¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, maio 31, 2005
 
CARTA DA NORUEGA
(texto que circula na rede)

O meu amigo Yngve entregou-me o teu email. Tentarei pois responder às tuas perguntas sobre a influência do Islão na Noruega e a nossa luta contra essa influência. Em relação à Noruega posso dizer-te que a nossa situação se encontra a meio caminho, entre o que se passa nos dois países vizinhos, ou seja, a Suécia e a Dinamarca. Por isso, em primeiro lugar, seria melhor reflectir um pouco acerca da situação nesses dois países.
A situação na Suécia é sem dúvida a pior de todas. Com excepção, talvez do Canadá, não conheço nenhum outro país ocidental onde os apologistas do políticamente correcto controlem completamente o Parlamento, o Governo, a administração pública e os media. Não são toleradas críticas ao islamismo e aqueles que o tentam fazer são silenciados, sendo muitas vezes alvo de tentativas de assassinato. Os amigos do Islão não param perante nada. Os muçulmanos continuam a vir para a Suécia e recentemente um dos meus contactos naquele país, disse-me que cerca de 5.000 cidadãos suecos haviam já abandonado a região Sul, mais concretamente os arredores da cidade de Malmö, devido à forte presença de muçulmanos naquela área, transformando-a de tal forma que se tornou impossível para qualquer pessoa civilizada ali habitar.
Ninguém se atreve a dizer seja o que fôr contra esta situação, sem que seja chamado de racista, podendo inclusive perder o emprego e até receber ameaças de morte, pondo pois em risco a sua própria vida. Quantos muçulmanos vivem actualmente na Suécia, ninguém sabe ao certo, talvez meio milhão, para uma população de 9 milhões. Não há nenhuma resistência organizada contra o Islamismo na Suécia, nenhuma organização Anti-Jihad ou algo semelhante. Apenas existem dois pequenos partidos que tentam opôr-se ao suicídio nacional que a Suécia está prestes a cometer, mas durante as campanhas eleitorais são enxovalhados, sabotados e atacados.
Deixando agora a Suécia, abordarei em seguida a situação que se vive na Dinamarca. A Dinamarca está também a sofrer o resultado da emigração em massa dos muçulmanos. No entanto a principal diferença em relação à Suécia é que os dinamarqueses estão a lutar, isto é, estão organizados e resistem. Os media nos seus editoriais, dão especial relevo às críticas sobre os islâmicos. Uma quantidade razoável de livros que abordam este assunto, foram já publicados. Existe um número razoável de organizações ou grupos anti-Jihad já organizados e o mais importante é que conseguiram entrar no Parlamento dinamarquês através do "Partido do Povo Dinamarquês", tendo alcançado 12% dos votos nas últimas eleições. Não fazem parte da actual coligação governamental mas conseguiram já pressionar o Governo a legislar de forma a limitar a imigração muçulmana e tornar mais fácil a extradição dos que lá vivem actualmente.
De todos os países ocidentais, a Dinamarca é talvez aquele que está a enfrentar este problema mais sériamente, notando-se já alguns sinais encorajadores por parte da Itália e muito recentemente por parte da Holanda. No que respeita ao número de islâmicos na Dinamarca, ninguém sabe ao certo. Temos conhecimento de estimativas que apontam para cima de 350.000 numa população de 4,5 milhões mas talvez seja um pouco exagerado.
Por fim e no que respeita à Noruega, o meu país encontra-se precisamente no meio, a situação não é tão má quanto a da Suécia mas é pior que na Dinamarca. Os nossos políticos, quer governamentais, quer parlamentares são tão traidores quanto os da Suécia, porém ainda não conseguiram silenciar totalmente aqueles que criticam o Islamismo, da mesma forma que na Suécia. A única organização na Noruega inteiramente dedicada à luta contra a influência do Islamismo é o FOMI. No entanto alguns outros grupos e indivíduos isoladamente, deram também voz a essa resistência.
O jornal de maior tiragem da Noruega é o V.G. O seu director tem vindo a repudiar o uso do véu e a denunciar o diabolismo dos "ensinamentos" islâmicos. A Sociedade Étnica Humana na Noruega também se tem pronunciado com veemência contra o Islão, tendo editado a tradução norueguesa do livro mais célebre do autor Ibn Warraq´s, Porque não sou muçulmano. Algumas outras obras anti-islâmicas foram traduzidas e publicadas, nomeadamente A Raiva e o Orgulho, de Oriana Fallaci.
Esta é, em breves traços, e de acordo com as tuas perguntas, a situação que se vive nestes três países nórdicos.
Jarle S.

segunda-feira, maio 30, 2005
 
E-BOOKS
O site que hospedava meus e-books foi desativado. Enquanto não encontre novo hospedeiro, os leitores interessados em algum título podem pedir-me o livro por e-mail, que o enviarei imediatamente. No momento, só posso enviar os de formato ebookpro, que são auto-executáveis. Mas a maioria dos livros está neste formato.

