¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, setembro 30, 2006
 
HÁ UMA SEMANA...



...não mais que uma semana, o Supremo Apedeuta era imbatível. Os jornais de amanhã, apoiados nos institutos de pesquisa, dão quase como certo um segundo turno na eleição presidencial. Não me parece que tal mudança de votos seja efeito do tíbio debate de quinta-feira, muito menos das fotos do dinheiro da corrupção petista, que afinal só tiveram sexta e sábado para circular na televisão e jornais. Aparentemente, os institutos de pesquisa ajustaram melhor seus dados, para não amanhecerem completamente desmoralizados na segunda-feira.

sexta-feira, setembro 29, 2006
 
NOBEL: MAIS UM EMBUSTE



Na França, Itália e Espanha há muitos bares e restaurantes que se gabam de ter acolhido Ernest Hemingway em suas mesas. Os bares são muitos, me recordo agora de dois: La Closerie de Lilás, em Paris, e o Harry's Bar, em Veneza. Não vou negar que tenha freqüentado tais casas. Mas o título que ostentavam sempre me incomodou. No Arco de Cuchilleros, junto à Plaza Mayor, em Madri, encontrei um restaurante que gostei de cara. Em sua entrada está escrito:

Hemingway jamás estuvo acá

Gostei, mas não tive muita chance de freqüentá-lo. Ocorre que fica ao lado do Sobrino de Botín, considerado o mais antigo restaurante do mundo e que tem em seu cardápio pelo menos dois pratos que valem uma visita a Madri: o cordero lechal e o cochinillo. E quem um dia comeu estas iguarias no Botín, nunca deixa de bater ponto quando passa em Madri. Mesmo que o Hemingway tenha estado lá.

Nunca tive maior apreço pela sua literatura. Gostei de O Velho e o Mar, quando jovem. Suponho que não sentiria o mesmo hoje. Outras obras, como Adeus às Armas, Por Quem os Sinos Dobram, Paris é uma Festa, jamais me tocaram. Nunca me agradou o modo de narrar do autor, particularmente seus diálogos artificiais. Tampouco consegui entender os leitores que viam nele um grande escritor. Em seu livro sobre Paris, publicado postumamente, nunca consegui ver a Paris onde vivi quatro anos.

Quanto ao homem, meu apreço era ainda menor. Voluntário da Cruz Vermelha na Guerra Civil espanhola, Hemingway tomou o partido dos comunistas. Escritor que toma partido do totalitarismo deveria ser banido da espécie humana. Tampouco escreverá obra que convença. Apesar de ter sido chofer de ambulância, Hemingway tomava ares de vieux combattant. Um seu contemporâneo, o francês André Malraux, foi mais longe. Dizia ter sido chefe de esquadrilha da aviação republicana, quando se sabe que jamais combateu na Espanha.

Uma carta de Hemingway, data de 27 de agosto de 1947 e enviada a seu editor Charles Scribner, nos revela melhor o homem. Divulgada pelo jornalista alemão Rainer Schmitz, da revista Focus, o documento revela um vulgar e covarde criminoso de guerra. Na carta, Hemingway afirma ter matado um prisioneiro alemão que ousou desafiá-lo. "Você não vai me matar, porque tem medo e pertence a uma raça de degenerados", teria dito o alemão. "Você está errado, disse, e atirei três vezes, primeiro no estômago e depois na cabeça, fazendo cuspir seus miolos pela boca", diz em sua cara o futuro prêmio Nobel.

Em uma outra carta, escrita três anos depois e dirigia ao professor Arthur Mizener, da Universidade de Cornell, Hemingway descreve outras proezas de guerra. "Fiz alguns cálculos e posso afirmar com precisão ter matado 122 alemães." Um deles, segundo o escritor, foi um jovem de 16 anos, baleado ao tentar fugir de bicicleta.

Bravata ou fato? Se matou 122 alemães, em combate é que não foi. Qualquer das duas hipóteses é pouco recomendável a um escritor que recebeu a láurea maior do Ocidente conferida aos humanistas que a Svenska Akademie reconhece como tais. Mais um embuste se junta à lista de grandes vigaristas laureados com os Nobéis da Paz e da Literatura: Mikahil Cholokhov, Martin Luther King, Pablo Neruda, Ribogerta Menchú, Tenzin Gyatso, Saramago, Arafat, Madre Teresa de Calcutá, Wangari Maathai e Günter Grass.

Seria interessante ver se, nos próximos anos, os restaurantes europeus se orgulharão de contar entre seus comensais um assassino frio, que diz ter matado mais que muito nazista de alto coturno.

quinta-feira, setembro 28, 2006
 
TÁ TUDO DOMINADO



Uma edição do jornal francês Le Figaro foi proibida no Egito na quinta-feira passada, por ter publicado uma entrevista com Robert Redeker, um professor de filosofia do ensino médio no interior da França. No artigo, intitulado "O que o mundo livre deve fazer diante da intimidação islâmica?", o professor dizia que o Alcorão é um livro de incrível violência e defendeu o papa Bento XVI por seu discurso com comentários sobre o Islã, há duas semanas.

Defender o papa no Ocidente está se tornando perigoso. Redeker escreveu ainda que o profeta do Islã era "um inclemente senhor da guerra, um saqueador, um carniceiro de judeus e um polígamo, como o próprio Maomé se refere no Alcorão".

Repete-se o caso de Salman Rushdie. Redeker, ameaçado de morte, está escondido há uma semana em algum lugar da França. Mais um pouco e os livros que contam a história do Islã serão queimados em praça pública. Isso que o professor esqueceu de contar que o Profeta deflorou Aischa, uma de suas onze mulheres, aos nove anos de idade.

quarta-feira, setembro 27, 2006
 
VATICANO PENHORADO AGRADECE



Em nota anterior, me perguntei quando a Europa jogaria à fogueira a Divina Comédia, onde Dante põe um Maomé partido ao meio no oitavo círculo do inferno, destinado aos promotores de discórdia. Pelo jeito, não estamos longe disso. A direção da Ópera de Berlim cancelou quatro apresentações de Idomeneo, de Mozart, previstas para o mês que vem, por medo aos muçulmanos. Esta ópera foi montada em Berlim, em 29 de janeiro de 1781. Diga-se de passagem, foi apresentada no ano passado, no Rio de Janeiro, por ocasião da comemoração dos 250 anos do nascimento de Mozart.

Não que este tenha ferido os brios dos sarracenos. Ocorre que na versão do diretor Hans Neuenfels, o rei Idomeneo tira de um saco e põe sobre quatro cadeiras as cabeças decepadas de Netuno, Buda, Cristo e Maomé. Segundo o diretor, a cena reflete "a tentativa do protagonista de se libertar da ditadura dos deuses". Ora, se em Don Giovanni o adulto Mozart jogou seu herói aos infernos para não chocar a conservadora Viena, não seria o jovem quem decapitaria quatro deuses.

Em verdade, foi uma provocação do diretor. Por um lado, Buda, Cristo e Maomé não são personagens da ópera. Por outro, Netuno nela não é decapitado. Seja como for, os encenadores de óperas sempre se sentiram tentados a recriá-las. Nesta segunda-feira, a casa anunciou que a obra será substituída por As Bodas de Fígaro e La Traviata.

Há dois aspectos na história: de um lado, um diretor em busca de manchetes, que faz uma provocação gratuita aos muçulmanos, justo em um momento em que os ânimos entre o Ocidente e Islã andam mais do que excitados. Por outro, Berlim se dobra à arrogância árabe. Mais um pouco, e a Europa terá de examinar se o Rapto no Serralho não fere a delicada sensibilidade muçulmana. Quem sabe A Italiana na Argélia, de Rossini, não contém alguma conotação politicamente incorreta.

De qualquer forma, com a cabeça de Maomé foi poupada também a do Cristo. O Vaticano, penhorado, agradece ao terror muçulmano.

terça-feira, setembro 26, 2006
 
JOSIPH VISSARIONOVITCH DJUGATCHIVILI



Se você nada conhece de Josiph Vissarionovitch Djugatchivili, nada entendeu da história recente. Este senhor, conhecido também por Koba ou Stalin, "o de aço", matou mais que Hitler e só não conseguiu matar mais que Mao. Houve época em que não era fácil encontrar uma biografia de Stalin no Brasil. A primeira biografia importante, a de Boris Souvarine, escrita originalmente em francês e editada em Paris em 1939, jamais chegou até nós. Consta ter existido uma tradução em russo, editada em único exemplar, para uso exclusivo de Stalin. Ignora-se o destino do tradutor.

Outra importante biografia, a de Adam B. Ulam, em dois volumes e editada pela primeira vez nos Estados Unidos em 1973, tampouco chegou até nós. Tive acesso a elas porque vivia em Paris. Este ano temos nas livrarias brasileiras pelo menos três biografias do ditador georgiano, a do britânico Simon Sebag Montefiore e a dos irmãos russos Roy e Zhores Medvedev e a de Isaac Deutscher.

Estou lendo a de Montefiore, Stálin - a corte do czar vermelho, 860 pgs, Companhia das Letras, tradução de Pedro Maia Soares. Editada originalmente em 2003, esta biografia é trabalho invejável de um jovem pesquisador (o autor nasceu em 1965), que narra o dia-a-dia, cada frase, cada gesto de Stalin. Montefiore parece ser um observador onisciente e onipresente. O livro é lido com o sabor de um romance. Com um detalhe: os horrores nele narrados - com fria objetividade - nada têm de fictícios.

É leitura que recomendo vivamente, particularmente aos jovens, em especial àqueles que nunca ouviram falar de Stalin. Sem Stalin não se entende o século passado.

Observação: o tradutor, ao referir-se aos cortesãos, seguidamente recorre à expressão cu-de-pedra, que não consigo encontrar em nenhum dicionário brasileiro ou português. Encontrei-a em espanhol, culo de piedra, onde quer dizer nádegas duras. Ao que tudo indica, o tradutor traduziu a partir do espanhol e deixou-se enganar pelo som das palavras. Talvez quisesse dizer - suponho - cu-de-ferro.

segunda-feira, setembro 25, 2006
 
OS CROISSANTS E A ARROGÂNCIA DOS SARRACENOS




Ainda o Islã: o mundo muçulmano demonstrou uma arrogância insólita, ao protestar com violência contra um papa que nada mais fez senão citar fatos históricos. Os europeus continuam comendo croissants todos os dias e parecem não mais lembrar da História.

Semana passada, um tribunal da Turquia inocentou a escritora Elif Shafak, de 35 anos, da acusação de insultar a identidade turca no romance O Bastardo de Istambul, lançado em março deste ano - dizem os jornais. Elif era acusada por promotores nacionalistas de infringir o Artigo 301 do Código Penal, segundo o qual um cidadão pode ser condenado a até três anos de prisão por denegrir a identidade nacional turca. Eles pediram a prisão dela porque personagens do livro usam a expressão "genocídio" ao se referir ao massacre de centenas de milhares de armênios nos anos finais do Império Otomano, durante a 1ª Guerra Mundial.

Que a escritora tenha sido absolvida é uma boa notícia. A má notícia é que tenha sido processada por palavras proferidas por personagens. O massacre de um milhão e meio de cristãos armênios por turcos muçulmanos é fato histórico incontestável. E ao massacre de uma etnia convencionou-se chamar genocídio. O espantoso nesta affaire é responsabilizar um ficcionista pelo crime do personagem. É como se o Estado levasse Dostoievski à barra dos tribunais pelo crime de Raskolnikoff, acusasse Gide pelo assassinato de Lafcadio ou responsabilizasse Camus pelo gesto de Meursault. Neste caso, com um agravante: a vítima de Meursault era um árabe. Racismo óbvio de Camus.

Imagine o leitor o drama de um historiador na atual Turquia. Sendo sua afirmação bem mais grave que a de um ficcionista, o historiador terá de pular o período entre 1894 e 1915, quando ocorreram as chacinas muçulmanas. Elif foi absolvida. Mas o artigo do Código Penal turco, no qual foi enquadrada, continua em vigor. "Se o artigo 301 for interpretado dessa maneira, ninguém mais poderá escrever romances na Turquia, ninguém mais poderá fazer filmes", disse Elif. Outros escritores e jornalistas também estão sendo processados por promotores por acusações semelhantes. A Turquia é hoje um país partido em dois. Uma metade assume os valores ocidentais e a outra se refugia no Islã. O obscurantismo desta segunda parcela é o que até hoje dificulta a entrada da Turquia na comunidade européia.

Terça-feira passada, Pervez Musharraf pediu para a ONU proibir a difamação do Islã, em discurso diante da 61ª Assembléia Geral das Nações Unidas. "É imperativo pôr fim à discriminação racial e religiosa contra os muçulmanos e proibir a difamação do Islã", disse o presidente paquistanês. Por difamação do Islã, Musharraf entende as declarações do papa Bento XVI que vincularam a fé muçulmana à violência. Como se o papa tivesse dito alguma novidade.

