¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, janeiro 08, 2006
 
A INTERLOCUTORES E LEITORES



Senhores Avraham Zajac, André Cardon, Sérgio Kalmus, senhora Marcella Becker e rabinos do Colel Iavne; meu caro Olavo de Carvalho; leitores que me escrevem dos Estados Unidos, Israel e Brasil:

Honrado por receber resposta de tão ilustres interlocutores e de tão digno colegiado. Espanta-me, no entanto, ser considerado anti-semita. Logo eu, que já fui considerado sionista por condenar Arafat e a intifada, por condenar as pretensões árabes a Jerusalém e por defender, em meus artigos sobre o Oriente Médio, a política de Israel. Em 1989, fui o único jornalista gaúcho a protestar contra o estande da OLP na 2ª Bienal do Livro no Rio de Janeiro. O estande da OLP - entidade que nada tem a ver com livros e muito tem a ver com fuzis e metralhadoras - tinha mais posters e camisetas de Arafat do que livros, e mantinha um vídeo reproduzindo permanentemente cenas da intifada. O mesmo estande esteve na Bienal do Livro de São Paulo, no ano anterior, e não vi jornalista algum falar em anti-semitismo.

Não é justo, senhores, desqualificar-me com a pecha de anti-semita. Ao longo de minha vida errante, cultivei e ainda cultivo não poucas amigas e amigos judeus, pelos quais tenho grande apreço. Diga-se de passagem, admiro duas características na comunidade judia: são pessoas sempre cultas e não fazem proselitismo. Há ainda dois ou três meses, em uma entrevista no Orkut, eu declarava:

A recente retirada dos judeus dos territórios ocupados é uma rara demonstração de bom senso de Israel. Mas de pouco ou nada servirá para conter o ódio muçulmano. Os muçulmanos fundamentalistas têm por objetivo o fim de Israel e jamais cederão em seus propósitos.O muro que ora está sendo construído me parece ser, infelizmente, outra solução sensata. Tampouco vai resolver o problema, já que os dois povos estão profundamente entremesclados, mas impede em parte os ataques terroristas.

Uma pergunta se impõe: porque os vizinhos árabes, de área bem mais extensa que Israel, não oferecem território aos palestinos? Os palestinos lembram um pouco o MST. Eles não querem apenas terra, querem o poder. Terras, os palestinos já as têm. Por que continuam na miséria? Por que não conseguem a prosperidade de Israel?
Há ódios eternos. Eu suponho que daqui a mil anos os muçulmanos ainda estarão em guerra com Israel. É difícil encarar uma democracia triunfante - a única do Oriente Médio - no pátio do vizinho. Os árabes teriam de chegar ao século XXI para se pensar em algum tipo de paz permanente. Mas eles correm com 400 anos de atraso.


Em 2002, Marilene Felinto, então cronista da Folha de São Paulo, glorificou as palestinas terroristas que se explodiam em Israel: "As mulheres-bombas muçulmanas são a glorificação do suicídio pelo estoicismo, pelo auto-sacrifício - elas agem no intuito de que a justa defesa do bem público prevaleça sobre o direito do agressor ao corpo e à vida". O único jornalista brasileiro a denunciar a cumplicidade da colunista com o terror fui eu.

Em meu artigo, "Terror explode Ventres", publicado em 05/04/2002, escrevi:

Gerar mortes, ao longo da história, sempre foi ofício masculino. Gerar vida, por natureza e definição, é atributo feminino. Os terroristas palestinos, em sua insânia, passaram a usar ventres como bombas. Até aí, nada de espantar. Terror não tem ética nem limites. O que causa espécie, em um jornal que se pretende defensor dos direitos humanos, é ouvir uma jornalista glorificando o terror. Logo agora que o terror passou a explodir mulheres.

Isso sem falar no artigo citado pelos senhores e publicado no De Olho na Mídia, onde manifesto minha condenação ao terrorismo palestino que fustiga Israel. Causa espécie a meus interlocutores que o mesmo articulista que escreveu "Mídia canoniza Nobel terrorista", a propósito de Arafat, tenha escrito a crônica "Sobre Maimônides". Posso assegurar-lhes, senhores, que o articulista é o mesmo. Continua condenando o terrorismo de Arafat, ao mesmo tempo em que não aceita as proposições de Maimônides. Ou da Torá, como quisermos.

Deixo os ataques pessoais de lado e vou ao cerne da questão, os hábitos da comunidade judaica de Higienópolis e os preceitos de Maimônides. Escrevem meus contestadores: "O articulista do Mídia critica os judeus por não apertarem botões aos sábados, e por andarem de capas de chuva 'vagabundas', ao invés de guarda-chuvas. Se sente incomodado por eles não darem mãos a mulheres em público e por andarem de tênis no dia mais santo judaico, o Dia do Perdão, o Yom Kipur. (...) Agora são apontados e menosprezados por usarem 'capas de chuva vagabundas' e 'tênis em lugar de sapato'".