 
CHUVA À VISTA



A diocese de Roma abriu oficialmente o procedimento que pode levar à canonização do papa João Paulo II, pedindo aos católicos que apresentem evidências a favor ou contra sua reputação de santidade. Para a beatificação é necessária a comprovação de um milagre. Para a canoninazão, mais um outro.

Prepare-se a mídia para uma chuva de milagres. Médicos venais é o que não falta neste mundo.

 
DE EUROPA A EURÁBIA
A escritora italiana Oriana Fallaci, atualmente residindo em Nova York, foi intimada por um tribunal de Bergamo, Itália, na terça-feira passada, a comparecer ante a Justiça, para responder por possível ofensa contra o Islã, expressa em um de seus livros. Ora, o Corão ordena aos muçulmanos matar os infiéis: "Matai-os onde quer que os encontreis" (sura 2:191). Ou sura 4:91: "...capturai-os e matai-os, onde quer que os acheis, porque sobre isto vos concedemos autoridade absoluta". Isto sem falar em outras incitações ao assassinato. Nesta nossa era politicamente correta, ordenar a matança de cristãos, pode. O que não pode é tornar público certos fatos sobre o Islã.

Muitos outros versículos do gênero podem ser encontrados neste livro que é publicado e difundido no Ocidente, sem que ocidental algum se sinta ofendido ou ameaçado. Mas ai de quem repudiar estas incitações ao crime e ao ódio religioso! Seja anátema! Um boato não comprovado de que um Corão teria sido jogado numa latrina por soldados americanos (o que só serviria para entupir a latrina), provocou alaridos e assassinatos em todo o mundo islâmico. A morte em massa de iraquianos por terroristas sírios e iraquianos não sensibiliza muçulmano algum.

Há uns bons três anos, comentei La Rabia e l'Orgoglio, o soberbo panfleto de Oriana Fallaci em defesa do Ocidente e seus valores, escrito por ocasião do atentado ao World Trade Center e mais tarde transformado em livro. Em meados de dezembro de 2001, quando foi lançado, eu estava em Roma e via as pilhas de livros sumindo rapidamente, de minuto em minuto, nas livrarias. Vendeu como pão quente, chegando a atingir 50 mil cópias por dia, proeza sequer igualada pelos Harry Potters da vida. O livro foi traduzido em todos os idiomas da Europa e sua recepção foi tamanha na Itália, que velhinhas romanas compravam-no às pilhas e saiam a vendê-lo nas ruas e estradas.

O que só demonstra a colossal covardia dos editores brasileiros. As livrarias estão repletas dos lixos de Paulo Coelho ou Jô Soares e nem sombra do livro da escritora italiana. Que, nesta altura, já produziu mais dois, ambos lançados no ano passado e também ignorados pelo mercado livreiro tupiniquim: La Forza della Ragione e Oriana Fallaci intervista Oriana Fallaci.

Me atenho ao primeiro, no qual Fallaci mostra uma Europa prestes a render-se à nova invasão do Islã. Se os árabes foram expulsos do velho continente pela força das lanças e espadas há cinco séculos, estão voltando agora munidos de armas mais sutis: direitos humanos, tolerância religiosa, diversidade cultural ... e o uso do ventre das muçulmanas. A autora já nos fala de uma Eurábia - e o neologismo não é seu, mas título de uma revista criada em 1975, por entidades européias em parceira com grupos árabes - na qual os muçulmanos passaram a impor suas mesquitas, seus ritos e atrocidades, sem respeito algum aos poderes europeus. Na Inglaterra já existe uma organização chamada Parlamento Muçulmano, cujo primeiro objetivo é recordar aos imigrantes que não estão obrigados a respeitar as leis inglesas: "Para um muçulmano respeitar as leis em vigor no país que o acolhe é algo facultativo. Um muçulmano tem que obedecer a Sharia e ponto", diz sua Carta Constituinte.

O que permitiu ao conselheiro da Federação Espanhola de Entidades Religiosas Islâmicas, o imã Mohammed Kamal Mustafá, nesta Europa do século XXI, escrever um manual sobre como surrar uma mulher: "Utilizar uma vara fina e leve, útil para golpeá-la desde longe. Golpeá-la apenas no corpo, nas mãos, nos pés. Nunca no rosto, porque se vêem as cicatrizes e os hematomas. Lembrar que os golpes devem fazer sofrer psicologicamente, não apenas fisicamente".

Em Granada, no bairro de Albaicín, os árabes criaram um Estado dentro do Estado espanhol, que vive com suas próprias leis e instituições. Com seu hospital, cemitério, matadouro, jornal, bibliotecas e escolas (onde se ensina exclusivamente a memorizar o Corão). Não bastasse isso, criaram moedas próprias, de ouro e prata, cunhadas segundo o modelo dos dirham utilizados nos tempos de Boabdil, que o Ministério da Fazenda espanhol finge ignorar.