Aproveitando o embalo, os países muçulmanos pediram na ONU a abertura de negociações diplomáticas para a criação de um acordo internacional que proíba a difamação religiosa. Para Doudou Diene, relator de assuntos sobre racismo, os comentários do papa foram profundamente preocupantes. O Irã, por sua vez, alerta que o direito de expressão não é absoluto quando se trata de um debate sobre as religiões. No fundo, o que estes senhores querem é que seja apagada da História a memória do Islã, pelo menos no que se refere a massacres, execuções, escravidão e intolerância.

Se alguma autoridade política ou religiosa muçulmana não acredita que o Islã se expande a fio de espada, melhor começar jogando à fogueira a obra toda de Al Tabari (839-923), o mais famoso historiador muçulmano, que compila 62 expedições guerreiras entre 624 e 632, comandadas ora por Maomé, ora por seus subordinados. Imagine-se o escândalo dos mulás se Bento XVI comentasse a crônica de ataques, pilhagens, execuções, decapitações, tomadas de escravos, degolas, matanças de judeus, raptos de mulheres e crianças e destruição de ídolos de outras religiões que marcaram a vida do profeta.

Isso sem falar nos massacres que se estenderam desde o século VIII ao XX, na Índia, Egito, Turquia, Armênia, Espanha, Grécia, Paquistão, Tunísia, Marrocos, Iêmen, judeus da África do Norte, perseguições de budistas, conversões forçadas de judeus no Irã e no Iraque, captura de cristãos na Grécia, Sérvia, Bulgária, Armênia e Albânia, massacres na Geórgia, expulsão de judeus da Arábia Saudita. Isso sem falar na invasão da Península Ibérica em 711, em mais de um milhão e meio de europeus feitos escravos entre os séculos XVI e XVII e no cerco à Viena, no século XVII, quando foram derrotados. Fosse Sua Santidade, eu desfiaria este rosário de horrores em resposta ao Islã. Se quiserem negar tais fatos, que neguem sua própria história e contratem novos escribas para reescrevê-la. Mas Sua Santidade, por dever de ofício, tem de usar diplomacia.

Eu não tenho. Não sou pontífice, nada tenho a ver com pontes e posso dizer o que penso. Defendo desde há muito a tese de que esta arrogância muçulmana teve suas origens em 1989, quando o indiano Salman Rushdie publicou no Ocidente Versículos Satânicos. Embora fosse indiano com nacionalidade britânica, Rushdie foi alvo de uma fatwa de Khomeini, então todo-poderoso da "revolução" no Irã. Do alto de um minarete, o aiatolá condenou um cidadão europeu à morte.

A Europa aceitou tranqüilamente a sentença do aiatolá. Em vez de isolar o Irã, o Reino Unido passou a dar proteção a Rushdie. Os demais países da comunidade se mantiveram em silêncio obsequioso. Ora, não se tratava apenas de proteger um escritor perseguido. Mas de repudiar a pretensão megalômana de um padre persa, que pretendeu legislar inclusive no estrangeiro. A apostasia, ou crime, segundo os muçulmanos, havia ocorrido em Londres, com a publicação do livro. Khomeiny ordenou não só a condenação à morte - como também a execução da sentença - de Rushdie, assim como de todos os implicados na publicação do livro, em território europeu ou onde quer que estes "criminosos" estivessem.

Só a apatia dos países europeus pode explicar a reação desmesurada dos árabes, tanto às caricaturas anódinas de um obscuro jornal do sudoeste da Dinamarca como à citação pelo papa de uma evidência histórica. Se naquele momento as democracias ocidentais tivessem cortado relações com Teerã, provavelmente não estaríamos vendo hoje este escândalo hipócrita do mundo muçulmano.

Os europeus continuam comendo seus croissants, dizia. Os croissants são decorrência do ataque do Islã à Europa. Por ocasião do cerco muçulmano à Viena, os padeiros da cidade combinaram uma senha. Quando os mouros, empunhando o crescente e as cimitarras, se aproximassem da cidade, os pães teriam a forma da lua crescente. Pela escassa reação do continente à arrogância dos sarracenos, deduzimos que os europeus contemporâneos já não conhecem História e esqueceram a origem do pão que comem.

sábado, setembro 23, 2006
 
MINISTROS EM ECLÂMPSIA



O Mandalete para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o Explicador-Geral da República, Tarso Hertz Genro, quase entraram em eclâmpsia com as revelações do último escândalo semanal protagonizado pelo PT, o da compra de dossiês. Garcia gritou com jornalistas, negando ter dito o que havia dito sobre seu xará, o ministro Marco Aurélio Mello. E Genro denunciou a manipulação da informação, ante uma reunião de prefeitos em Brasília:

"A veia democrática do povo brasileiro não permitirá que o resultado das urnas seja fraudado pela manipulação da informação, pela manipulação eleitoral e pela forma absolutamente arbitrária com que o governo vem sendo atacado.Esses prefeitos estão aqui para responder àqueles que, já derrotados nas urnas, querem melar o processo eleitoral, preparando a instabilidade política futura."

O Supremo Apedeuta e capo di tutti capi - por sua vez - acusa a oposição de golpista. A oposição não merece tal encômio. Foi inepta desde sempre em acusar o governo petista. Todas as acusações ao governo do PT - desde a affaire Waldomiro até este último escândalo dos dossiês - têm sua origem no PT ou na base aliada.

Se alguém quer golpe, desculpe-me o Apedeuta, é seu próprio partido.

 
MARXISMO HOJE SÓ VICEJA
À SOMBRA DA UNIVERSIDADE





A livraria e editora católico-comunista Duas Cidades fechou hoje suas portas em São Paulo. Por falta de clientela. Até as 2h da tarde de hoje, seu estoque de literatura e filosofia estava sendo liquidado, por preços de cinco a dez reais. A livraria, que existia há 52 anos, foi ponto de encontro de católicos, comunistas, guerrilheiros, terroristas, petistas e esquerdistas em geral.

Não foram poucas as livrarias, editoras e coleções no Brasil que morreram com a queda do Muro de Berlim. A Duas Cidades até que durou muito. Sua proprietária, Maria Antônia Pavan de Santa Cruz, tem intuição para o mercado: "Talvez a gente reabra em outro endereço, próximo de universidades."

O marxismo no Brasil nasceu, cresceu e vingou nas universidades. E hoje só sobrevive à sombra da universidade. Antônia sabe disso.

sexta-feira, setembro 22, 2006
 
UNIVERSIDADE PÚBLICA ASSUME VIGARICE




Em 2003, o Ministério da Educação autorizou o funcionamento em São Paulo da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU). Da grade curricular constam Botânica Umbandista, Fundamentos de Psicologia Geral e Umbandista, Biologia Geral e Espiritual. Donde se conclui que deve também existir uma botânica católica, outra judia, outra luterana e assim por diante. As botânicas florescerão com o mesmo viço das profissões de fé. Idem no que diz respeito à psicologia. Quanto à biologia espiritual, é de perguntar-se qual será a natureza do material estudado pelos professores. Seres etéreos, evanescentes, inefáveis?

Em janeiro de 2004, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, sancionou lei que permite a oferta, na rede de saúde, de "terapias naturais" não reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, como aromaterapia e cromoterapia, fitoterapia (tratamento com plantas), terapia floral, geoterapia (terapia com terra, argila, barro), e até a iridiologia.

Não bastassem tais vigarices serem elevadas ao status de ciência, a Universidade de Brasília criou um curso de Astrologia, promovido pelo Núcleo de Estudos dos Fenômenos Paranormais, que se dedica ainda a outros temas do gênero, como ufologia e conscientologia, seja lá o que isto quer dizer. As lições de astrologia duram quatro meses. Os estudantes, a maioria com diploma universitário, vêm das mais diversas áreas - da psicologia à física. Os 20 alunos da sétima turma começaram os estudos na semana passada.

Que ousados executivos do Além queiram dourar seus ofícios com diploma de nível superior entende-se. Claro que em breve teremos doutores em Teologia Umbandista e - por que não? - faculdades de Teologia do Candomblé. Isso sem falar nos mestres e doutores astrólogos. Mais um pouco, e o senador comunista Artur da Távola verá seu sonho realizado, a regulamentação da profissão de astrólogo.

O que pasma é ver o MEC endossando tais excrescências. Verdade que a coisa começou há muitos séculos. Quando, na Idade Média, surgiram os primeiros cursos universitários de Teologia, as portas estavam abertas para toda e qualquer especulação. Teologia é a ciência do conhecimento de Deus. Isto é, do conhecimento do que não existe. Se os católicos têm uma ciência do que não existe, porque umbandistas e astrólogos não a teriam?

quinta-feira, setembro 21, 2006
 
VIAJAR - RUMO AOS FIORDES (1)



Certo dia alguém perguntou-me: qual é o país mais lindo do mundo? Bom, não tenho muita autoridade para responder a esta pergunta, posso apenas falar do mais lindo que eu conheço. Aí a questão se bifurca: sob que ponto vista? Pela geografia ou pelo povo? Se for pela geografia, eu colocaria acima de todos a Noruega. Jamais vi algo tão deslumbrante. Há horas em que você não resiste e chora. Ao Chile eu concederia um honroso segundo lugar. Quanto ao povo, afirmo sem hesitar: Espanha. E logo depois Itália. Mas isto é outro assunto.

Deserto é lindo. Mas fiordes são mais. Neve e gelo sempre me fascinaram, não terá sido por acaso que o primeiro país que escolhi para viajar foi a Suécia. Andávamos - eu e a Baixinha - com ganas de frio e brancura e pensamos na Terra do Fogo. Fiz as primeiras pesquisas e o preço - só para chegar lá - era salgado, coisa de 1.800 dólares. Bom, se o que se queria era climas glaciais, para pesquisar sobre a Noruega não se pagava nada. Milagre dos milagres, encontrei uma passagem pela Swissair São Paulo-Oslo-Estocolmo-São Paulo por 669 dólares. Ir até o distante Ártico me custava três vezes menos que viajar à nossa vizinha Antártida. Então é para lá que vamos. Bem entendido, nem sempre se come pão quente. Aquela passagem caiu do céu. Viajamos em junho de 2001 e em outubro a Swissair decretava falência.

Em meus dias de Estocolmo, não cheguei a conhecer o sol da meia-noite. Conheci no máximo o das dez ou onze horas, o que já é fascinante. As noites são fantasmagoricamente brancas e se pode ler um jornal à luz da noite. Como isto não dura mais que um mês, os suecos parecem ser tomados por uma certa histeria, o que não é de surpreender em pessoas que tiveram quase oito meses de inverno rude. Giram a noite toda pelas ruas, parques e bosques e eu os entendo. Como eu chegara na Suécia em dezembro, quando fazia noite às duas da tarde, caí na orgia estival. Nunca na vida senti tanto quanto o sol faz falta. Ia para a piscina às quatro da madrugada, já que entre o sol das quatro e o do meio-dia não havia grande diferença. Nestes dias, o sol é um astro paranóico que roda 24 horas paralelo ao horizonte. Mas faltava-me o sol da meia-noite mesmo. E queria partilhá-lo com a mulher que mais quis em minha vida.

Ao viajar, procuro fugir dos verões. Verão é desconfortável em quase todos os rincões do mundo. Exceto na proximidade dos pólos. Mas não se iluda o leitor com a palavra verão. Subindo o litoral da Noruega, enfrentei neve e temperaturas de zero grau. Se verões tropicais não me agradam, o verão boreal me fascina.

Começamos por Oslo. Capital pachorrenta, com ar de província e arquitetura afável. O primeiro choque não é térmico, mas no bolso. Islândia à parte, tem os preços mais caros da Escandinávia e, conseqüentemente, da Europa. Dói na alma quando se vai jantar, e dói mais ainda quando se pede um vinho. Às restrições ao álcool são duras. Nos systembolag, lojas estatais onde se compra bebibas alcoólicas, há um cartaz:

PROIBIDA A VENDA A MENORES DE 25 ANOS

Um chope, seis euro. Quando voltei pela Suécia, respirei aliviado. O chope custava apenas quatro euro. Voltando a Oslo: de lá toma-se o Flambana, um trem de montanha com vista panorâmica rumo a Bergen, cidade considerada a entrada dos fiordes. O trem o deixará em Flam, pequena aldeia com uma dúzia de casas coloridas fincadas em meio à montanha e ao silêncio. A viagem não dá descanso aos olhos: cascatas que parecem cair dos céus, uma delas quase se abatendo sobre o trem e muito verde. Em Flam há um hotel e no hotel um restaurante com bom passadio. Recomendo como introdução ao silêncio do Sognefjord, o mais extenso dos fiordes (200 quilômetros), que atinge a profundidade de 1.300 metros.

