¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, janeiro 02, 2006
 
SOBRE JANER

Grande anti-semita, o intelectual e articulista Janer. Verdade que não é muito original

Atacar os judeus se utilizando da sua religião, costumes, vestimentas e retirando do contexto afirmações bíblicas não é novidade. O recurso foi usado infinitas vezes por anti-semitas ao longo da história da jornada judaica neste planeta. Janer Cristaldo, ao repetir o ato em seu artigo publicado no Mídia Sem Máscara, e intitulado, "Sobre Maimônides" sequer foi original. De todo modo, merece uma resposta, o que fazemos a seguir.

Este artigo foi escrito com a colaboração inestimável das seguintes pessoas: Rav. Avraham Zajac, André Cardon, Sérgio Kalmus, Marcella Becker e sob consulta e aconselhamento de rabinos do Colel Iavne.

Sobre o Mídia Sem Máscara - Mas antes de entrarmos no artigo per se, gostaria de comentar algo sobre o site que abrigou a pérola: o Mídia Sem Máscara. Se existe algo que realmente surpreendeu em toda esta história, foi o fato de justamente este ter sido o local escolhido por Janer para publicar seu texto.

O que assusta? O fato de que o Mídia Sem Máscara sempre foi um local onde a verdade sobre os judeus e Israel prevaleceu. Parceiro do De Olho Na Mídia na divulgação de verdades ocultas pela imprensa, o site sempre promoveu o banner de nossa instituição, publicou textos de Daniel Pipes e outros grandes articulistas pró-Israel e conta em seu cast com pessoas muito ligadas a comunidade judaica.

Nada disso impediu que um artigo com um ranço tão grande sujasse suas páginas. Verdade que a reação do próprio veículo ao texto também foi notável. Seguindo a tradição de honestidade do Mídia, o mesmo abriu espaço para cartas e textos-resposta ao mesmo, tendo ainda publicada em sua homepage uma vigorosa condenação dele por ninguém mais, ninguém menos, do que o próprio editor-chefe, Olavo de Carvalho.

No entanto, apesar disso, não podemos dizer que tenha sido o suficiente. Em sua argumentação, Olavo diz que não quis coibir a liberdade de expressão de seu articulista. Ele lamenta, mas afirma que Janer continuará a ter espaço no site. Consideramos isso um grande equívoco. E se fosse um texto racista contra negros? Ou mesmo se o texto fosse simplesmente algo que fugisse totalmente a linha do veículo, como por exemplo, elogiando a atuação do atual governo, será que teria sua publicação garantida pela "primeira emenda americana"? Se já ocorreu o erro de permitir a publicação de um texto francamente anti-judaico, pelo menos que se garantisse que o autor não terá mais espaço no mesmo. Apesar da admiração pelo Mídia Sem Máscara, e de sentir sinceridade na resposta do Olavo, muito mais aberta e decente do que 95% dos veículos que vemos por ai publicando peças de ódio o fariam, a nódoa ficou, e isto não dá para negar. Ficamos na torcida para que seja um caso isolado, uma exceção à regra, fato que o tempo somente vai apagar.

Janer e a Mediocridade - Mas vamos afinal falar do texto em si. Em primeiro lugar, fica claro que a linha mestra do texto é a inveja. Inveja daquilo que os judeus trouxeram ao mundo, os conceitos de ética e moralidade que revolucionaram a civilização. Inveja da brilhante capacidade de Maimônides, que vale lembrar, era o principal médico da corte espanhola na idade de ouro, no século XII. Janer queria ser meio intelectual e gênio que o Rabino Moshe Ben Maimon era. Na impossibilidade disto, restou-lhe o vil caminho da agressão e da tentativa de manchar sua imagem.

No entanto, basta apenas um exame superficial do texto de Janer Cristaldo para perceber que se trata de uma colcha de retalhos, onde Maimônides aparece pincelado e descontextualizado.

