¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007
 
EMPRESA ARGENTINA OFICIALIZA DÓLAR NA CUECA


Dólares na cueca não tiveram boa reputação no Brasil, particularmente depois que apparatchiks do PT usaram este recurso para transportar dinheiro sujo. Para pessoas desavisadas, até pode parecer que a empresa argentina Alicia Fuhr inspirou-se no partido brasileiro ao lançar seu novo produto, cuecas, calcinhas e sutiãs com um bolso de segurança para guardar dinheiro e cartões. No entanto, o recurso é bem mais antigo, e deve te sido usado por toda pessoa que hoje tenha 50 ou 60 anos.

Se ainda existe memória neste país, quem costuma viajar deve lembrar dos dias da ditadura militar em que havia limitação para as divisas que um turista levava ao exterior. O limite era mil dólares, quantia que mal pagava dez dias de hotel no estrangeiro. Sem falar que, quando se viaja, é preciso comer. A lei era de uma hipocrisia escancarada, pois nenhuma autoridade acreditaria ser possível sobreviver um semana no exterior com mil dólares. O recurso era então levar dólares na barriga. O viajante brasileiro assumiu uma condição de marsupial. Os dólares não eram levados exatamente na cueca, mas em cintas improvisadas de tecido, com um bolsinho para os dólares. Eu gostava daquelas guaiacas que se comprava na Argentina, um cinturão com divisões internas. Com o tempo, me tornei mais criativo. A cada calça que comprava, pedia ao lojista que a munisse de bolsos internos.

Todo brasileiro de minha idade, que um dia teve de viajar, em algum momento usou este recurso. Hoje é mais simples. Leva-se VTMs ou travellers-cheques, sem limitação de quantidade, ou cartões de crédito. Mas eu vivi minha fase de dólar, não digo na cueca, mas pelo menos na barriga.

Mesmo sem viajar, muitas vezes um cidadão tinha de usar esse recurso. Houve época no Brasil em que muitas coisas, como telefones ou apartamentos, só eram comprados com dólar vivo. Certa vez, comprei um apartamento por 60 mil dólares. A proprietária só aceitava as verdinhas. Enchi a barriga de dólares e fui fechar o negócio com a moça. Um telefone fixo, não sei se alguém ainda lembra, podia custar de quatro a dez mil... dólares. Um celular, em 1990, custava 22 mil dólares. E pesava meio quilo.

Pena que não patenteei minhas calças com bolsinhos internos. É excelente proteção contra batedores de carteira. Claro que não o protege de um ladrão mais violento, que não hesitaria em tirar-lhe as calças. Mas o achado argentino acaba tornando inútil este recurso utilizado pelos viajores mais prevenidos. Quando se popularizar, o assaltante irá direto às cuecas ou calcinhas.