¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

terça-feira, fevereiro 27, 2007
 
MEUS FILMES DILETOS



Por falar em filmes, há alguns meses um amigo me perguntava quais eram meus filmes prediletos. O dileto entre os diletos, que vejo e revejo com prazer, é A Festa de Babete, de Gabriel Axe. Certamente, o mais belo e sensível filme que já vi. Mexeu muito comigo também The Map of Human Heart, de Vicent Ward, que creio que não passou no Brasil. No fundo, a busca de uma filha pelo pai, um esquimó que, por circunstâncias da vida, tornou-se fotógrafo em um bombardeiro inglês durante a Segunda Guerra. Comovente.

Mash, de Robert Altman e A Vida de Brian, de Terry Jones, até hoje me fazem rir, particularmente este último. É a mais ferina sátira já feito pelo cinema ao cristianismo. Palombella Rossa, de Nanni Moretti, ataca os comunistas. (Só passou no Brasil quase clandestinamente, em um festival no Rio). Louve-se o engenho do cineasta: consegue fazer um filme dinâmico e divertido que se passa praticamente o tempo todo dentro de uma piscina.

Já ri muito com o primeiro O Incrível Exército Brancaleone , de Mario Monicelli. Curiosamente, revendo o filme com minha filha, há coisa de um ano, não achei muita graça.

Morri de rir vendo East Side Story, produção alemã da romena Dana Ranga. (Passou em um cinema escondido nos confins de São Paulo. Quando fui ver, tinha apenas três espectadores). Sempre me comovem La Strada e Noites de Cabíria, de Fellini. Como aliás quase todos seus filmes. Adoro Bas Fond, do Kurosawa (vi o filme em Paris, não sei qual o título brasileiro), como também seus demais filmes. Curto muito também o Buñuel, particularmente O Anjo Exterminador. Falando nisso, alguém viu J'irais comme un cheval fou, do Arrabal? Vale a pena. Pelo que sei, também não passou no Brasil.

Outro filme belíssimo que vi foi Lepota Poroka (em francês, La Beauté du Peché), do iugoslavo Zivko Nikolic, com uma atriz divina, Mira Furlan. Uma moça que vivia nas montanhas da Iugoslávia, vai trabalhar em uma colônia de nudismo na costa croata. O conflito cultural é inevitável. Em Estocolmo, lá por 71, vi outro belo filme que jamais deu as caras por aqui, The Bus, do turco Tunç Okan. Um grupo de imigrantes turcos clandestinos é jogado dentro de um ônibus, que é abandonado em plena T-Centralen, a estação central do metrô de Estocolmo. Foi o primeiro filme que vi sobre a condição do imigrante na Europa.

Enfim, a lista seria grande. Suécia, Finlândia, Dinamarca têm excelentes produções que desconhecemos. A propósito, outro filme que me lavou a alma, foi O Filósofo, filme alemão cujo autor agora não lembro. É a história de um jovem conferencista que vai escolher um terno para sua palestra em uma loja e é atendido por três mulheres divinas, uma mais linda que a outra. As três adotam o "filósofo" e o cercam com muito sexo e mimos. Genial! Se alguém o encontrar em alguma locadora, recomendo vivamente.

Escrevi muito tempo sobre cinema e estudei um ano de cinema na Stockholms Universitet. Em sua cinemateca, vi filmes desde os primórdios do cinema, que jamais foram vistos por estas bandas. Durante meus quatro anos de Paris, com
minha credencial de jornalista, não pagava entrada em sala alguma. Foi uma festa. Um de meus critérios básicos: não ver filmes franceses. Com isto não quero dizer que os filmes franceses sejam ruins. Apenas que não gosto do jeito deles filmarem. São muito literários. O cômico francês Louis de Funès estabelecia uma diferença entre o cinema francês e o americano. Diante de uma porta, no cinema americano o personagem abre a porta e entra. No cinema francês, o personagem não abre a porta sem antes falar: "Voilà, la porte!" E só depois entra.

Ultimamente, os melhores que vi foram Adeus Lênin, do alemão Wolfgang Becker, e Slogans, do romeno Gjergj Xhuvani, uma sinistra comédia situada nos dias da ditadura de Nicolae Ceaucescu.

Claro que poderia acrescentar muitos autores americanos. Gosto muito do Peckinpah, particularmente de The Wild Bunch. Apocalypse Now, do Coppola, é um grande filme. Tive o privilégio de vê-lo em 1979, no Festival de Cannes, quando se apresentava hors concours. A sala do Palais de Festivals, então na Croisette, foi adaptada com seis pistas de som para a exibição do filme. O efeito foi arrepiante: se você estivesse no meio da sala, como eu estava, sentia-se no meio do tiroteio. A experiência foi única, pois na época o máximo de pistas de som de uma sala eram quatro.

Muito Além do Jardim, de Hal Ashby é outro filme importante. Nos remete imediatamente a nosso Primeiro Magistrado, o Supremo Apedeuta. Gostei muito também de Deliverance, do John Boorman (não lembro o título brasileiro).

Enfim, há muita coisa boa no mundo cinematográfico para se ver e certamente deixei de lado muitos filmes que foram importantes em minha vida. Mas todas estas coisas boas nada têm a ver com o Oscar.