Só para mencionar de exemplo: Janer cita a obrigação judaica, conforme compilada por Maimônides, de se destruir uma cidade Apóstata (preceito 186). Mas em lugar algum do texto, ele menciona o que era uma cidade apóstata. Será que pegaria muito mal para ele - e deixaria de criar o efeito demoníaco que ele planejou para os judeus - se ele mencionasse que cidade apóstata era um local onde o assassinato e o roubo eram institucionalizados, e onde 100% dos habitantes eram idólatras, que faziam sacrifícios humanos, de crianças e virgens para seus deuses?

Ele sequer se deu ao trabalho de pesquisar um pouco mais fundo aquilo que ele mesmo cita. Ainda no preceito 186, ele copia de Maimônides, "As normas deste preceito estão explicadas no Tratado Sanhedrin". Ele por acaso foi lá checar no Talmud o que este dizia a respeito? Se foi, ocultou dos leitores uma informação chave. Se não foi, pecou por descuido e preguiça. Pois o Talmud neste tratado diz que nunca houve uma cidade apóstata no mundo, onde 100% das pessoas eram idólatras, ficando o preceito válido apenas como norma dissuasória, e não para aplicação na prática. Muda um pouco as coisas, não?

O mesmo se refere a quando ele fala sobre "não deixar viver um feiticeiro" (preceito 310). Acaso ele menciona que esta cultura de feiticeiros, era uma cultura de assassinos que usavam pessoas vivas em suas feitiçarias e sacrifícios?

Da mesma maneira, em lugar algum de seu artigo, Janer aborda o fato de que bastava a estas pessoas se arrependerem destes atos vis e cruéis (o conceito de Teshuva - arrependimento), para que estivessem livres de sua punição.

Curioso é notar, que na verdade, os ataques do articulista não são contra o rabino, como ele faz parecer. São contra a bíblia em si, já que tudo que Maimônides fez foi compilar estas leis.

Sendo assim, como seria possível que outras religiões também adotaram estes preceitos, ao anexarem aos seus compêndios a Torá (adotada sob o codinome de antigo testamento), caso fossem mesmo leis assassinas e genocidas? Nem os piores judeofóbos existentes entre islâmicos e cristãos jamais negaram ou atacaram diretamente estes princípios. Porque?

A resposta é simples. Porque o mundo entende que quando uma cultura prega e institucionaliza a maldade, colocando o resto da civilização em risco, é nosso dever combatê-la e restaurar a liberdade. Foi assim com o nazismo, cujo regime propunha o assassinato em massa e a expansão a custa de vidas, e é assim hoje em dia contra o extremismo islâmico, que sacrifica pessoas - crianças incluso - em nome de D'us e da sua causa. Por isso, o mundo não pode e nem vai condenar a Torá, quando algo semelhante foi proposto para fazer frente ao nazismo de seu tempo.

Isso é tão forte, que ouso dizer que o próprio Janer concorda com isso!!! Sim, basta ler o que o próprio escreveu em seu artigo sobre a morte de Arafat,intitulado, Mídia Canoniza Nobel Terrorista (e republicado no De Olho na Mídia, porque se tratava de um excelente artigo, sendo que jamais teríamos a capacidade de adivinhar que um ano depois, o autor se transformaria neste anti-semita que estamos vendo), onde relata:

"D'us abençoe sua alma" - disse George W. Bush, ao tomar conhecimento de sua morte, um pouco antecipadamente, é verdade. A morte é linda. Em março de 2001, o mesmo Bush acusava Arafat de incentivar a violência. Em junho de 2002, o presidente americano fazia da saída de Arafat a condição sine qua non para a proclamação de um Estado palestino. Hoje pede a D'us proteção por sua alma. Mas a qual D'us pede Bush bênçãos ao terrorista? - seria questão de perguntarmos. Ao D'us dos judeus, cujos crentes foram massacrados pelo terror de Arafat? Ao D'us dos cristãos, que foram assassinados aos magotes por Arafat no Líbano, e tiveram suas aldeias destruídas e igrejas queimadas? Ou ao D'us dos árabes, que tampouco foram poupados por Arafat?