Fiordes são entradas do mar na montanha, que se estendem por vários quilômetros continente a dentro. São estreitos mas podem atingir de 150 a 1500 metros de profundidade, o que lhes permitiu servir de esconderijo a submarinos alemães na Segunda Guerra. Existem em regiões costeiras, onde o clima foi ou é suficientemente frio para formar geleiras abaixo do nível do mar. Navios gigantescos como o Queen Elizabeth conseguem atracar em portos minúsculos, em aldeias que não têm nem 5% da população do navio. Como o continente está subindo, à razão de um centímetro por ano, os fiordes não existirão mais dentro de alguns milênios. Assim, melhor visitá-los logo.

A palavra mágica para esta viagem é Hurtigruten (Expresso Costeiro), uma linha marítima que vai de Bergen a Kirkenes, já nas bordas da fronteira russa. Se você quer dar uma olhadela nos barquinhos da empresa, clique aqui: http://www.hurtigruten.fr. Alguns têm webcams a bordo. O site tem todas as informações necessárias à viagem. Lembre-se: o sol da meia-noite só brilha de meados de maio a julho. Outro detalhe óbvio mas importante: você só verá o sol propriamente dito... quando tiver sol. Se não tiver, as noites brancas já valem a viagem.

quarta-feira, setembro 20, 2006
 
A ETERNA MENTIRA BOLCHEVIQUE



Na última Veja, em crônica intitulada "VIVA LA MUERTE!", escreve Roberto Pompeu de Toledo:

Na Guerra da Espanha, o general Millan Astray, um dos comandantes do lado franquista, celebrizou-se pela divisa "Viva la Muerte!", que usava como grito de guerra. Era um brado "necrófilo e insensato", como disse o filósofo Miguel de Unamuno, corajosamente, na cara de Millan Astray, num famoso episódio.

O leitor que me perdoe, mas vou repetir-me pela enésima vez. Este mito, eternamente alimentado pelos velhos comunistas, é a famosa cena na Universidade de Salamanca, na qual seu reitor, Miguel de Unamuno, teria sido desafiado pelo general "franquista" Millán Astray, com a frase não menos famosa: Viva la muerte! Muera la inteligencia! Ponho franquista entre aspas, pois se havia algum naquela cerimônia, realizada no dia 12 de outubro de 1936 - Día de la Raza - este era Unamuno, que naquele momento representava oficialmente o general Franco. O reitor foi salvo da ira de Astray e da vaia de muitos dos presentes por Doña Carmen Polo, mulher de Franco, que o conduziu pelo braço até uma viatura do Quartel General. No entanto, ao referir-se ao episódio, não há redator que não se refira ao "intelectual anti-franquista Miguel de Unamuno".

Em História Ilustrada de la Guerra Civil, Ricardo de Cierva considera o episódio maltratado pela propaganda, silenciado pelos testemunhas autênticos e tergiversado por comentaristas empenhados em com ele demonstrar uma ou várias teses preconcebidas.

"Celebrava-se no Paraninfo da Universidade de Salamanca a Fiesta de la Raza. Assistia o ato a esposa do recém nomeado chefe de Estado, Dona Carmen Polo de Franco. Presidia a cerimônia o reitor da Universidade, don Miguel de Unamuno. Também estavam presentes, entre outras personalidades, José María Pemán e o general Millán Astray. Este último, em um breve discurso, intercalou um inciso inoportuno no qual confundiu regionalismo com separatismo. Invocou logo a Morte, noiva de sua Legião. Feito o silêncio, todos os olhares convergiram para don Miguel de Unamuno".

Millán Astray era um general de Infantaria, que havia participado das campanhas das Filipinas e Marrocos. Nesta última, perdera um olho e um braço. Julián Zugazagoitia o descreve como um "general recomposto com garfos, madeiras, cordas e vidros". Em sua alocução, falara dos dois cânceres que corroem a Espanha: País Basco e Catalunha. Unamuno, basco e iracundo, tomou a palavra.

- Calar, às vezes, significa mentir - disse o reitor com voz firme - porque o silêncio pode ser interpretado como aquiescência. Eu não poderia sobreviver a um divórcio entre minha consciência e minha palavra, que sempre formaram um excelente par. Serei breve. A verdade é mais verdade quando se manifesta desnuda, livre de adornos e palavrório. Gostaria de comentar o discurso - para chamá-lo de alguma forma - do general Millán Astray, que se encontra entre nós.

Segundo o relato de Luis Portillo, em Vida y martírio de don Miguel de Unamuno, o general tornou-se rígido.

- Deixemos de lado - continuou Unamuno - o insulto pessoal que supõe a repentina explosão de ofensas contra bascos e catalães. Eu nasci em Bilbao, em meio aos bombardeios da segunda guerra carlista. Mais adiante, me casei com esta cidade de Salamanca, tão querida, mas sem esquecer jamais minha cidade natal. O bispo, queira ou não, é catalão, nascido em Barcelona.

Após uma pausa em meio ao silêncio tenso, continuou:

- Acabo de ouvir o grito necrófilo e sem sentido de Viva a Morte! Isto me soa o mesmo que Morra a Vida! E eu, que passei toda minha vida criando paradoxos que provocaram o enfado dos que não os compreenderam, tenho de dizer-lhes, como autoridade na matéria, que este ridículo paradoxo me parece repelente. Posto que foi proclamado em homenagem ao último orador, entendo que foi dirigida a ele, se bem que de uma forma excessiva e tortuosa, como testemunho de que ele mesmo é o símbolo da morte. E outra coisa! O general Millán Astray é um inválido. Não é preciso dizê-lo em tom mais baixo. É um inválido de guerra. Também o foi Cervantes. Mas os extremos não servem como norma. Desgraçadamente, há hoje em dia inválidos demais na Espanha e logo haverá mais, se Deus não nos ajuda. Um inválido que careça da grandeza espiritual de Cervantes, que era um homem - não um superhomem - viril e completo apesar de suas mutilações, um inválido, como disse, que careça dessa superioridade do espírito, costuma sentir-se aliviado vendo como aumenta o número de mutilados em torno a si. O general Millán Astray gostaria de criar uma Espanha nova - criação negativa, sem dúvida - segundo sua própria imagem. E por isso desejaria ver uma Espanha mutilada, como inconscientemente deu a entender.

Astray não consegue conter-se e grita:

- Morra a inteligência!

José María Pemán corrige:

- Não! Viva a inteligência! Morram os maus intelectuais!

Há um alvoroço no Paraninfo, professores togados cercam Unamuno, os camisas azuis se juntam em torno a Astray. Unamuno retoma a palavra:

- Este é o templo da inteligência. E eu sou seu sumo sacerdote. Vós estais profanando seu recinto sagrado. Eu sempre fui, diga o que diga o provérbio, um profeta em meu próprio país. Vencereis mas não convencereis. Vencereis porque tendes sobrada força bruta. Mas não convencereis, porque convencer significa persuadir. E para persuadir, necessitais algo que vos falta: razão e direito de luta. Me parece inútil pedir-vos que penseis na Espanha. Tenho dito...

A esposa do general Franco, rodeada por sua escolta, toma Unamuno pelo braço e o conduz até a porta da Universidade, onde o esperava um carro do Quartel General. Mas a narração soa melhor aos ouvidos dos animais midiáticos mostrando Astray como franquista, afinal era general. Unamuno - basco, filósofo e reitor de uma universidade - só poderia ser antifranquista. A mentira impressa passa então a fundamentar teses e tende a fixar-se como História. Mas os fatos são teimosos e, mais dia menos dia, mostram sua verdadeira face.

É espantoso ver um colunista de Veja repetindo, ainda hoje, em 2006, esta velha mentira bolchevique.

 
DIGNIDADE...
EM BUDAPESTE




Budapeste viveu ontem sua segunda noite de confrontos entre manifestantes e as forças de segurança húngaras. Pelo menos 69 pessoas ficaram feridas, com quatro policiais em estado grave, na madrugada de hoje. Os manifestantes querem a renúncia do primeiro-ministro Ferenc Gyurcsány. Em gravação vazada no domingo passado, Gyurcsány reconhece diante da cúpula do Partido Socialista, em 26 de maio, que mentiu durante um ano e meio sobre a crise econômica nacional. "Fizemos tudo em segredo para que nada fosse publicado antes das eleições", admitiu Gyurcsány na gravação.

Um povo exige a renúncia de um ministro que mentiu! Transporte o leitor esta indignação para o Brasil. Teríamos de trocar ministros a cada semana.

segunda-feira, setembro 18, 2006
 
MAOMÉ, ESPADA E CRISTO


Em 13 de maio do ano passado, a TV da Autoridade Palestina transmitiu o sermão das sextas-feiras do xeque Ibrahim Mudeiris. Seleciono algumas pérolas do mesmo:

"Com o estabelecimento do Estado de Israel, a nação islâmica perdeu-se em sua totalidade, porque Israel é um câncer que se espalha por todo o corpo da nação islâmica e porque os judeus são um vírus semelhante ao da AIDS, da qual o mundo inteiro sofre as dores. (...) Vocês vão descobrir que os judeus estão por trás de todos os conflitos civis deste mundo. Os judeus estão por trás do sofrimento das nações.

"Nós já governamos o mundo antes e por Alá há de chegar o dia em que o dominaremos totalmente de novo. Há de chegar o dia em que dominaremos os Estados Unidos. Há de vir o dia em que governaremos a Inglaterra e o mundo todo - exceto para os judeus. Os judeus não gozarão de uma vida tranqüila debaixo do nosso domínio, porque são traiçoeiros por natureza, como têm sido por toda a história. Há de vir o dia em que todas as coisas ficarão livres dos judeus - até mesmo as pedras e as árvores que foram feridas por eles. Ouçam o Profeta Maomé que lhes fala sobre o maligno fim reservado para os judeus. As pedras e as árvores desejarão que os mulçumanos exterminem todo judeu."

Alguns jornais do Ocidente noticiaram o sermão. Apesar do anti-semitismo e totalitarismo nele expressos, não houve escândalo maior na Europa e Estados Unidos. O pronunciamento do xeque foi absorvido como a manifestação de um fanático.

Terça-feira passada, o papa Bento XVI citou uma frase de um imperador do século XIV, Manuel II, o Paleólogo (1391-1425), dirigida a um estudioso persa: "Mostre-me então, o que Maomé trouxe de novo, e ali só encontrará coisas más e desumanas, como esta, de que ele determinou, que se propague através da espada a fé que ele prega".

Continua o Sumo Pontífice: "Após ter atacado deste jeito, o imperador argumenta, então, pormenorizadamente, porque a propagação da fé através da violência é absurda. Ela está em contradição com a essência de Deus e da alma. 'Deus não tem prazer no sangue', diz ele, e agir de forma irracional contraria a essência de Deus. A fé é fruto da alma, não do corpo. Quem, portanto, pretende conduzir alguém à fé, precisa da habilidade do bom discurso e de um raciocínio correto, mas não de violência e ameaça... Para convencer uma alma sensata, necessita-se não de seu braço, não de instrumentos de agressão nem de outros meios pelos quais se pode ameaçar alguém de morte ..."

O Islã todo eriçou-se mundo afora. Bento XVI foi comparado com Hitler e Mussolini. Egito e Marrocos chamaram seus embaixadores no Vaticano de volta para avaliar as declarações do papa. Na Caxemira, Índia, protestos são organizados diariamente. Na Cisjordânia, homens armados atacaram cinco igreja católicas. Na Líbia, religiosos afirmam que o insulto nos leva de volta à era das Cruzadas contra os muçulmanos, liderados pelos políticos e religiosos ocidentais. Na cidade de Gaza, na Palestina, duas mil pessoas saíram às ruas para protestar contra o papa. Sábado passado, iraquianos membros do Khaiech al-Mujahedin prometeram lançar ataques contra Roma e o Vaticano, em resposta às palavras de Bento XVI. "Juramos destruir sua cruz no coração de Roma. E que o Vaticano será golpeado e irá chorar por seu papa", anunciou o grupo, que qualificou Bento XVI como "cão dos cruzados".

Contra o Manuel, o autor da frase, não se ouve restrição alguma. No fundo, os mulás estão agindo como agitprops entrincheirados nas mesquitas e querem reproduzir o escândalo de fevereiro passado, das charges dinamarquesas. Ora, nem o papa nem o imperador disseram uma inverdade. O Islã tem se expandido pela espada e não por acaso Maomé era um guerreiro. Mais ainda: o papa não disse nada. Apenas citou um diálogo transcorrido há mais de seis séculos. Obviamente, os muçulmanos não teriam nenhum ganho político xingando o Manuel. Xingue-se então o Bento. Imagine-se o escândalo se o papa citasse Dante, que na Divina Comédia colocou Maomé no oitavo círculo do inferno, destinado aos semeadores de discórdia.