Na Itália, centro histórico e político do cristianismo, as comunidades islâmicas já exigem o ensino do Corão não só nas escolas como nas faculdades de Direito, Teologia, Filosofia e História. Conquistaram ainda uma antiga e absurda reivindicação (que comentei há alguns anos, quando ainda era projeto), a de permitir que as mulheres árabes portem véu... nas carteiras de identificação. Em 1995, um ex-ministro do Interior emitiu uma circular informando a polícia que a obrigação de aparecer com a cabeça descoberta nas fotos dos documentos se referia somente ao chapéu. "Para não atentar contra o princípio constitucional garantido pelo artigo 19 em matéria de culto e liberdade religiosa, está, pois, permitido colocar nos documentos de identidade uma foto com a cabeça coberta com as citadas prendas" (as que formam parte da indumentária islâmica, entre elas o chador, o hijab e o turbante).

As mesquitas estão nascendo em todas as capitais e grandes cidade européias como cogumelos após a chuva, com apoio político e financeiro do Estado... e mesmo da Igreja Católica. Em Paris, o Instituto Cultural Islâmico da Rue Tanger, dirigido pelo fundamentalista argelino Larbi Kechat (preso mais tarde por seus vínculos com a Al Qaeda), foi criado graças ao apoio de dois padres católicos. Em Lyon, a Grande Mesquita foi mandada fundar pelo cardeal Decourtray. A Igreja Católica, diz Fallaci, "no fundo está de acordo com o Islã, porque os padres se entendem entre eles".

Outro fato insólito que a autora denuncia é a adesão das esquerdas ao islamismo. "Com o afundamento da União Soviética e com o ressurgir do capitalismo na China, a Esquerda perdeu seus pontos de referência. Ergo, se aferra ao Islã como a uma tábua de salvação". O que explica a nonchalance com que certos filósofos contemporâneos navegam do marxismo ao catolicismo e finalmente ao islamismo, pobres diabos imaturos em busca desesperada de um absoluto qualquer.

E por aí vai. Catei três ou quatro exemplos entre as centenas que Fallaci arrola. Se você gosta da Europa e da cultura européia, procure urgente este livro na Internet. Porque aqui, tão cedo não será editado. E mesmo talvez nunca. Para concluir, transcrevo este depoimento surpreendente de uma italiana de Milão, Aisha Farina, convertida ao islamismo. Para Aisha, a dominação da Europa é apenas uma questão de tempo.

- Um dia Roma será uma cidade aberta ao Islã e, de fato, já é uma cidade aberta. Porque nós, os muçulmanos, somos muitos. Milhares e milhares, muitíssimos. Mas não devem assustar-se. Isto não significa que nós queiramos conquistá-los com os exércitos, com as armas. Talvez todos os italianos acabem convertendo-se e de todas as formas os conquistaremos pacificamente. Porque a cada geração nós nos duplicamos ou mais. Por outro lado, vocês se reduzem à metade. Têm um índice de crescimento zero.

Segundo a ONU, os muçulmanos têm uma taxa de crescimento entre 4,6 e 6,4 por cento ao ano. Os cristãos, só 1,4 por cento. Se você ainda tem algum fascínio pela cultura ocidental, faça os cálculos - e as malas - e viaje logo. Pelo que nos relata Fallaci, a Europa que amamos tem seus dias contados.

PS - Se você entende espanhol e quiser ler o texto básico que deu origem a La Rabia e l'Orgoglio, basta pedir-me que o envio com prazer. Acabo de receber também o texto integral em inglês.

quinta-feira, maio 26, 2005
 
ONFRAY E A LIBERDADE


"Só o homem ateu pode ser livre, porque Deus é incompatível com a liberdade humana. Deus pressupõe a existência de uma providência divina, o que nega a possibilidade de escolher o próprio destino e inventar a própria existência. Se Deus existe, eu não sou livre; por outro lado, se Deus não existe, posso me libertar. A liberdade nunca é dada. Ela se constrói no dia-a-dia. Ora, o princípio fundamenal do Deus do cristianismo, do judaísmo e do Islã é um entrave e um inibidor da autonomia do homem".

Michel Onfray, autor de Traité d'athéologie

terça-feira, maio 24, 2005
 
LOUCURA E SAÚDE


Fui ver A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich - filme do cineasta alemão Oliver Hirschbiegel, que retrata os doze últimos dias de Adolf Shicklgruber Hitler, acossado no bunker da Chancelaria, no centro de Berlim. À medida que as tropas russas avançam, observa-se o agravamento da loucura do Führer, que passa a dar ordens a exércitos que não mais existem. Mesmo com a artilharia russa a centenas de metros do bunker, ainda acha que pode reverter o curso dos acontecimentos.