Como dizem ainda as fontes judaicas: quem é complacente com o malvado, acaba sendo malvado com o bondoso. Podem ser discutidas as formas de punição, como pena de morte, prisão perpétua, trabalhos forçados, etc... mas o mundo entende e aceita o conceito de que para coibir a crueldade, é necessário de meios punitivos e corretivos.

Curioso notar ainda, como os preceitos que Janer escolheu, foram cuidadosamente selecionados, fora de sua ordem original, e omitindo muita coisa entre um e outro. Ao tentar criar o efeito de um judaísmo intolerante, Janer fez da omissão a sua principal arma.

Sim, pois em lugar algum de sua coluna aparece que a frase mais repetida em todo o cânone judaico é aquela que admoesta seus seguidores a respeitar e amar os não-judeus. Como, por exemplo, no livro do êxodo, capítulo 22, versículo 20: "E ao peregrino não fraudareis e não o oprimireis, porque peregrino fostes na terra do Egito". E onde está a menção aos 70 sacrifícios feitos pelo bem estar dos 70 povos do mundo, na época da festa das cabanas no Templo? E será que não valia citar ainda a história relatada no Talmud, que diz que D'us advertiu severamente os anjos por comemorar a derrota dos egípcios quando o mar se fechou atrás dos judeus na sua saída do Egito? "A obra das minhas mãos morre afogada e vocês se divertem?", é a advertência que teria feito D'us a eles.

Se Janer tivesse realmente estudado e lido a respeito do judaísmo, ele saberia de tudo isso. No entanto sua única intenção foi menosprezar os judeus e o seu culto. A começar pela introdução, onde faz pouco dos costumes dos judeus ortodoxos e de onde diz que surgiu seu interesse em conhecer mais sobre a religião (conheceu tão bem que não mencionou que os sete povos idólatras a que se refere já foram extintos do mundo e que todas as leis que ele pincela não tem mais aplicação nos dias atuais).

Janer e os ortodoxos - O articulista do Mídia critica os judeus por não apertarem botões aos sábados, e por andarem de capas de chuva "vagabundas', ao invés de guarda-chuvas. Se sente incomodado por eles não darem mãos a mulheres em público e por andarem de tênis no dia mais santo judaico, o Dia do Perdão, o Yom Kipur (tivesse estudado melhor, saberia que são duas vezes por ano, incluindo o Tisha Be Av, dia que marca as destruições dos Templos em Jerusalém).

A primeira e óbvia pergunta seria: o que ele tem a ver com isso? Porque o incomoda tanto? Onde ficou a liberdade de expressão e religiosa da democracia brasileira?

Mas isso não basta. Senão o jogo de Janer estará feito: retratar o judaísmo como uma religião primitiva e bárbara. Nada mais longe da verdade. O judaísmo é feito de valores. Um destes é o respeito máximo a mulher, que nada tem a ver com seu ciclo menstrual. Um homem, mesmo tendo 100% de certeza de que uma mulher não está menstruada, e ainda que seja sua esposa; mesmo assim, pelas leis mais estritas judaicas, não pode cumprimentá-la em público. E porque? Por questão de recato. Para preservar carinhos e troca de afagos para os momentos íntimos e particulares com a sua amada. Em uma época onde mulheres reclamam que são tratadas como objetos, onde a propaganda abusa da super-exposição sexual da mulher e etc...., o judaísmo trata a mulher como um ser elevado a ser respeitado e admirado. Por isso pede modéstia da parte delas e recato no trato dos homens para com elas.