Ora, Maomé não conduziu os árabes à fé através da habilidade do bom discurso e de um raciocínio correto, mas exatamente pela violência e ameaça. Homem de guerra, o profeta liderou sete anos de sangrentas batalhas entre Medina, muçulmana, e sua cidade natal, Meca, cujos principais representantes eram pagãos. No transcurso de sua vida, Maomé comandou 27 expedições militares e organizou outras tantas, lideradas por seus subordinados. Quem não se rendesse ao Islã e pagasse o dízimo poderia ser roubado, escravizado ou morto pelos crentes.

Na batalha dos muçulmanos contra a tribo judaica de Bani Qurayzah, todos os homens foram condenados à morte e as mulheres e crianças à escravidão. Setecentos judeus foram decapitados com um golpe de espada e tiveram seus corpos jogados em valas. A matança durou o dia todo e o último grupo foi executado à luz de tochas. Quem entra em Meca, em janeiro de 630, não é um profeta imbuído de mensagens de paz, mas um Maomé conquistador à frente de um exército vitorioso. Maomé conseguiu, antes de sua morte, unificar praticamente toda a Arábia sob uma só religião, o Islã... a golpes de espada. Não bastassem estes episódios históricos, o Alcorão concita os muçulmanos em várias de suas suras a exterminar os infiéis. Se algum dia estes fatos não puderem ser mencionados no Ocidente sob pena de guerra santa, nesse dia o Ocidente terá capitulado definitivamente frente ao islamismo.

Bento XVI voltou timidamente atrás em sua declaração, dizendo-se desolado porque seus propósitos tenham sido vistos como ofensivos à sensibilidade dos fiéis muçulmanos. Ora, ofensivos não foram, a menos que se considere a História como calúnia. Por outro lado, Sua Santidade parece ter esquecido daquele Cristo que um dia disse: "eu não vim trazer paz, mas espada". A mesma espada que viajou junto com a cruz nas expedições dos conquistadores, a mesma que degolou cátaros e albigenses, a mesma que acompanhou os Cruzados em seus massacres no Oriente. Isso sem falar, é claro, na Inquisição, que obrigou os judeus da Europa, sob pena de morte, a converter-se ao catolicismo.

Isso sem falar que o Antigo Testamento começa com um pancídio, do qual só se salvam Noé e o seus. Jeová ordena Israel a matar os amorreus, heteus, ferezeus, cananeus, heveus, jebuseus, mais tribos do que massacrou Maomé. Coisas do livro antigo, dirão almas mais complacentes. Assim fosse. No Novo Testamento, no Apocalipse, o Cordeiro volta para exterminar o que sobrou da humanidade.

O monoteísmo surge da areia, diz Michel Onfray. As três grandes religiões contemporâneas nasceram no deserto. Não é de espantar que seus livros contenham prescrições bárbaras, que só serão amenizadas com o evento da urbe. Defendo a idéia de que estes livros antigos sejam preservados como documentos históricos, mas abandonados como corpus normativo de qualquer religião que se pretenda contemporânea.

Enquanto isso, graças a uma frase pronunciada seis séculos atrás, Roma encontra-se ameaçada pelo terror islâmico. É muita hipocrisia. Se os muçulmanos não manifestaram reprovação alguma à retórica belicista do xeque Mudeiris no ano passado, não têm hoje autoridade alguma para contestar a menção de Bento XVI a fatos históricos.

domingo, setembro 17, 2006
 
SÃO PAULO PARA INGLÊS VER



Em sua edição de hoje, o jornal dominical britânico The Observer afirma que São Paulo está "à beira da guerra civil" e "paralisada pelo medo". Ao longo de oito páginas, o repórter Tom Phillips apresenta números da violência na capital paulista e chega a repetir a comparação da situação da cidade com a de áreas em guerra. "No Iraque, 117 soldados britânicos foram mortos desde que o país foi invadido em 2003, enquanto 23 foram mortos desde o início de agosto no Afeganistão. Em São Paulo, no auge da violência de maio, pelo menos 492 pessoas morreram por ferimentos de armas de fogo em pouco mais de uma semana".

No que diz respeito às mortes por semana, o jornal está cheio de razão. Mas estas mortes não são de hoje. Elas ocorrem diariamente há mais de dez anos. Como os mortos, em sua maioria, são pobres diabos da periferia, é como se ninguém tivesse morrido. Mortes anônimas não interessam aos jornais. Mas quando uma advogada mata um coronel, primeira página para o crime.

Quanto à cidade estar paralisada pelo medo, vai ver que o repórter confundiu engarrafamento com medo. Há uma espécie de paralisação em São Paulo, quase todos os fins de tarde, que se agrava nas sextas-feiras ou em vésperas de feriadão. Guerra civil? Medo? O único medo do paulistano nos fins-de-semana é que a fila do restaurante esteja muito longa. Ou que o tempo não esteja bom para a praia.

sábado, setembro 16, 2006
 
UM CASO DE DEMISSÃO



O melhor serviço que alguém pode prestar a Lula e ao PT é atribuir-lhes pecados que não cometeram. A defesa torna-se então muito fácil para os petistas. Foi o que aconteceu hoje com um articulista de O Estado de São Paulo, o jornalista Mauro Chaves. Em um momento de obnubilação intelectual, atribuiu ao Supremo Apedeuta frases que rolam pela Internet como sendo suas mas que obviamente não são.

E para voltar a ser respeitado o presidente precisa de mais tempo - pelo menos um mês - para explicar ao País e ao mundo o significado preciso das frases que pronunciou durante seus primeiros quatro anos de gestão, tais como:

Eu gostaria de ter estudado latim, assim eu poderia me comunicar melhor com o povo da América Latina.

A grande maioria de nossas importações vem de fora do País.

Se não tivermos sucesso, corremos o risco de fracassarmos.

Uma palavra resume provavelmente a responsabilidade de qualquer governante. E essa palavra é estar preparado.

O futuro será melhor amanhã.

Eu mantenho todas as declarações erradas que fiz.

Nós temos um firme compromisso com a Otan. Nós temos um firme compromisso com a Europa. Nós fazemos parte da Europa.

Um número baixo de votantes é uma indicação de que menas pessoas estão a votar.

Nós estamos preparados para qualquer imprevisto que possa ocorrer ou não.

Para a Nasa, o espaço ainda é alta prioridade.

Não é a poluição que está prejudicando o meio ambiente. São as impurezas no ar e na água que fazem isso.

É tempo para a raça humana entrar no sistema solar.


É espantoso ver um articulista de um jornal prestigioso como o Estadão repetindo tais bobagens. Estas frases, em verdade, são de autoria de Dan Quayle, vice-presidente do Bush pai (1989-1993) e foram amplamente divulgadas na imprensa. Cito algumas no original:

The future will be better tomorrow.

We have a firm commitment to NATO, we are a part of NATO. We have a firm commitment to Europe. We are a part of Europe.

It's time for the human race to enter the solar system.

For NASA, space is still a high priority.

I stand by all the misstatements that I've made.



Não é necessário maior argúcia para intuir que Lula jamais teria se pronunciado sobre a Nasa, Otan ou sistema solar. Por outro lado, a primeira frase, sobre falar latim para comunicar-se com a América Latina, virou folclore nos anos 90. Para demonstrar a abissal insciência do Supremo Apedeuta não é preciso recorrer a seu homólogo - no caso, a palavra se impõe - americano. Basta citar as besteiras que ele enuncia todos os dias.

Em jornal que se pretende sério, editorialista assim desinformado já devia estar no olho da rua.

 
IN MEMORIAM ORIANA FALLACI



Morreu Oriana Fallaci, um dos raros escritores europeus do século passado com coragem de condenar o islamismo e defender o Ocidente. Em sua memória, republico crônica que escrevi em maio do ano passado.


DE EUROPA A EURÁBIA

A escritora italiana Oriana Fallaci, atualmente residindo em Nova York, foi intimada por um tribunal de Bergamo, Itália, na terça-feira passada, a comparecer ante a Justiça, para responder por possível ofensa contra o Islã, expressa em um de seus livros. Ora, o Corão ordena aos muçulmanos matar os infiéis: "Matai-os onde quer que os encontreis" (sura 2:191). Ou sura 4:91: "...capturai-os e matai-os, onde quer que os acheis, porque sobre isto vos concedemos autoridade absoluta". Isto sem falar em outras incitações ao assassinato. Nesta nossa era politicamente correta, ordenar a matança de cristãos, pode. O que não pode é tornar público certos fatos sobre o Islã.

Muitos outros versículos do gênero podem ser encontrados neste livro que é publicado e difundido no Ocidente, sem que ocidental algum se sinta ofendido ou ameaçado. Mas ai de quem repudiar estas incitações ao crime e ao ódio religioso! Seja anátema! Um boato não comprovado de que um Corão teria sido jogado numa latrina por soldados americanos (o que só serviria para entupir a latrina), provocou alaridos e assassinatos em todo o mundo islâmico. A morte em massa de iraquianos por terroristas sírios e iraquianos não sensibiliza muçulmano algum.

Há uns bons três anos, comentei La Rabia e l'Orgoglio, o soberbo panfleto de Oriana Fallaci em defesa do Ocidente e seus valores, escrito por ocasião do atentado ao World Trade Center e mais tarde transformado em livro. Em meados de dezembro de 2001, quando foi lançado, eu estava em Roma e via as pilhas de livros sumindo rapidamente, de minuto em minuto, nas livrarias. Vendeu como pão quente, chegando a atingir 50 mil cópias por dia, proeza sequer igualada pelos Harry Potters da vida. O livro foi traduzido em todos os idiomas da Europa e sua recepção foi tamanha na Itália, que velhinhas romanas compravam-no às pilhas e saiam a vendê-lo nas ruas e estradas.

O que só demonstra a colossal covardia dos editores brasileiros. As livrarias estão repletas dos lixos de Paulo Coelho ou Jô Soares e nem sombra do livro da escritora italiana. Que, nesta altura, já produziu mais dois, ambos lançados no ano passado e também ignorados pelo mercado livreiro tupiniquim: La Forza della Ragione e Oriana Fallaci intervista Oriana Fallaci.

Me atenho ao primeiro, no qual Fallaci mostra uma Europa prestes a render-se à nova invasão do Islã. Se os árabes foram expulsos do velho continente pela força das lanças e espadas há cinco séculos, estão voltando agora munidos de armas mais sutis: direitos humanos, tolerância religiosa, diversidade cultural ... e o uso do ventre das muçulmanas. A autora já nos fala de uma Eurábia - e o neologismo não é seu, mas título de uma revista criada em 1975, por entidades européias em parceira com grupos árabes - na qual os muçulmanos passaram a impor suas mesquitas, seus ritos e atrocidades, sem respeito algum aos poderes europeus. Na Inglaterra já existe uma organização chamada Parlamento Muçulmano, cujo primeiro objetivo é recordar aos imigrantes que não estão obrigados a respeitar as leis inglesas: "Para um muçulmano respeitar as leis em vigor no país que o acolhe é algo facultativo. Um muçulmano tem que obedecer a Sharia e ponto", diz sua Carta Constituinte.

O que permitiu ao conselheiro da Federação Espanhola de Entidades Religiosas Islâmicas, o imã Mohammed Kamal Mustafá, nesta Europa do século XXI, escrever um manual sobre como surrar uma mulher: "Utilizar uma vara fina e leve, útil para golpeá-la desde longe. Golpeá-la apenas no corpo, nas mãos, nos pés. Nunca no rosto, porque se vêem as cicatrizes e os hematomas. Lembrar que os golpes devem fazer sofrer psicologicamente, não apenas fisicamente".

Em Granada, no bairro de Albaicín, os árabes criaram um Estado dentro do Estado espanhol, que vive com suas próprias leis e instituições. Com seu hospital, cemitério, matadouro, jornal, bibliotecas e escolas (onde se ensina exclusivamente a memorizar o Corão). Não bastasse isso, criaram moedas próprias, de ouro e prata, cunhadas segundo o modelo dos dirham utilizados nos tempos de Boabdil, que o Ministério da Fazenda espanhol finge ignorar.

Na Itália, centro histórico e político do cristianismo, as comunidades islâmicas já exigem o ensino do Corão não só nas escolas como nas faculdades de Direito, Teologia, Filosofia e História. Conquistaram ainda uma antiga e absurda reivindicação (que comentei há alguns anos, quando ainda era projeto), a de permitir que as mulheres árabes portem véu... nas carteiras de identificação. Em 1995, um ex-ministro do Interior emitiu uma circular informando a polícia que a obrigação de aparecer com a cabeça descoberta nas fotos dos documentos se referia somente ao chapéu. "Para não atentar contra o princípio constitucional garantido pelo artigo 19 em matéria de culto e liberdade religiosa, está, pois, permitido colocar nos documentos de identidade uma foto com a cabeça coberta com as citadas prendas" (as que formam parte da indumentária islâmica, entre elas o chador, o hijab e o turbante).