Por que loucura? Por uma única razão: Hitler está derrotado. Não é por ter pretendido criar um Reich de mil anos, nem por desejar a conquista de toda Europa, nem por exterminar milhões de judeus que o consideramos louco. E sim porque perdeu. Hitler se revela ensandecido em seu refúgio. Stalin - que fornecera aos nazistas o modelo dos campos de concentração, que fuzilara seu Estado Maior antes mesmo da débâcle do Reich e que mataria até o final de seus dias 20 milhões de seres humanos - emerge como herói e libertador da Europa. A conta será apresentada em Yalta: onze países europeus entregues à tirania comunista. Ninguém ousou aventar a loucura de Stalin, nem mesmo após sua morte. Pelo contrário, era visto como uma espécie de Cristo redivivo e mereceu o carinhoso epíteto de Paizinho dos Povos.

Que é então a loucura? Se analisamos a tragédia particular de Hitler, loucura é não ter seguidores. Hitler foi dos homens mais amados da face da Terra - se não o mais amado. Triunfante, era o Führer, o Condutor, e alemão algum colocaria em dúvida sua saúde mental. Derrotado, conta apenas com alguns gatos pingados para compartilhar sua morte. Em todo caso, teve mais solidariedade do que Cristo, que não teve sequer quem o ajudasse a carregar a cruz. Ora, direis, e Simão, o cireneu? Não vale. Simão foi obrigado pelos romanos a ajudar Jesus.

Antes ou depois de assistir A Queda, seria interessante dar uma olhadela em Triumph des Willens (O Triunfo da Vontade), documentário de Leni Riefenstahl sobre o 6º Congresso do Partido Nacional Socialista alemão, realizado em 1934, em Nuremberg, sob a liderança de Adolf Hitler. O desfile monumental das tropas nazistas, os discursos inflamados do Führer e de seus oficiais, a crença absoluta na vitória, dão a idéia de um regime inabalável, instalado para durar mil anos. Ninguém falaria em loucura naqueles dias. Em 1935, o filme recebeu o Prêmio Nacional do Cinema Alemão e foi também premiado no Festival de Veneza. Em 1937, recebeu o Grand Prix da Exposition Internationale des Arts et des Techniques, em Paris. Durante esse período, Riefenstahl gozou dos afagos da crítica e da glória conferida às divas do cinema.

Adolf Shicklgruber Hitler era então um estadista. Em 1945, é uma fera acuada que se suicida em sua toca. Do dia para a noite, Leni Riefenstahl é banida do mundo das artes e passa a ser vista como uma cineasta do mal. O Triunfo da Vontade torna-se de repente o filme mais proibido do século passado, e só recentemente está ressurgindo em cinematecas e DVD. Mas o século todo, de ponta a ponta, jamais deixou de louvar Eisenstein, o cineasta de Stalin. O Paizinho dos Povos era saúde, redenção, o futuro da humanidade.

A multidão, este é o fator que transforma loucura em saúde e saúde em loucura. Há uma distância hiante entre o documentário de Riefenstahl e o filme de Hirschbiegel. Atrás de O Triunfo da Vontade está toda uma Alemanha unida, unânime, apoiando o Führer. Nazismo é higidez. Em A Queda, desapareceu a Alemanha unânime. Hitler está só. Nazismo vira sinônimo de loucura. A idéia de saúde transferiu-se para Stalin, o tirano vitorioso.

Fidel Castro, sem ir mais longe. Se nos anos 70 era um guerrilheiro vitorioso, empenhado em uma revolução supostamente libertadora, o poder conquistado passou a cegá-lo. Se alguém lhe disser que em quatro décadas conseguiu transformar uma ilha relativamente próspera, no segundo país mais pobre do continente, só perdendo o primeiro lugar para o Haiti, Castro o envariá incontinenti para o cárcere, como sabotador da democracia cubana. Sua loucura atingiu tal grau que enche a boca com a palavrinha grega para designar um regime ditatorial, sem eleições livres, sem liberdade de imprensa, com prisioneiros políticos torturados e com uma vigilância de seus cidadãos só comparável à da extinta KGB.

Durante longos anos, Castro viveu de gordas esmolas da finada União Soviética, sempre creditando a sobrevivência dos cubanos à formula mágica de sua "revolução". Extinta a União Soviética, secou a fonte. Os cubanos passaram a viver em um regime de quase fome. Mesmo em meio à miséria generalizada, onde o Estado se serve até mesmo da prostituição para obter divisas. Fidel, hierático, imperturbável, continua cantando loas a seu regime e o exporta como modelo para as nações.

