vítimas de abuso sexual por sacerdotes. E já vou avisando que “supostas” vai por conta da agência BBC Brasil. Supostas, coisa nenhuma. Foram vítimas, sem mais adjetivos. Se a Arquidiocese de Los Angeles fez um acordo em valores tão altos (US$ 660 milhões), é porque percebeu que perderia muito mais se não o fizesse.

Padre Lombardi sofisma. Ninguém está afirmando que pedofilia é exclusividade da Igreja. Seria uma afirmação insensata. Padre Lombardi lança ao ar uma acusação inexistente, mais fácil de ser contestada, para que melhor possa ser contestada. "Como o problema dos abusos contra a infância e sua adequada tutela não se refere de jeito nenhum somente à Igreja, mas também a muitas outras instituições, é justo que estas também tomem as medidas necessárias", disse o sofista vaticano.

Já que falou em outras instituições, poderia prestar-nos o favor de nominá-las. Ocorre que tais instituições não existem, padre Lombardi. Os abusos sexuais de crianças e adolescentes existem no mundo todo, disseminados pela sociedade toda. O que nunca se viu foi um crime estar tão intimamente associado a uma instituição, no caso a Igreja Católica. E associado não ao laicato, mas a seus ministros, o que é mais grave.

Que o Vaticano minta, se entende, afinal toda sua pompa e fortuna repousa sobre uma mentira milenar. O que é deplorável é ver um porta-voz mentindo primariamente, como menino que foi pego fazendo travessura.

Segundo padre Lombardi, o acordo feito é um sinal do compromisso da Igreja em fechar uma "página dolorosa" e passar a olhar para a frente, "na linha da prevenção e da criação de um ambiente sempre mais seguro para as crianças e os jovens em todos os âmbitos da pastoral da Igreja". Cantiga para ninar pardais. Os abusos continuarão sendo cometidos ad aeternum, enquanto existirem sacerdotes sexualmente reprimidos e crianças por perto. Não encontramos este tipo de crime em outras igrejas, que permitem que seus ministros casem. A grande praga social não é o divórcio, como pretendeu Bento XVI, este papa que em seus muitos anos de convívio íntimo com o poder eclesial parece nada ter visto dos crimes cometidos pelos ministros de seu rebanho. Praga social são os abusos sexuais. Tão abomináveis quanto a ablação do clitóris e a infibulação da vagina.

Os padres, em sua ordenação, professam três votos: obediência, pobreza e castidade. A obediência há muito foi pras cucuias. Há padre rezando missa como bem entende, transformando o ofício divino em show-business e, pior, pregando marxismo. Quanto à pobreza, quando uma paróquia se dispõe a pagar 660 milhões de dólares para livrar seus padres da prisão, nos perguntamos até que ponto foi levado em conta tal voto. E do voto de castidade já nem se fala mais. Padres pedófilos à parte, o Ocidente está inundado de padres que cultivam relações com homens e mulheres adultos. A bem da verdade, um padre não tem sequer o direito de masturbar-se. É pecado. Está profanando um templo do Espírito Santo.

Que os padres cometam pecados, isto não nos diz respeito. É algo que só concerne à relação deles com Deus. O problema é quando o pecado coincide com crime. Se a Igreja fosse pagar em milhões de dólares os pecados cometidos pelos seus, há muito estaria falida. A indenização milionária paga pela Arquidiciose de Los Angeles diz respeito apenas aos crimes.

A Igreja Católica entrou no século XXI exibindo um novo tipo de criminoso, o criminoso-sacerdote.