As mesquitas estão nascendo em todas as capitais e grandes cidade européias como cogumelos após a chuva, com apoio político e financeiro do Estado... e mesmo da Igreja Católica. Em Paris, o Instituto Cultural Islâmico da Rue Tanger, dirigido pelo fundamentalista argelino Larbi Kechat (preso mais tarde por seus vínculos com a Al Qaeda), foi criado graças ao apoio de dois padres católicos. Em Lyon, a Grande Mesquita foi mandada fundar pelo cardeal Decourtray. A Igreja Católica, diz Fallaci, "no fundo está de acordo com o Islã, porque os padres se entendem entre eles".

Outro fato insólito que a autora denuncia é a adesão das esquerdas ao islamismo. "Com o afundamento da União Soviética e com o ressurgir do capitalismo na China, a Esquerda perdeu seus pontos de referência. Ergo, se aferra ao Islã como a uma tábua de salvação". O que explica a nonchalance com que certos filósofos contemporâneos navegam do marxismo ao catolicismo e finalmente ao islamismo, pobres diabos imaturos em busca desesperada de um absoluto qualquer.

E por aí vai. Catei três ou quatro exemplos entre as centenas que Fallaci arrola. Se você gosta da Europa e da cultura européia, procure urgente este livro na Internet. Porque aqui, tão cedo não será editado. E mesmo talvez nunca. Para concluir, transcrevo este depoimento surpreendente de uma italiana de Milão, Aisha Farina, convertida ao islamismo. Para Aisha, a dominação da Europa é apenas uma questão de tempo.

- Um dia Roma será uma cidade aberta ao Islã e, de fato, já é uma cidade aberta. Porque nós, os muçulmanos, somos muitos. Milhares e milhares, muitíssimos. Mas não devem assustar-se. Isto não significa que nós queiramos conquistá-los com os exércitos, com as armas. Talvez todos os italianos acabem convertendo-se e de todas as formas os conquistaremos pacificamente. Porque a cada geração nós nos duplicamos ou mais. Por outro lado, vocês se reduzem à metade. Têm um índice de crescimento zero.

Segundo a ONU, os muçulmanos têm uma taxa de crescimento entre 4,6 e 6,4 por cento ao ano. Os cristãos, só 1,4 por cento. Se você ainda tem algum fascínio pela cultura ocidental, faça os cálculos - e as malas - e viaje logo. Pelo que nos relata Fallaci, a Europa que amamos tem seus dias contados.

PS - Se você entende espanhol e quiser ler o texto básico que deu origem a La Rabia e l'Orgoglio, basta pedir-me que o envio com prazer. Acabo de receber também o texto integral em inglês.

sexta-feira, setembro 15, 2006
 
O AUTOR ESQUECIDO



O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.

Fernando Pessoa

quinta-feira, setembro 14, 2006
 
GERALDO SOBE O MORRO



Geraldo Alckmin subiu ontem a favela da Rocinha. Ciceroneado por um traficante e escoltado pelos soldados do tráfico. Se este senhor, na condição de candidato das oposições à Presidência da República já faz acordos com a máfia das drogas, que se poderia esperar se chegasse ao Planalto? É com homens desta laia que a oposição quer vencer o Supremo Apedeuta.

 
A RESPEITO DE JANER CRISTALDO



Muito me entristece ver as críticas aos artigos de Janer Cristaldo - chegando a extremos de pedir a expulsão do articulista do Mídia Sem Máscara. Não entendo o porquê de tanta revolta. O MSM pretende-se um site democrático e aberto às publicações que combatem a viés esquerdista na imprensa, mas não assume uma postura religiosa - apesar dos articulistas, em sua maioria, professarem a moral judaico-cristã. Que se faça a distinção entre o site em si e seus membros, visto que Janer Cristaldo não se encaixa na descrição anterior. O fato de Cristaldo ser ateu não diminui a qualidade de seus textos. Suas críticas à religião sem dúvida são ácidas e eu, como cristão, me sinto alfinetado - mas já me peguei dando razão a ele em outras ocasiões. Mas a pessoa que está convicta de sua fé (e a minha, senhores, é inabalável) não tem motivos para demonstrar tanta animosidade.

Se Cristaldo erra, que se mostre seus erros e rebata-os inteligentemente, em vez de apenas apontar o dedo e dizer que ele está errado ("não julgueis para não ser julgados"). Se Cristaldo acerta, palmas. Não concordar ou não gostar de seus textos é opinião pessoal. Há os que criticam outros articulistas pelo excesso de conteúdo "carola" nos textos; e há os que criticam Janer justamente pela ausência desse conteúdo. O MSM não é um site de notícias, mas de crônicas e artigos que expressam visões às vezes pessoais demais, por isso, a imparcialidade nem sempre é possível. Expulsar Cristaldo é adotar métodos preferidos pela esquerda para silenciar qualquer um que pense diferente. Experimentem entrar em alguma comunidade comunista ou socialista no Orkut e comecem a criticar Marx. Por experiência própria, garanto que não durarão dez minutos lá.

Em outros fóruns pela Internet já fui ameaçado por petistas que queriam usar em mim os mesmos métodos silenciadores da ditadura (tão criticada por eles anteriormente). Conhecer uma opinião diferente, mesmo que contrária às nossas crenças, é de suma importância para o desenvolvimento de um raciocínio refinado. A evolução vem das diferenças, não da mesmice.Tive o prazer de trocar, tempos atrás, e-mails com Janer Cristaldo. Em momento algum ele faltou-me com o respeito por eu ser cristão ou tentou convencer-me do ateísmo. Pelo contrário, foi atencioso e extremamente cordial. De que vale, para os cristãos, atitudes extremistas quando nosso maior diferencial deveria ser justamente a caridade e tolerância? Então, que pratiquemos isso em nossas ações e não da boca pra fora. Não somos seres superiores e donos da verdade. Que cada um viva por aquilo que acredita. Só tem medo do "mal" que Cristaldo pode causar quem não está convicto de sua fé. Do contrário, muito se pode aprender com ele.Fica aqui uma citação a Voltaire: "Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-la."

Emílio Calil

quarta-feira, setembro 13, 2006
 
PAPA NEGA BÍBLIA


Leio na Folha de São Paulo de hoje:

Papa cita "jihad" e livro com crítica a Maomé


O papa Bento 16 causou polêmica ontem ao discursar numa universidade alemã, referindo-se à jihad. Falando sobre fé, ele citou um diálogo entre um imperador bizantino e um estudioso persa do século 14. "O imperador falou: Mostre o que Maomé trouxe, e achará coisas más, como a ordem para espalhar a fé pela espada", disse, enfatizando ser uma citação. E afirmou que a violência é incompatível com a natureza de Deus.


Ora, não é bem o que lemos no Livro. Senão vejamos os pronunciamentos de Jeová:

Gênesis

6:7 - E disse o Senhor: Destruirei da face da terra o homem que criei, tanto o homem como o animal, os répteis e as aves do céu; porque me arrependo de os haver feito.
6:12 - Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.
6:13 - Então disse Deus a Noé: O fim de toda carne é chegado perante mim; porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os destruirei juntamente com a terra.
7:4 - Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei da face da terra todas as criaturas que fiz.
7:21 - Pereceu toda a carne que se movia sobre a terra, tanto ave como gado, animais selvagens, todo réptil que se arrasta sobre a terra, e todo homem.
7:22 - Tudo o que tinha fôlego do espírito de vida em suas narinas, tudo o que havia na terra seca, morreu.
7:23 - Assim foram exterminadas todas as criaturas que havia sobre a face da terra, tanto o homem como o gado, o réptil, e as aves do céu; todos foram exterminados da terra; ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca.

Êxodo

23:23 - Porque o meu Anjo irá diante de ti e te levará aos amorreus, e aos heteus, e aos ferezeus, e aos cananeus, e aos heveus, e aos jebuseus; e eu os destruirei.


Deuteronômio

7:1 - Quando o Senhor teu Deus te houver introduzido na terra a que vais a fim de possuí-la, e tiver lançado fora de diante de ti muitas nações, a saber, os heteus, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu;
7:2 - e quando o Senhor teu Deus tas tiver entregue, e as ferires, totalmente as destruirás; não farás com elas pacto algum, nem terás piedade delas.
7:5 - Mas assim lhes fareis: Derrubareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, cortareis os seus aserins, e queimareis a fogo as suas imagens esculpidas.
7:16 - Consumirás todos os povos que o Senhor teu Deus te entregar; os teus olhos não terão piedade deles; e não servirás a seus deuses, pois isso te seria por laço.
7:21 - Não te espantes diante deles, porque o Senhor teu Deus está no meio de ti, Deus grande e terrível.
7:22 - E o Senhor teu Deus lançará fora de diante de ti, pouco a pouco, estas nações; não poderás destruí-las todas de pronto, para que as feras do campo não se multipliquem contra ti.
7:23 - E o Senhor tas entregará a ti, e lhes infligirá uma grande derrota, até que sejam destruídas.
7:24 - Também os seus reis te entregará nas tuas mãos, e farás desaparecer o nome deles de debaixo do céu; nenhum te poderá resistir, até que os tenhas destruído.


Poderia ir bem mais longe. Mas cansei. Massacres ordenados por Jeová é o que não falta no Livro. Ou Sua Santidade não leu o Pentateuco, ou leu e acha que ninguém mais o lê. É deplorável ver um potentado - que por ofício deveria ser culto - dizer tamanha inverdade. A menos que tome seu rebanho por uma súcia de iletrados, que jamais se deram ao trabalho de ler os textos de suas fés.

 
MENSAGEM DO CARLEIAL


Caro Janer,

É gratificante ver que um defensor da racionalidade conseguiu espaço em um veículo como o MSM. Infelizmente no Brasil, além de não termos "direita" expressiva, a "direita" que temos é religiosa. É um microcosmo dos EUA onde você pode escolher a irracionalidade econômica (socialista) dos Democratas ou a irracionalidade social (religiosa) dos Republicanos. Os primeiros querem controlar sua carteira, os últimos querem controlar sua vida.

Quando os direitos do homem são mera dádiva divina e deus tudo perdoa, não é de surpreender as barbaridades que se pratica. Como alguém que pratica "o bem" por medo de retribuição divina pode criticar outro que nunca cometeu crime algum sem esta ameaça sobre sua cabeça é algo que me deixa estupefato.

Em relação ao aborto, em minhas discussões sobre o assunto sempre concluí que o essencial é exigir que a outra parte explique seu argumento. Quando confrontado com perguntas como "um feto humano pode ser outra coisa que um ser humano?" há de se exigir que o indagador responda primeiro "o que é um ser humano?".

Um ser humano é um ser racional e independente - é destas características que se derivam todos seus direitos. Um marciano não seria humano, mas se fosse racional e independente matá-lo seria assassinato. Um câncer é humano (geneticamente falando), mas não é nem racional nem independente. Uma vaca é independente, mas não é racional - não possui direitos.

Um feto não tem mecanismos para ser racional até muito tarde em seu desenvolvimento, mais importante porém é que ele só passa a ser independente ao nascer. Até este ponto, sua vida é dependente da mãe. Um recém nascido pode ser criado por qualquer pessoa, um feto só sobrevive através de sua mãe.

Um ser dependente não pode ter direitos - direitos são decorrentes da capacidade de livre decisão (que requer a capacidade de pensamento racional e independência). Os direitos verdadeiros nunca conflitam como conflita o "direito" à vida de um feto com o direito à vida de sua mãe em caso de complicações na gestação - este conflito advém de alocar direitos a um ser dependente.

Em resumo, um feto não tem direitos porque um feto não é um indivíduo. É claro que a fé impede que se veja esta realidade. Quando se acredita que deus é a fonte de toda a ética (e portanto dos direitos), qualquer coisa pode ter direitos, direitos podem conflitar, nada precisa fazer sentido - você simplesmente acredita.