Onde se escora esta loucura? Nos cubanos certamente é que não. Neste caso o tirano não precisaria vigiar seus prisioneiros, pois esta é a condição de quem não pode sair de onde está. Nem precisaria censurar as manifestações de pensamento, desde os jornais até a Internet. A loucura castrista tem seu suporte um pouco mais adiante. Na imprensa internacional, que sempre o louvou como libertador. Nas viúvas de Moscou, que até hoje o consideram como o Líder Máximo. Nas esquerdas européias e latino-americanas, que ainda o saúdam como herói. Neste governo brasileiro, que ainda o recebe como estadista.

Desaparecesse de repente este apoio internacional, el Comandante en Jefe se veria nu em sua histrionice e esbravejaria ensandecido, como Hitler em seu bunker. Porque el imperialismo yanque.... porque la revolución... la democracia burguesa... las fuerzas revolucionárias...la podredumbre del Occidente... enfim, o eterno ramerrão do tiranete do Caribe. Como sua morte não deve estar muito distante, e longa é a caminhada das gentes da estupidez até o bom senso, certamente morrerá em odor de santidade. Como morreu um outro insano, o aiatolá Khomeini, em cuja memória hoje se ergue uma suntuosa mesquita em Teerã. Enquanto milhões avalizarem a loucura, a loucura será sempre saúde.

Já que chegamos aqui, vamos um pouco mais adiante. Imaginemos que, num repente, desaparece o cristianismo da face da terra, com todas suas crenças e rituais. Na solidão do Vaticano, cercado por alguns acólitos, qual Shicklgruber nos porões da Chancelaria, um homem vencido e solitário balbuciará palavras misteriosas e desprovidas de significado para seus coetâneos: eternidade, onipotência, onisciência, onipresença, transcendência absoluta, anjos, a queda dos anjos, pecado original, lei moral natural, três em um, um em três, duas naturezas que não se misturam, a mãe virgem, a imaculada conceição, a transubstanciação da carne, infalibilidade, eucaristia, assunção aos céus, corpos incorruptos, inferno, paraíso, demônio, fim dos tempos, parusia, comei a minha carne, bebei o meu sangue...

Insanidade total.

segunda-feira, maio 23, 2005
 
PASTOR ALEMÃO MOSTRA GARRAS


Papa arquiva processo contra padre pedófilo

Washington - O Vaticano arquivou definitivamente o processo por abuso sexual contra o padre mexicano Marcial Maciel Degollado, fundador da ordem dos Legionários de Cristo e um dos sacerdotes prediletos do falecido papa João Paulo II.

A decisão, a primeira do papado de Bento XVI envolvendo um episódio do escândalo que até hoje abala a Igreja Católica nos EUA e em outros países, foi recebida com espanto por alguns dos acusadores de Degollado, hoje com 85 anos. "Isso acaba com a credibilidade do Vaticano, a começar pelo papa", disse Juan Vaca, professor visitante do Mercy College, em Nova York, um dos oito homens que dizem terem sido vítimas de abuso sexual por Degollado entre 1943 e 1960, quando tinham entre 10 e 16 anos.

domingo, maio 22, 2005
 
SANITIZAÇÃO CONTAMINA SUECOS


Suécia quer limitar imagens de mulheres seminuas na mídia - é o que leio nos jornais. O primeiro-ministro da Suécia, Göran Persson, condenou a mídia do país a abusar de imagens de mulheres seminuas para aumentar suas vendas. Segundo o premiê, o governo está avaliando maneiras de "sanitizar" a mídia, o que pode incluir mudanças na legislação. "Onde quer que você vá hoje em dia, aqui na Suécia, você vê fotos de jovens praticamente despidas", disse ele, em um discurso para um congresso de mulheres do Partido Social Democrata.

Como se fotos mulheres nuas pudessem afundar um país! A Suécia faturou bilhões em divisas, com seus sexklubbar, sexo ao vivo, livros e filmes pornográficos. Bilhões não só com a exportação de pornografia, mas com o que a pornografia atraía de turistas. E sempre liderou o ranking dos países desenvolvidos.

O moralismo súbito de Göran Persson, de fazer inveja a delegadinho do interior do Brasil, está parecendo mais uma deferência - para não dizer rendição - aos muçulmanos que estão tomando a Suécia de assalto.

quinta-feira, maio 19, 2005
 
BARBÁRIE BAIANA EMPESTA PARIS

Dia 13 de julho próximo, véspera das comemorações da Queda da Bastilha, um trio elétrico poluirá as avenidas de Paris, desembocando na Place de la Bastille. A invasão de bárbaros faz parte desse festival de corrupção chamado Ano do Brasil na França 2005, que só contempla os amigos do Rei. Financiados, bem entendido, pelos impostos pagos pelos súditos.

Costumo afirmar que civilização é silêncio. Se você é daqueles que gosta de viajar para fugir aos ruídos deste Brasil ainda atolado no analfabetismo, Paris já era. Pela primeira vez em sua história, a vetusta Lutécia será violada pela mais infame, estúpida, inculta e invasiva criação tupiniquim.