De forma semelhante, o Shabat (o descanso de sábado), não é apenas uma parada física. É um momento em que o judeu abre mão da transformação do material e se dedica 100% ao espiritual. O ideal é esquecer o celular, televisão, trabalho, problemas, e tudo que diga respeito a nosso envolvimento com o mundo físico (e isso inclui apertar o botão do elevador, porque se fosse permitido apertar o botão do elevador, como impedir depois de se ligar a TV, pegar o celular, e daqui a pouco sair para o trabalho e etc...) e se dedicar inteiramente a jantares e almoços familiares. A se ler livros e estudar, a ir rezar, se encontrar com a comunidade, partilhar, aprender e ensinar. Todos aqueles valores que tanto se reclamam em falta nos dias de hoje, e que é unanimidade entre especialistas que fariam de nossa sociedade algo muito mais saudável.

Porque dos tênis em lugar dos sapatos de couro em Yom Kipur e Tisha Be Av? Porque são dias de reflexão, e o segundo em especial, de lamentação. Dias introspectivos, em que procuramos o nosso eu mais interno e abrimos mão de luxos e coisas supérfluas. E isto é representado no ato de abrir mão do sapato de couro (sinal de luxo) pelo tênis. Valores que talvez a cabeça pequena de Janer não consiga compreender.

Curiosamente, judeus foram acusados ao longo da história de serem capitalistas e exibirem luxúria. Agora são apontados e menosprezados por usarem 'capas de chuvas vagabundas" e "tênis em lugar de sapato". Tem lógica? Além disso, não sabia que existia alguma lei municipal que obrigasse as pessoas a sair com capa de chuva Armani, relógio Patek Philippe e bolsa Louis Vuitton. Novidades agora?

Janer se sente incomodado com as pessoas que vivem no seu bairro, seus ritos e costumes? Sinto muito dizer a ele, mas o povo judeu não vai mudar após mais de três mil anos de história por causa dele. E nem deve. Se ele se sente realmente perturbado pelos costumes da vizinhança, fica valendo ainda o velho ditado: "os incomodados que se retirem". A liberdade de um vai até onde começa a do outro. E enquanto os judeus estiverem fazendo o seu, sem atrapalhar os outros, tem todo o direito de continuar. Direito e dever. E quem não gostar, azar. Não se pode agradar a todos.

Finalizando, o pseudo-intelectual diz na última frase de seu texto, "E depois os judeus se queixam de ser uma raça perseguida". Aqui Cristaldo expõe enfim toda a sua ignorância, e prova o quão falsa é sua suposta erudição. Primeiro que só existe uma raça, a humana. Talvez não para o articulista, que defendeu em uma discussão em um fórum de Internet, que tal e qual cachorros e cavalos, o ser humano também tinha raças. Contrariando médicos, cientistas e especialistas que dizem que as diferenças de pigmentação são quesitos de melanina, Janer tem sua verdade baseada em seu achismo e vai se agarrar a ela. Mas mesmo nos quesitos "janistas", eu quero que ele me prove como é possível se converter de raça? Afinal, existe conversão no judaísmo e milhões de pessoas ao longo da história já se converteram à religião e ao povo judeu. Como seria possível isso numa raça? E mais: ainda na fórmula "janista de ser", como seria possível judaísmo ser uma raça, com judeus brancos, negros, sul-americanos e asiáticos?

Por fim, novamente o ônus da prova é dele. Ele diz que os judeus se queixam de ser uma "raça" perseguida. Como se não o fossem, e justamente ao contrário, perseguissem os outros.... Acaso, ele consegue anular os registros de dois mil anos ininterruptos de perseguições, conversões forçadas, progroms, cruzadas, inquisição e Holocausto? Acaso, ele consegue achar registros de perseguição e assassinato por parte do povo judeu contra outros povos? Não, não é mesmo? Se conseguir, ele é um revolucionário da história. Caso não, esta última afirmação fica como a maior prova de que ele não passa de um difamador e será lembrada para sempre como um atestado de estupidez. Nem um pouco original, mas mesmo assim, nem um pouco menos estúpido. Quem sabe continuando a ler Maiomônides, ele aprenda alguma coisa. É só o que podemos desejar.