Um abraço e mantenha o bom trabalho,

Pedro Carleial

terça-feira, setembro 12, 2006
 
REAÇÕES CATÓLICAS


Desabafo: Janer Cristaldo é nocivo!

enviada em 12/09/2006

Quero deixar meu desabafo de que o Janer Cristaldo não contribui em nada para a edificação do MSM. Ele é um libertário, um escarnecedor de fés alheias e não possui o mínimo senso de ética o bastante para defender a vida de SERES HUMANOS (porque é o que são) que são covardemente assassinados em clínicas de aborto; as vezes sem anestésicos. Ele também tem pouquíssimo senso de História, pois renegando fanaticamente as princípios judaicos-cristãos, ele ignora a influência calvinista no curso histórico dos EUA e da Grã-Bretanha. Ele é um tolo e não passa disso.De modo que exorto-vos a seguir o conselho judaico-cristão de que tolos devem ser ignorados; e não colocados sob holofotes. Se Janer Cristaldo quiser propor seus horrores e maldades, que o faça num blogger privado. Mas que não use o nome do MSM.Lembro-vos de que Janer foi objeto de uma sábia repreensão do Prof. Olavo de Carvalho no caso em que Janer vergonhosamente escarneceu os judeus sem conhecimento de causa. escarnecimento que rendeu um artigo especial no site "De Olho na Mídia". Isso poderia até render prejuízos judiciais contra o MSM.Por isso exorto-vos: sejam sábios e provai seus colunistas.Um abraço de quem deseja que vocês continuem este corajoso, mui honroso e singular trabalho.
Rodrigo Silva Barros

João Mauad e Janer Cristaldo

enviada em 12/09/2006

Parabéns ao Sr. João Mauad pela bela, paciente e inteligente argumentação sobre as idéias do Sr. Janer Cristaldo, em relação não só ao aborto mas, também, às religiões. Devemos ser fanáticos defensores da liberdade do ser humano dentro dos melhores conceitos do direito legal e natural, opondo-nos a qualquer tipo de tirania que se queira exercer sobre a mente humana. O direito à vida é primordial e matar um ser indefeso é, certamente, um crime contra a humanidade. Não professo nenhuma religião mas pauto minha vida pela ética e a moral cristãs.
Atenciosamente,
Antonio Julio de Souza Bruno

Sobre Conceitos, de Janer Cristaldo

enviada em 11/09/2006

Prezado Editor do MSM,

O Sr. Janer Cristaldo, como Ateu militante, provavelmente conhece melhor a Bíblia que muitos religiosos. Portanto, a forma deturpada como apresentou e criticou o mandamento do "Não Matarás" (Sobre Conceitos, 05/09/06), só pode ter sido intencional. Conforme o catecismo ensina de forma clara: ninguém deve desejar, tramar ou executar um assassinato. Todavia, se uma pessoa for atacada por outra, tem o direito e a obrigação de reagir na justa proporção que a defesa de sua vida exija, o que pode até implicar em matar o atacante. Esse direito de autodefesa se torna obrigação quando há outras vidas ameaçadas sob a responsabilidade de quem se defende (caso de um pai de família). Esse princípio, ampliado, é que já justificava a ação da sociedade contra o crime, antes mesmo de existirem leis escritas regulamentando o assunto, e também justifica o conceito da guerra justa, quando uma nação precisa defender-se do ataque de outra.

Qualquer lei que criminalizasse a autodefesa seria letra morta (me parece que Hobbes já dissertou sobre o assunto), portanto a criação de leis está subordinada a algo maior do que um simples consenso de votação. Quanto aos padres perdoarem tudo, além da coisa não ser bem assim, o articulista deveria saber que o perdão não exime o perdoado de cumprir, além da penitência apropriada, as penas impostas pela sociedade. Na verdade, o nome de Penitenciária para o lugar onde os condenados cumprem suas penas não é gratuito.Outra coisa que o Sr. Janer Cristaldo parece ignorar ou contornar em sua ética legalista e hedonista é que para tudo há de haver uma última instância, seja legal ou de fato. Se tudo fica resumido apenas a criar e votar leis, inegavelmente qualquer absurdo corre o risco de poder tornar-se legal, mesmo pela via democrática (vide o nazismo).

Quanto ao aborto, se a lei pode decretar legalmente quando um ser humano começa a ter direito à vida (um feto humano pode ser outra coisa que um ser humano?), também pode em momento posterior estabelecer quando ela pode ser terminada (eutanásia). Unindo as duas pontas, para legislar sobre quem tem o direito de viver é só mais um passo.Por outro lado, se há uma lei natural impressa por Deus em suas criaturas, há limites para o que o indivíduo ou uma sociedade possa fazer. Há um limite para o poder do governo sobre o povo.Infelizmente, o maior defeito do Sr. Janer Cristaldo não é seu ateísmo militante, mas a falta de amor à verdade quando esta lhe é inconveniente. Se deixasse sua mente aberta à razão dos fatos, poderia até acabar revendo seus conceitos. Infelizmente, os textos que tenho lido dele sobre qualquer que seja o assunto, com ou sem motivo, fazem um desvio desnecessário para sua guerra particular contra Deus. Acredito que os leitores do MSM ganhariam mais se ele, não conseguindo rever seus conceitos, revisse esta peculiaridade de seu estilo de escrever.

Atenciosamente,

Júlio Daniel F. de Oliveira

 
FOLHA ESQUECE DE CONTAR


Ao anunciar duas peças de Máximo Gorki, a Folha de São Paulo publica uma nota sobre o autor:


Autor foi perseguido pelo regime czarista

DA REPORTAGEM LOCAL

Em russo, a palavra Gorki significa amargo. Com essa opção, Alexei Peshkov (nome verdadeiro de Máximo Gorki) já indica, assim, a que veio. Ele ficou órfão aos cinco anos e logo cedo teve que trabalhar para sobreviver. Viajou por muitas cidades da Rússia, exercendo as mais variadas funções e entrando em contato com pessoas do povo, mais tarde retratadas em sua obra.
Na década de 1890, publicou seus primeiros contos. Testemunhou o impacto da industrialização sobre a sociedade russa no final do século 19, o que lhe custou a pecha de "escritor-proletário", lançada por alguns críticos.
Perseguido pelo regime czarista, exilou-se em países da Europa e EUA. De volta à Rússia, depois da Revolução de 1917, desentendeu-se com os líderes bolchevistas, e foi obrigado a exilar-se novamente. Foi quando escreveu as obras mais conhecidas, como A Mãe, A Confissão, Os Vagabundos e Tomas Gordeiev.


O que a Folha esqueceu de contar é que Gorki foi envenenado, a mando de Stalin, por Iagoda, o chefe da Tcheka, a polícia secreta soviética. Para não deixar rastros, Stalin fuzilou Iagoda.

segunda-feira, setembro 11, 2006
 
O MAL FUNDAMENTAL


Fundamentalistas de todas as crenças são o mal fundamental de nosso tempo. Quase todos meus amigos são ateus - não creio que eu seja uma exceção. Se der uma olhada na história, verá que a compreensão do que é o bem e o que é o mal sempre existiu antes das religiões individuais. As religiões só foram inventadas depois, para expressar essa idéia. Da minha parte, não preciso de um árbitro supremo, sagrado, para ser um indivíduo moral.

Salman Rushdie, em entrevista ao Der Spiegel

 
ATÉ QUE ENFIM...



Não resisto a tentação de lhe enviar este e-mail felicitando-o pela resposta ao Ipojuca.

Já há muito me desanimo com o silêncio em relação às fofocas e bazófias de militantes cristãos que atacam cretinamente os descrentes em deuses. Ultimamente, tentando fraudulentamente associar sua religião a um apreço pela liberdade, a fim de aliciar fiéis induzindo-os a julgar uma coisa por outra, possivelmente conscientes da fraqueza de sua realidade ideológica. Da mesma forma os socialistas e marxistas também o fazem ao associarem fatos desejáveis à sua porca ideologia; até mesmo a associam à liberdade, à solidariedade altruísta e, absurdo, à democracia. Ou seja, a lógica e os fatos são desprezados num descaramento apoteótico ideológico.

Os cristãos gostam de dizer que sem a crença o indivíduo se permite tudo. Assim fazem por uma pretensa lógica: p1) deus estabeleceu o certo e o errado e castiga quem erra; p2) ninguém quer ser castigado; concluindo que quem não crê em deus não teme o castigo e por tal se permite tudo. É nisso que se baseiam para tal afirmação, daí afirmam que quem não é temente a deus é perverso. Ou seja, sem o castigo divino estes cristãos tudo se permitiriam, e por tal imaginam que os ateus tudo se permitem. O que me faz concluir que apenas não praticam aquilo que intimamente são, por medo. Assim, quando imaginam que deus tudo perdoa no crente, no bom fiel - vide Cristo, que logo estaria no céu com o bandido crucificado a seu lado - se permitem tudo praticar, seja mentir, deturpar, intrigar, perseguir, torturar, queimar e etc, amparados pela idéia de que sua devoção e fidelidade religiosa ao "deus todo poderoso em sua infinita bondade" os redime de suas canalhices, sobretudo aquelas em nome da fé (o "fim supremo" redime dos meios praticados em seu nome), se não, pelo menos, se no último instante se arrependerem estarão perdoados e habilitados para a "vida eterna" junto do deus e daquele bandido fiel, etc.

A leviandade de associar marxismo ou comunismo ao ateísmo bem demonstra o caráter destes militantes cristãos. Afinal, primeiro, o ateísmo não faz considerações econômicas e nem mesmo se propõe como origem de uma moral, sendo apenas a negação de crenças em deuses mirabolantes, deixando as concepções morais se construírem pelo mero consenso comunitário e através de raciocínios lógicos; diferentes de crentes que se apegam a morais arbitradas e ditadas "sigilosamente" por deuses a seus intermediários ou porta-vozes.

Ou seja, não há uma moral arbitrada para ateus por não haver uma doutrina atéia ou ateísta estabelecida. Posto que ateus não possuem messias ou líderes doutrinadores que se façam a origem do ateísmo. Ateísmo é apenas uma descrença individual em deuses, e nada pode decorrer da ausência de crença, da mesma forma que nada pode decorrer do vazio que não o próprio vazio. Assim, a moralidade de um ateu dependerá de sua anuência a uma moral grupal estabelecida ou de seus julgamentos éticos/lógicos sobre a moral ideal, ou comportamento certo e justo com relação aos demais.

Trata-se de descaramento digno de um petista tal leviana associação de marxismo e ateísmo, já que antes do ateu Marx conceber seu mal (não) explicado "país comunista" um fervoroso cristão católico, Thomas More (sto), já tinha concebido e explicado o funcionamento de sua Utopia comunista, aniquiladora da liberdade, inspirada em Platão, Cristo e doutrina católica; que inspirou Marx a usar-lhe o conceito anuído pelos cristãos para propor seu comunismo, sem cometer o erro de More ao explicar friamente sua estúpida Utopia.

Ora, Marx declarou explicitamente sua anuência para com a LEI DA USURA, católica; se Cristo atribuía virtude e mérito aos numerosos pobres, por serem pobres, Marx atribuiu virtude e mérito aos numerosos proletários por serem trabalhadores braçais. Se a bíblia nos fala do apocalipse, Marx também nos promete um "apocalipse socialista" no final, com uma rebelião que porá abaixo o "reino do mal capitalista" e instituirá o "reino do bem socialista", salvando os virtuosos. Se para Cristo os comerciantes profanavam o templo com sua atividade a ponto de transforma-lo num "covil de ladrões", Marx considerava os burgueses também uns ladrões, que exploravam os trabalhadores, gananciosos cumuladores de "tesouros na Terra"...e por aí vai.

Quando ao método dos comunistas para se livrar de críticos e descontentes - hereges e pagãos do socialismo -, esse não difere do método dos cristãos, com a diferença que os cristãos precediam o extermínio com seções de tortura, sadismo. E se os comunistas foram os que mais mataram comunistas, são os cristãos os que mais mataram cristãos.

Outro fato curioso é que militantes cristãos ora afirmam que Marx era ateu e ora o dizem satanista, praticante de rituais macabros. As contradições não os incomodam, pois que em nome de causa nobre: a ideologia. Efetivamente os militantes cristãos a tudo se permitem em nome do cristianismo, entendem que tal objetivo os redime não só perante deus como principalmente perante seus pares ideológicos.

Parece esquizofrenia quando um militante cristão afirma que ateus apoiaram o comunismo e que alguns padres o combateram. Ora, foram justamente os padres e autoridades católicas os maiores apologistas do comunismo, inclusive acobertando e abrigando bandidos comunistas; nas missas é que os católicos eram sorrateiramente manipulados para a anuência com as idéias comunistas: Dom Helder Câmara, E. Arns, Betto, Boff e tantos outros padres, bispos, cardeais e etc., nunca foram ateus; o papa Paulo VI trocava presentes e mesuras com Brejnev; João Paulo II criticava o comunismo ao mesmo tempo que lhe elogiava os objetivos e até defendia algumas de suas "conquistas sociais" em seus levianos discursos esquerdiotas.

Não é mera coincidência (é estratégia política) que os comunistas entoem o discurso de "perseguidos pelos poderosos por serem a favor dos oprimidos". Esse coitadismo "virtuoso" também foi aprendido na religião. Por vezes penso que Marx e cia entenderam bem o cristianismo.

Cito Nietzsche: "Altera-se algo no valor de uma causa, se alguém por ela deixa sua vida?"

Enfim, ver um militante cristão e um petista discorrendo sobre as virtudes de suas ideologias e maldizendo seus críticos ou hereges, é exatamente a mesma coisa, demasiado semelhantes. São capazes de tudo em nome da "causa redentora" sem nem mesmo corar. Aprenderam bem que "quem não está comigo está contra mim", e então, se representam a virtude todos os demais automaticamente representam o vício; assim liberam-se para qualquer prática. A inquisição, criada especificamente para "julgar" crimes contra a fé, que o diga: torturar e matar em nome da fé está automaticamente remido, bem como mentir, deturpar, falsear, intrigar, etc.