A capital francesa se degrada dia a dia. Se você quer curtir um pouco de finesse, viaje logo antes que acabe.

 
SOBRE UTOPIA


Leio no Estadão de ontem, em crônica assinada por uma de suas melhores plumas, José Nêumanne:

"Mas será o caso de lembrar que os esforços dos grandes divulgadores da cultura grega (...) semearam palavras e conceitos usados até hoje nas mais faladas línguas do planeta globalizado. Entre eles figura utopia, a fantasia da sociedade igualitária, também capaz de produzir tiranias brutais".

Engana-se o cronista. A palavra utopia não pertence à cultura grega. Tem suas origens gregas, é verdade. Provém de ou (não) e topos (lugar). Mas foi criada em 1532, por sir Thomas More, escritor do Renascimento inglês.

quarta-feira, maio 18, 2005
 
LIBÉ CENSURA


Deu no Libération, de Paris:

Miss Polémique

mercredi 18 mai 2005 - 12:21

Cachez-nous ces Miss que nous ne saurions voir. La nuée de reines de beauté présentes en Thaïlande pour le concours de Miss Univers, qui doit s'y tenir le 31 mai prochain, s'est attiré les foudres des autorités religieuses locales lorsque quelques-unes des 81 prétendantes au titre universel ont paradé en bikini devant des temples bouddhiques. Respectueux des différentes croyances, religions et autres superstitions du monde, nous avons préféré vous faire découvrir ces très attrayantes jeunes filles en tee-shirt.


Em suma, o libertário Libération, defensor incondicional da liberdade de imprensa, rendeu-se ao politicamente correto. Equipara crenças e religiões a outras superstições do mundo. Mas não ousa publicar a foto das moças em biquini diante dos templos budistas.

Ó tempora!

 
NÓS E ELES



Neste ano, até 20/5, brasileiro trabalhou só para pagar imposto - é o que leio nos jornais. Estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) mostra que neste ano os brasileiros trabalharão quatro meses e vinte dias para pagar tributos aos governos federal, estadual e municipal. Ou seja, até depois de amanhã, nada do que ganhamos vai para nosso bolso. Boa parte vai para azeitar a máquina do PT, outra parte é cota da corrupção e o restinho que sobrar serve para administrar precariamente os gastos públicos e financiar o assistencialismo, que sempre rende votos ao poder.

Em 1986, quando o IBPT iniciou os levantamentos, para pagar os tributos, o contribuinte trabalhava dois meses e 22 dias. De acordo com o mesmo IBPT, o pagamento de impostos e contribuições aos governos representou 37,81% da renda do contribuinte em 2004, e neste ano chegará a 38,35%.

Em meados do século XVIII, para cobrir os gastos com a Guerra dos Sete Anos, o governo inglês lançou o imposto sobre o chá nas colônias americanas. Reagindo contra esse imposto, um grupo de colonos assaltou barcos carregados de chá em Boston, lançando a carga ao mar. O episódio ficou conhecido como A Festa do Chá de Boston (The Boston Tea Party). Ao enviar militares para Boston, o governo inglês provoca um movimento de resistência ao domínio britânico sobre as colônias. Em 1776, as treze colônias aprovam a Declaração da Independência, e criam um exército para resistir às tropas Inglesas. Em 1783, a Inglaterra reconhece a independência dos EUA.

No Brasil, já começou a campanha para a reeleição do Supremo Apedeuta em 2006. E ainda há quem se pergunte porque Estados Unidos é Estados Unidos e Brasil é Brasil.

segunda-feira, maio 16, 2005
 
SANITIZANDO A BÍBLIA
Nestes dias em que o "politicamente correto" virou cartilha no Brasil, surge nos Estados Unidos o insólito film sanitizing. O presidente norte-americano George W. Bush assinou, em abril passado, uma Lei de Entretenimento Familiar e Direitos Autorais, destinada a "sanitizar" a comercialização em DVDs de produções de Hollywood. Seriam produzidas novas versões que excluem cenas de violência excessiva, homossexualismo e até relações extraconjugais. É o que nos dizem os jornais. As novas medidas nada têm a ver com proteger a infância. Segundo Robert Rosen, especialista em cinema da Universidade da Califórnia, "há todo tipo de motivações religiosas, políticas e ideológicas por trás disso". A maioria das companhias sanitizadoras, que têm nomes como Filmes Família, Filmes Limpos e Jogo Limpo, começou a operar no Estado de Utah, atendendo sobretudo à grande população mórmon.