Ora, em momento algum critiquei os judeus por não apertarem botões nem declarei sentir-me incomodado por não darem as mãos às suas mulheres. Em momento algum menosprezei alguém por usas capas de chuva ou tênis. Tênis é calçado que uso quase diariamente. Como cidadão do Ocidente, apenas manifestei minha estranheza em relação a tais comportamentos (por exemplo, usar tênis com terno e gravata), e nada mais que isso. Considerei-os obsoletos, e não me parece que considerar obsoletas determinadas práticas possa constituir anti-semitismo. Considero estratégia mesquinha colocar palavras ou intenções na boca de um interlocutor para melhor atacá-lo.

"Um homem, mesmo tendo 100% de certeza de que uma mulher não está menstruada - escrevem meus contestadores - e ainda que seja sua esposa; mesmo assim, pelas leis mais estritas judaicas, não pode cumprimentá-la em público. E porque? Por questão de recato. Para preservar carinhos e troca de afagos para os momentos íntimos e particulares com a sua amada".

Ora, não vejo nenhuma falta ao recato em dar a mão a uma mulher. Assim fosse, todos os cristãos deste país seriam despudorados irremediáveis. Meus interlocutores parecem não ter lido a Torá. Lá está, em Levítico 15:19-24:

"E mulher, quando tiver fluxo, e o fluxo da sua carne for de cor sangüínea, sete dias ficará separada na sua impureza; e todo aquele que tocar nela será impuro até a tarde. E tudo sobre o que se deitar na sua impureza será impuro, e tudo sobre o que ela se sentar será impuro. E todo que tocar no seu leito, lavará suas vestes, se banhará em água e será impuro até a tarde. E quem tocar sobre o leito ou sobre o objeto em que ela está sentada, tocando neles, será impuro até a tarde. E se um homem deitar com ela, a sua impureza passará sobre ele, e ficará impuro sete dias; e toda cama em que ele se deitar, se fará impura".

Ora, para mim, cidadão ocidental e vivendo neste século, soa muito estranho considerar impura uma mulher em seus dias de menstruação.

Como não quero estender-me em uma discussão que já se arrasta por demasiado tempo, vou ater-me apenas a dois tópicos mais. Segundo meus interlocutores, não mencionei que a "cidade apóstata era um local onde o assassinato e o roubo eram institucionalizados, e onde 100% dos habitantes eram idólatras, que faziam sacrifícios humanos, de crianças e virgens para seus deuses?". Logo após afirmam: "o Talmud diz que nunca houve uma cidade apóstata no mundo, onde 100% das pessoas eram idólatras, ficando o preceito válido apenas como norma dissuasória, e não para aplicação na prática".

Assim sendo, o preceito 186 era ocioso e não precisava ter sido escrito.

Para concluir, meus interlocutores afirmam: "Curioso é notar, que na verdade, os ataques do articulista não são contra o rabino, como ele faz parecer. São contra a bíblia em si, já que tudo que Maimônides fez foi compilar estas leis". Bingo! Descobriram a América. Ora, desde meus 17 anos venho expondo minhas objeções à Bíblia e, neste nosso mundo ocidental, por enquanto pelo menos, não é crime tecer críticas à Bíblia. Afinal, não vivemos em sociedades como a islâmica, onde a menor crítica ao Corão é respondida com uma fatwa.

E já que da Bíblia se trata, quero transcrever este momento que encontro em minha Torá, em Deut. 7:1-5: "Quando te levar o Eterno, teu Deus, à terra à qual tu vais para herdá-la, e lançar fora muitas nações de diante de ti: o Hiteu, o Guirgasheu, o Emoreu, o Cananeu, o Periseu, o Hiveu e Jebuseu - sete nações numerosas e mais fortes do que tu -, e as dará o Eterno, teu Deus, diante de ti e tu as ferirás; tu as destruirás totalmente, não farás aliança alguma com elas e não lhes darás pousada na terra. (...) Mas assim fareis com elas: seus altares derrubareis, suas Matsevot quebrareis, suas árvores idolatradas cortareis e seus ídolos queimareis no fogo".

Minha pergunta: por que destruir as cidades dos heteus, dos gergeseus, dos amorreus, dos cananeus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus? Por que derrubar seus altares, quebrar suas Matsevot, cortar suas árvores idolatradas e queimar seus ídolos?

Há alguma diferença entre este propósito e as declarações do presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad, do dia 26 de outubro passado: "O Estado sionista ocupante de Jerusalém deve ser varrido do mapa"? Pelas mesmas razões que não aceito os propósitos de Ahmadinejad não posso aceitar estas prescrições da Torá.

Last but not least, em seu último artigo, Olavo de Carvalho escreve: "nós aqui assumimos a plena responsabilidade moral do que publicamos, e não nos sentimos isentos de culpa pelo que Janer Cristaldo escreveu. Ao contrário, assumimos essa culpa". Ora, caro editor, não precisa assumir. Ao pé de cada artigo do MSM está escrito: "Os artigos publicados com assinaturas no MSM são de responsabilidade exclusiva de seus autores".