Abraços,

Celso Mouro

domingo, setembro 10, 2006
 
NÓS, OS IMORAIS



Não poucos articulistas trabalham com a falsa hipótese de que os comunistas são ateus. Nunca foram. Apenas trocaram o deus cristão por um outro. No caso, uma deusa, a História. Essa deusa teve uma encarnação humana, Stalin. Tanto que, em 1953, havia comunistas que não acreditavam em sua morte, afinal um deus não pode morrer. A fé absoluta na doutrina marxista era tal que um comunista sempre olhava com piedade para quem quer que dele discordasse: o coitado nada entendia do mundo. A Parusia proletária era dada como inelutável e a humanidade toda caminhava rumo ao comunismo. Poderíamos encher páginas e páginas listando os pensadores que perceberam este caráter religioso da nova doutrina. Vou ficar em apenas dois, Camus e Kazantzakis, que acompanharam de perto o grande embuste do século passado. Nada de novo no que segue. Apenas repito o que já escrevi, pois curta é a memória das gentes.

Escreve Camus, em O Homem Revoltado:
"O ateísmo marxista é absoluto. No entanto, ele restabelece o ser supremo ao nível do homem. A crítica da religião chega a esta doutrina na qual o homem é para o homem o ser supremo. Sob este ângulo, o socialismo é um empreendimento de divinização do homem e adquiriu certas características das religiões tradicionais".
"...o socialismo autoritário, que vai dessacralizar o cristianismo e incorporá-lo a uma Igreja conquistadora".
"O messianismo científico de Marx..."
O proletariado, "por suas dores e lutas, é o Cristo humano que resgata o pecado coletivo da alienação".
"O movimento revolucionário, no final do século XIX e no começo do XX, viveu como os primeiros cristãos, à espera do fim do mundo e da Parusia do Cristo proletário".
"A revolução russa continua só, viva contra seu próprio sistema, longe das portas celestes, com um apocalipse a organizar. A Parusia ainda está longe. A fé está intacta, mas se curva a uma enorme massa de problemas e descobertas que o marxismo não havia previsto. A nova igreja está de novo frente a Galileu: para conservar a fé, ela vai negar o sol e humilhar o homem livre".

Um outro escritor do início de século, que viveu este confuso noivado bem antes que Camus, será ainda mais incisivo nesta aproximação. Em Voyages - Russie, Nikos Kazantzakis lembra como se fez a luz em seu espírito. Para ele, todos os apóstolos do materialismo davam às questões respostas grosseiras, de uma evidência simplória. Como em todas as religiões, tentavam difundir aquelas respostas tornando-as compreensíveis para a multidão. Kazantzakis fala da existência, na Rússia, de um exército fanático, implacável, onipotente, constituído de milhões de seres, que tinha em mãos milhões de crianças e as instruía como bem entendia. Esse exército, continua o cretense, tinha seu Evangelho, O Capital. Seu profeta, Lênin, e seus apóstolos fanatizados que pregavam a Boa Nova através do mundo. Esse exército possuía também seus mártires e heróis, seus dogmas, seus padres apologistas, escolásticos e pregadores, seus sínodos, hierarquia, liturgia e mesmo a excomunhão: "somos contemporâneos deste grande momento em que nasce uma nova religião".

Ou seja, não estamos diante de ateus e sim de crentes que cultuam um novo deus. Não é pois de espantar que no passado de quase todos os antigos marxistas temos um cristão que renegou a própria religião. Tampouco causa espécie que o Partido Comunista sempre tenha sido forte em países católicos. A Rússia, é bom lembrar, era um dos maiores países católicos do mundo nos albores do século passado.

Que mais não seja, em O Idiota, através da boca do príncipe Mychkine, o ortodoxo Dostoievski há muito previra que o catolicismo romano originaria um socialismo ateu. Ateu em relação ao Deus dos céus e dos infernos, mas religioso em relação ao homem enfim divinizado. Morto o Deus judaico-cristão, deus nenhum outro à vista para sucedê-lo, o homem ocidental, órfão e carente de fé, irá criar um deus vivo.

Os russos, excitados pelo messianismo chauvinista e anti-semita de Dostoievski, já andavam procurando o seu. Por volta de 1850, Vladimir Soloviev erige o movimento revolucionário "Os Buscadores de Deus", que acaba não achando nada. Mas a semente está lançada. Será após o fracasso da revolução de 1905, que Maxim Gorki e Lunatcharski (futuro escritor oficial da era staliniana) fundarão o movimento "Os Construtores de Deus".

Gorki, que julgava a mentira necessária contra as "verdades nefastas", diz em uma carta de 1908, dirigida a Gregor Alexinski, que o "socialismo deve se transformar em culto". Em A Mãe, escrito nos Estados Unidos em 1906, um militante diz aos operários em cortejo: "nossa procissão agora marcha em nome de um deus novo". Em uma novela de 1908, A Confissão, o incipiente deus já ensaia seus poderes: à passagem de uma manifestação de operários, um paralítico deitado em uma maca se levanta e anda. E antes de morrer envenenado por seu "Deus"), Gorki afirma: "Lá onde reina o proletariado não há lugar para uma querela entre o saber e a fé, pois a fé neste caso é o resultado do conhecimento pelo homem do poder da razão".

Os tempos estão maduros para a emergência da nova fé. Marx e Engels fornecem o Livro, pois toda religião que se preze se fundamentará em um livro. Os revolucionários de 17 conquistam um território. Só faltava o Deus feito carne. Em Gori, na Geórgia, nasce o Menino.

Escreveu Ipojuca Pontes na semana passada: "Por se tratar de gente que não acredita em Deus, o intelectual de esquerda acha que para ele 'tudo é permitido': mentir, trair, caluniar, mistificar e - por que não? - através de artifícios diversos, tidos como legais, meter a mão no dinheiro do Estado. De ordinário, vivem pendurados em cátedras oficiais ou em polpudos empregos públicos, usufruindo parasitárias bolsas de estudos ou as benesses de projetos artísticos, cujos únicos atributos criativos têm sido a astúcia engendrada para convencer o burocrata de plantão a arranjar mais grana para o usufruto de ambos".

Nada dá mais prazer a um homem honesto do que falar de si mesmo, escreveu Dostoievski. Sou ateu desde meus verdes anos. Nunca fui isso que se chama de intelectual de esquerda, e muito menos de direita. Ateu sendo, nunca menti, nunca traí, nem caluniei nem mistifiquei e muito menos meti a mão no dinheiro do Estado. (Pelo contrário, o Estado me deve uma quantia polpuda em precatórios e até hoje está me caloteando. Se metesse a mão no dinheiro estatal, estaria apenas me ressarcindo). Nunca cometi sequer essas mentiras triviais que os machos usam para esconder suas infidelidades: tive não poucas mulheres e todas sabiam de todas. Mais ainda: nunca passei um cheque sem fundo, nunca furei uma fila, nunca joguei no bicho e nunca joguei papel nas ruas.

Meu círculo de relações, por uma questão de afinidades eletivas, é formado de modo geral por pessoas que não crêem em Deus. Não conheço nenhum que tenha mentido, traído, caluniado, mistificado ou posto a mão no dinheiro do Estado. Tivessem cometido qualquer dessas vilanias, não fariam parte de meu círculo. Exatamente por ter me libertado de qualquer veleidade religiosa, não procurei outra religião ao jogar ao lixo a antiga. Havia duas igrejas na cidadezinha em que me criei, a católica e a marxista. Mal larguei a católica, a outra me cercou, empunhando bibliografias e nobres ideais. Mas eu já começara minhas leituras filosóficas e o marxismo pareceu-me uma resposta muito rude a meu intelecto.

Um amigo de longa data perguntou-me certa vez como eu podia ser honesto sem acreditar em Deus. Estava repetindo, talvez sem saber, a frase que Sartre um dia atribuiu a Dostoievski: "se Deus não existe, tudo é permitido". (Digo que Sartre atribuiu porque Dostoievski jamais disse isso, pelo menos assim como está formulado). Mutatis mutandis, estava afirmando o que o articulista afirma: que nós, ateus, somos aéticos, imorais, desprovidos de escrúpulos. Ora, nunca precisei de deus algum para fundamentar minha ética. Não vejo como obrigatória a crença em um deus qualquer para que um homem seja honesto. Com Deus ou sem Deus, se tudo for permitido, a existência da comunidade humana é inviável.

Par contre, pergunte-se a qualquer um dos políticos que se beneficiaram de mensalões, propinas, esquema de sanguessugas, caixa 2, nepotismo, tráfico de influência ou tráfico de drogas, se ele acredita em Deus. Todos eles dirão que sim, pois não há no Brasil político que não acredite em Deus. Quem disser não, não será eleito. Quando interrogados, até mesmo o materialista dialético Fernando Henrique Cardoso e o Supremo Apedeuta vacilaram e saíram pela tangente. Hoje, os dois acreditam em Deus, lado a lado com a marxista desvairada, a Heloísa Helena.

Devagar nas pedras, meu caro Ipojuca. Não somos assim feios como nos pintam. Ateu mesmo não acredita nem nos deuses construídos pelo marxismo.

sábado, setembro 09, 2006
 
DISSE O SUPREMO TEOCRATA



O papa Bento XVI não tem cura. Sempre imbuído de uma filosofia teocrática, disse ontem a bispos canadenses que os políticos católicos do país não podem se deixar convencer por pesquisas de opinião pública e aprovar o aborto e o casamento gay. "Em nome da tolerância, seu país tem agüentado a loucura da redefinição de cônjuge e a destruição diária de crianças que estão para nascer."

Que assim se dirija a políticos católicos, entende-se. Mas quando acusa o país de ter agüentado aborto e casamento homossexual, está interferindo em seara alheia. O Canadá é um país laico e não se prende a preceitos religiosos ao elaborar suas leis. O Canadá é um país bem maior que o contingente de seus políticos católicos.

Esta mania pontifical de pretender que o mundo todo dance conforme seu ritmo, em pouco ou nada difere do fanatismo islâmico, que não aceita leis nem comportamentos que divirjam do Corão. O Canadá não agüentou a loucura da redefinição de cônjuge e a destruição diária de crianças. O Canadá considerou, isto sim, que redefinição de cônjuge não é loucura e que aborto não é destruição de crianças. Papa nenhum, seja de qual religião for, pode opor-se a decisões soberanas de um Estado democrático. A menos que não tenha ainda saído da Idade Média, quando Roma locuta, causa finita.

 
DISSE O SUPREMO APEDEUTA


Disse ontem o Supremo Apedeuta, em discurso para cerca de 1.200 líderes da igreja evangélica Assembléia de Deus, no Rio de Janeiro: "Daqui a pouco vão propor mudança no povo. E nós sabemos que, quando as pessoas começam a duvidar do povo e querem criar um povo melhor do que o nosso povo, o Hitler serve como experiência de quem quer criar uma raça superior".

Segundo os jornais, Lula está comparando a oposição a Hitler. Isto não deixa de ser verdade. O que resta saber é se esta comparação é favorável ou desfavorável à oposição. Em julho de 1979, quando presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, Lula deu uma entrevista à revista Playboy, na qual citou Hitler e Khomeiny como duas figuras políticas pelas quais nutria admiração. O então sindicalista elogiou a "disposição, força e dedicação" de Hitler e afirmou: "O Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer".

Estará o Supremo conferindo virtudes à oposição? Partindo de quem parte, nunca se sabe.

sexta-feira, setembro 08, 2006
 
SAUDADES DA AURORA



Em sueco existe um verbo que me fascina - att längta. Seria traduzido por ter saudades, com uma diferença da nossa saudade. Lusófonos, temos saudades de algo passado. Saudade é filha do tempo e da distância. A palavra sueca tem uma maior abrangência, eu posso sentir saudades do futuro. Se eu digo jag längtar efter sommaren, quero dizer que tenho saudades do verão. Não do verão passado, mas do que está por vir.

Jag längtar efter auroras. Não das que um dia tenha visto, mas da que nunca vi. Falo das auroras boreais. São fluxos de prótons e elétrons vindos do Sol guiados pelo campo magnético da Terra, que se chocam com os átomos e moléculas atmosféricos. O efeito é deslumbrante, luzes enlouquecidas que dançam nas noites boreais. Ou austrais, no hemisfério sul. Sempre sonhei com elas e até hoje não as vi. O problema é que a aurora é imprevisível, não dá pra marcar encontro com ela. Você tem de sentar e esperar, em meio às noites próximas aos pólos.