Ou seja, um cineasta faz um filme e você vê outro. No filme The Hurricane, de 1999, de Norman Jewison, todas as agressões verbais racistas feitas por policiais contra o protagonista foram retiradas. De The Sponge Bob Square Pants Movie, desenho animado de Stephen Hillenburg, foram retiradas as cenas homossexuais. "Nós não odiamos homossexuais", afirma Sandra Teraci, porta-voz de uma empresa sanitizadora. Apenas não acreditamos que esse estilo de vida deva ser glorificado. Isso é crescente em cada vez mais gêneros de filmes". A empresa Filmes Limpos, por exemplo, já tem mais de 800 produções sanitizadas em seu catálogo para aluguel ou venda, desde que começou o negócio, em 1999. Quanto ao autor, que se lixe.

Imagine o leitor se algum cineasta quisesse filmar hoje episódios da Bíblia. Para poupar trabalho aos sanitizadores, os produtores já poderiam começar sanitizando o roteiro. (A bem da verdade, muitos episódios bíblicos já foram filmados, sempre devidamente sanitizados, muito antes da censura dos mórmons de Utah). Não teriam pouco trabalho. Pra começar, seria oportuno eliminar o momento culminante do Gênesis. "Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei da face da terra todas as criaturas que fiz".

Hoje, bastam algumas centenas de mortos para a ONU falar em genocídio. Mas seria necessário enquadrar Jeová em uma nova definição de crime. Pancídio, talvez. Se a palavra não existe, eu a cunho agora. Pois "pereceu toda a carne que se movia sobre a terra, tanto ave como gado, animais selvagens, todo réptil que se arrasta sobre a terra, e todo homem". Em sua ira, Jeová não poupa nem mesmo os demais seres vivos. (É de supor-se que tenham sobrevivido peixes e demais animais aquáticos). O que já o enquadra, concomitantemente, em outra tipificação de crimes, os ecológicos. Nem Hitler, nem Mao, nem Stalin, nem Pol Pot pretenderam tanto. Estes senhores pelo menos não tinham nada contra os animais. E tampouco poderes para executar o trabalho colossal de Jeová. Como era grande a maldade do homem na terra, por ela pagaram todas as espécies. Sem julgamento, nem direito de defesa. Violência excessiva. Sanitizing já!

Em suma, o Gênesis é rico em episódios que excitariam a sanha dos sanitizadores. Lá pelas tantas, o santo homem escolhido por Jeová para sobreviver às águas planta uma vinha. Como era de esperar-se, bebe do vinho. Embriagado, apresenta-se nu a Cão, seu filho. Alcoolismo e pedofilia, no mínimo. Tesoura de novo no Gênesis.

No episódio de Sodoma e Gomorra, Jeová retoma seus ímpetos genocidas e faz tábula rasa das duas cidades. Seus habitantes haviam pecado contra o Senhor e portanto deveriam ser exterminados. Só é salvo o único homem justo de Sodoma, Ló (e os seus), por sinal sobrinho de Abrão, que tinha canais privilegiados com o Senhor. Ou seja, nepotismo não é coisa de hoje nem exclusividade do Congresso Nacional.

O Senhor envia dois anjos para parlamentar com Ló, o que despertou os desejos dos sodomitas. Os homens de Sodoma cercaram sua casa, "tanto os moços como os velhos, todo o povo de todos os lados e, chamando a Ló, perguntaram-lhe: Onde estão os homens que entraram esta noite em tua casa? Traze-os cá fora a nós, para que os conheçamos". Para salvar seus hóspedes, o único homem justo de Sodoma oferece à turba suas duas filhas, "que ainda não conheceram varão; eu vo-las trarei para fora, e lhes fareis como bem vos parecer: somente nada façais a estes homens, porquanto entraram debaixo da sombra do meu telhado". O que não deixa dúvidas sobre o significado bíblico de conhecer. Aliás, a tradução da Bíblia feita por André Chouraqui é mais precisa: '"Faze-os sair até nós, vamos penetrá-los?. Responde Ló: "Tenho duas filhas que homem algum jamais penetrou". Sanitização urgente!

Não bastasse esta oferta indecorosa aos sodomitas - que, diga-se de passagem, não demonstraram interesse algum pelas moças - o santo homem Ló, como Noé, também era chegado ao fruto das vinhas. Eis então que o eleito do senhor toma novo porre e dorme com suas duas filhas, desprezadas pelos sodomitas. A primogênita dá à luz Moabe, o pai dos moabitas. A mais nova gera outro filho, Ben-Ami, o pai dos amonitas. Alegam as filhas que pretendiam conservar a descendência do pai. Fica a pergunta no ar: se o propósito era legítimo, para que embriagar o pai? Sei lá. Por via das dúvidas, melhor sanitizar. Incesto, ainda que com a mais nobre das intenções, não fica bem num filme-família.