Assim sendo, só posso me solidarizar com Cao Jinbin, cientista chinês que descobriu que o brilho das auroras boreais não se deve aos ventos solares, mas às subtempestades magnéticas. O próximo passo do pesquisador seria instalar um sistema de controle das auroras, capaz de prever e analisar seus movimentos. Sem ter a mínima idéia do que sejam subtempestades magnéticas, sei pelo menos que agora posso marcar encontro com a aurora. A ciência avança e me consola.

terça-feira, setembro 05, 2006
 
QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ



A revista Veja transcreveu, recentemente, um diálogo entre criminosos, no qual um deles recomenda que todos os familiares, amigos e conhecidos de presos ligados ao PCC votassem em José Genoino (PT) para o governo de São Paulo, nestas eleições. A juíza Camila de Jesus Gonçalves Pacífico, da 1ª Vara Cível de Pinheiros (São Paulo), determinou na sexta-feira passada que a revista retire de sua edição eletrônica o conteúdo editado da conversa, por não haver elementos concretos de elo entre o PCC e o PT.

Segundo a juíza, "a menção ao nome do autor afigura-se desnecessária para o atendimento do interesse público no tocante ao andamento das investigações sobre o PCC, uma vez que a própria revista reconhece a inexistência de prova de elo entre o PT e o PCC, podendo induzir em erro os leitores mais desavisados, diante dos elementos disponíveis nessa fase de cognição sumária".

Ora, se um membro do PCC recomenda a seu círculo íntimo que vote em um candidato do PT é que alguma relação há, se não com o PT, pelo menos com o candidato. A decisão da juíza impede o público leitor de saber como o PCC considera importante a eleição de um candidato petista, aliás já implicado até o pescoço no esquema de corrupção do PT, tanto que teve de renunciar à presidência nacional do partido. A Dra. Camila sonega a leitores e eleitores o direito de informar-se sobre um candidato a uma vaga na Câmara Federal.

Onde estão aqueles heróicos petistas que bradavam "censura, nunca mais"? Como a decisão da juíza foi provocada por uma ação dos advogados de Genoíno, é óbvio que quem pede censura é o candidato petista.

segunda-feira, setembro 04, 2006
 
DOIS DEPUTADOS PARA DOMINGO



Diálogos em Brasília entre os lobistas Laerte Correa Júnior, Federico Coelho Neto (Lilico) e o deputado José Janene, do Partido Progressista (PP), grampeados pela Policial Federal:

Laerte - É o seguinte: eu preciso de dois deputados para domingo. Você tem um dissidente teu aí?
Lilico - Puta que o pariu.
Laerte - Um vai, um resolve.
(...)
Deputado José Janene - Não tem nenhum de estoque, brimo?
Lilico - Deixa eu ver, brimo. E vou ver porque depois que eu saí daí, eu vi o que você estava fazendo. Deixa eu ver.
Deputado José Janene - Liga, porque é o seguinte: mesmo que o cara não queira em definitivo, mas na semana que o cara pode sair, não tem problema.


Ama, com fé e orgulho a terra em que nasceste! Criança! Não verás nenhum país como este!

 
DIFÍCIL DE ENTENDER



Leio no Estadão:

Sai do ar site de PM com anúncio sexual

Foi tirado do ar o site mantido pelo ex-corregedor da PM de Mato Grosso do Sul, tenente-coronel Gustavo David Gonçalves. Ele foi afastado do cargo na quinta-feira, após admitir ser o responsável pela página na internet que oferecia garotos e garotas de programa. A direção do provedor onde a "Classi Sexy MS" estava hospedado informou que o pedido de retirada foi feito pelo dono do domínio.


Que um corregedor da polícia seja afastado de seu cargo por manter na Internet uma página de prostituição, entende-se. Que a página seja retirada do ar, é mais difícil de entender-se. A Internet está repleta de anúncios de prostituição. O que nada tem de anormal, afinal trata-se de uma mídia. Que mais não seja, tanto o Estadão, como Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Globo e toda a grande mídia impressa nacional trazem abundantes ofertas de garotos e garotas de programa em seus classificados.

"A Folha é meu melhor cafetão", disse-me um dia uma profissional.

domingo, setembro 03, 2006
 
SOBRE CONCEITOS



Em função de crônica passada, fui bombardeado com mails que em boa parte confundem conceitos como ética ou moral, norma religiosa e norma jurídica, pecado e crime. Tentarei destrinçar o imbróglio.

Nos últimos vinte anos, os petistas começaram a encher a boca com palavras como "a moral e a ética", assim juntas. Verdade que o Aurélio define moral como um conjunto de regras de condutas tidas como válidas e ética como o estudo dessas regras. Prefiro Cícero: "posto que se refere aos costumes, que os gregos chamam ethos, nós costumamos chamar essa parte da filosofia uma filosofia dos costumes, mas convém enriquecer a língua latina e chamá-la moral". No Dicionário de Filosofia, de Ferrater Mora, lá está: "moral deriva de mores, costume, da mesma forma que ética de ethos e por isso ética e moral são empregadas às vezes indistintamente. Ferrater Mora vê inclusive um significado mais amplo no conceito de moral que no de ética. Seja como for, quando adjetivamos a palavra, ao dizer que algo é ético ou moral, a diferença entre os termos desaparece. Não por acaso, o Supremo Apedeuta adora falar em ética e moral. Quanto menos se conhece as palavras, mais se as maltrata.

Pretendem outros que moral - ou ética, como quiserem - coincida com lei. Assim, se aborto fere a moral, ipso facto é crime, mesmo que a lei o permita. Ora, tudo o que a lei não proíbe é permissível. Quando um Estado admite o aborto, qualquer cidadão até pode achar que é crime. Ocorre que, nessas circunstâncias, não é. Não é o palpite de qualquer cidadão que define algo como crime. Quem define o que é crime, pelo menos nas democracias ocidentais, é o Parlamento. Se os legisladores decidirem que esta ou aquela ação não é crime, permitida está. Para os que gostam de citar Aristóteles como um dos baluartes do pensamento cristão, é bom lembrar que o estagirita o recomendava como método eficaz para limitar os nascimentos e manter estáveis as populações das cidades gregas. Até mesmo para o insuspeito Santo Agostinho o aborto só seria crime quando o feto já tivesse recebido alma, o que deveria ocorrer após 40 ou 80 dias de sua concepção, conforme o feto fosse masculino ou feminino. Hoje, apenas 26% dos países não o consideram legal.

O mesmo diga-se do homossexualismo. Segundo a ONU, cerca de 80 países ainda tratam relações consensuais entre pessoas do mesmo sexo como um crime punível com morte, em pelo menos sete Estados. Nestes 80 países, homossexualismo é crime. Nos demais 118, é fenômeno da órbita da ética.

Surge então outra pergunta: existe uma lei moral universal? Pode ser que exista em teoria. Na prática, não. Cada religião, cada nação, cada grupo social, cada época tem seus próprios preceitos morais. Que podem ter seus pontos comuns, mas também os divergentes. Não é crime ferir uma norma ética, a menos que esta coincida com a norma legal. Você pode até sofrer sanções de sua comunidade se ferir as regras morais nela vigentes. Mas ninguém pode condená-lo à prisão ou executá-lo por tais transgressões. Voltando ao aborto: se você vive em país em que abortar não é tipificado pela lei como crime, você pode até ser expulso de sua comunidade ou de seu círculo se tiver estimulado ou praticado aborto. Do ponto de vista legal, não cometeu crime algum.

Assim como não existe lei moral universal, tampouco existe lei jurídica universal. "Divertida justiça que um rio limita" - escrevia Montesquieu - "erro além, verdade aquém dos Pirineus". Só crê que existe lei jurídica universal o homem de tapa-olhos, que jamais saiu de seu país e pouco ou nada leu.

Pretendem os religiosos que todo pecado seja crime. Não é. Pecado é conceito da área teológica. Crime é conceito da área jurídica. Para pecados, existe o perdão. Para o crime, a punição. Verdade que, depois de Stalin, foi criado um outro parâmetro. "Foram erros", disse Stalin, ao referir-se ao massacre dos kulaks. O PT, reverente a suas origens, jamais fala de crime e punição. Nem de pecado ou perdão. Mas de erro e desculpa. Errou? Basta pedir desculpas e está redimido.

Mandamento é coisa de religião. Lei pertence à órbita do direito. Quem descumpre um mandamento peca e pode ser perdoado. Se o Marcola confessar seus crimes, basta que faça um sincero ato de contrição e está quite com a justiça divina. Com a dos homens é diferente. Quem infringe uma lei comete crime e deve ser condenado. Contrição não basta. Bastasse, não existiriam códigos penais nem prisões. Padre perdoa tudo. Dependesse dos padres, o Marcola estaria livre como um passarinho.

O "não matarás", antes de ser preceito jurídico, foi preceito ético-religioso. Pertencia, inicialmente, ao universo teocrático. Mesmo assim, era muito relativo. Jeová, o redator das tábuas, matou à vontade antes de redigi-las. Continuou matando com gosto depois de promulgá-las. E promete matar mais quando vier o Cordeiro. Apanhe a Bíblia. Quantos homens, quantos povos, exterminou Satã? Nenhum. Jeová massacrou com entusiasmo. Existem leis morais objetivas? - me pergunta um leitor. Não existem - respondo. O "não matarás" é o mais perfeito exemplo.

O preceito só se torna objetivo quando toma a forma de lei. O Estado sente-se obrigado a definir, com precisão, quando se pode matar. Pode matar o soldado durante a guerra e este é seu dever. Pode matar um homem ameaçado, em sua legítima defesa ou de terceiro. Pode matar o Estado, quando pune um crime. Fora estas circunstâncias, matar é crime. Jeová não teve preocupação nenhuma em regulamentar o "não matarás". O Estado tem.

O preceito religioso concerne aos adeptos de uma religião. O preceito jurídico concerne a todos os cidadãos, quaisquer que sejam suas religiões. O preceito moral diz respeito a grupos que têm esta ou aquela visão de mundo. A lei enquadra todo cidadão, não importa o que este cidadão pense do mundo. O conflito surge nas teocracias, quando Igreja e Estado se confundem, o preceito religioso se impõe e o conceito de pecado acaba se tornando crime. Já cheguei a sugerir que cristãos deveriam ser punidos quando praticam aborto, afinal consideram o aborto um crime. Aos demais, seria permitido. Não faltou quem julgasse ser absurdo ter diferentes legislações para diferentes cidadãos.

De fato, é. Mas no Brasil já tem. Deputados e ministros têm foro privilegiado, inacessível aos demais cidadãos. Os sem-terra podem invadir terras e prédios, depredar, saquear e nenhuma sanção lhes é imposta. Índio pode matar, estuprar, interditar rodovias, manter reféns em cárcere privado e por isso não são punidos. Menores de 18 anos têm carteirinha de 007, podem matar à vontade e nenhuma prisão firme lhes será atribuída. Absurdo a mais, absurdo a menos, tanto faz como tanto fez.

Lei é sinônimo de justiça? Nem sempre. A lei sempre foi uma tentativa de se chegar à justiça. Por isso é sempre renovada e aperfeiçoada. Para o brasileiro contemporâneo, sem ir mais longe, matar uma mulher por razões passionais é crime. Nem sempre foi assim. Nestes dias, Doca Street está lançando um livro no qual relata o assassinato de Ângela Diniz, em 1976. Antes deste caso, os júris aceitavam a tese de legítima defesa da honra. Há trinta anos, matar a própria mulher era perfeitamente legal. Hoje já não é. No mundo muçulmano, matar a mulher que tem relações com outro homem, é não só ético, como também legal e justo.

Quando a legalidade se afasta irremediavelmente de qualquer ideal de justiça, surgem as revoluções. Mas as revoluções do século passado se revelaram remédio pior que a doença. Quando uma comunidade é doente, a doença passa a ser norma e a ninguém ocorre rebelar-se. Diga a um muçulmano que é criminoso cortar o clitóris de uma mulher. Ele vai achar muito estranha sua maneira de ver o mundo. A própria mulher talvez também a ache.

Em meus dias de guri, transgredi com gosto os preceitos éticos da cidadezinha em que vivia. Nunca me agradou portar cilícios. Por tê-los transgredido, fui expulso da cidade. Até hoje porto esta expulsão como comenda, emblema de minha hybris juvenil. Me senti como um Cortez queimando suas naus e pronto para enfrentar qualquer adversidade. Teria uns 16 anos. Como cachorro que se sacode para secar-se, joguei para longe de meus ombros também os preceitos religiosos. Senti então uma extraordinária sensação de liberdade. Dos preceitos éticos ou religiosos, mantive apenas aqueles que coincidem com os códigos penal ou civil. Bem entendido, cultivo até hoje uma ética, particular e muito rigorosa, mas que pouco coincide com as éticas vigentes.

Resumindo: não temos porque aceitar qualquer ética que nos seja proposta. Nada impede que construamos a nossa. Homem sem religião é como peixe sem bicicleta. Quanto à lei, dela ninguém escapa. Pelo menos em país decente.