Já que estamos falando de família, pulemos para Samuel. Mesmo admitindo-se que Noé, único sobrevivente do pancídio, precisava preservar a espécie, tampouco fica bem no livro que embasa a Santa Madre Igreja Católica aquele mulherio todo do sábio rei Davi: Mical, Abigail, Ainoã, Maacá, Hagite, Abital e Eglá, isso sem falar em seu adultério com Bate-Seba. Tampouco é muito honrosa para a biografia de um ascendente de Cristo mandar o heteu Urias, marido de Bate-Seba, para a frente de combates, para melhor usufruir dos encantos de sua mulher. "Ponde Urias na frente onde for mais renhida a peleja, e retirai-vos dele, para que seja ferido e morra". Urias morreu. Poligamia, assassinato e adultério no livro da Igreja que prega o casamento indissolúvel? Sanitizemos Samuel.

Sem falar na ordem dada a seu filho Salomão, de matar Joabe e Simei, Davi carrega a morte de 70 mil israelitas. Davi faz um censo de seu povo, o que provoca a ira de Jeová. Como castigo, pode escolher entre três opções: "ou três anos de fome; ou seres por três meses consumido diante de teus adversários, enquanto a espada de teus inimigos te alcance; ou que por três dias a espada do Senhor, isto é, a peste na terra, e o anjo do Senhor façam destruição por todos os termos de Israel". O sábio rei Davi não tem dúvidas, escolhe os três dias de peste. "Mandou, pois, o Senhor a peste a Israel; e caíram de Israel setenta mil homens". Sanitização imediata, antes que alguém confunda a vontade do Senhor com holocausto. Holocausto é palavra que se usa apenas para os crimes de Hitler.

Incesto, poligamia, homossexualismo, assassinatos, vinganças, massacres em massa, genocídio. Devidamente sanitizado, talvez um filme sobre a Bíblia pudesse ser visto por mães e pais de família. Last but not least, não esquecer de cortar aquele inexplicável massacre de criancinhas, encomendado por um profeta careca. Estava Eliseu subindo a Betel, quando alguns meninos saíram da cidade e começaram a gritar: "sobe, careca; sobe, careca". O santo homem amaldiçoou-os em nome do Senhor. Duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos. O politicamente incorreto é mais antigo do que se pensa e suas sanções eram bem mais duras que as hodiernas.

Isso sem falar na escravidão, que permeia a Bíblia de ponta a ponta, desde o Levítico até o Novo Testamento, onde é aprovada por Paulo, grande assassino de cristãos e fundador do cristianismo. Mas isso é outro assunto. Sanitizing now!

sábado, maio 14, 2005
 
CHUVA DE MILAGRES À VISTA


Coerente com a política de fabricar santos em série de João Paulo II, Bento XVI quer santificá-lo, sem sequer esperar os cinco anos de praxe para iniciar um processo de canonização. Como para ser santo são exigidos dois milagres, preparem-se os fiéis e infiéis para uma chuva dos ditos nos próximos dias. Polônia, Itália e Brasil são fortes candidatos para montar a farsa. Quem viver, verá.

Como médicos venais sempre existem em todos os países do mundo, os milagres logo estarão nas páginas dos jornais. Que podem não ser venais, mas jamais ousarão contestar as ficções vaticanas.

quarta-feira, maio 11, 2005
 
MATERIALISTA DIALÉTICO MAS NÃO MUITO


Comentei outro dia o paradoxo de católicos que consideram a morte como um encontro com Deus e na hora do jesus-está-chamando recorrem a medicinas de ponta e preces para não partir. Ocorreu ontem caso semelhante. Um Learjet da FAB, voando de São Paulo para Brasília, transportava o senador Renan Calheiros e os ministros Eunício de Oliveira, das Comunicações, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política, este último comunista de carteirinha.

Em determinado momento, ouviu-se um estouro na porta do pequeno jato, que começou a balançar no ar. Eunício abriu a pasta e se pendurou em uma imagem do padre Cícero, pedindo o milagre de manter o avião em vôo. O que dá uma idéia dos espécimes supersticiosos que vicejam no Planalto. Renan tremia e lamentava não ter seguido o conselho de não voar, dado pela sua mulher na véspera. Que fez nosso bravo materialista dialético? Começou a entoar um pai-nosso em voz alta.

Não se fazem mais comunistas como antigamente. O avião, infelizmente, se recuperou e não caiu.

terça-feira, maio 10, 2005
 
O MÉRITO DA CARTILHA DO NILMÁRIO

Nos Diálogos de Platão, Crátilo considera que os nomes das coisas estão naturalmente relacionados com as coisas. As coisas nascem - ou são criadas, descobertas ou inventadas - e em seu ser habita, desde a origem, o inadequado nome que as assinala e distingue das demais. Já Hermógenes pensa que as palavras não são senão convenções estabelecidas pelos homens com o propósito de entender-se. As coisas aparecem ou se apresentam ao homem e este, defrontando-se com a coisa recém-nascida, a batiza.

O mesmo não pensa o PT. Para este partido, de DNA stalinista, o homem não tem mais o direito de dar nome às coisas. Está causando escândalo nestes dias a cartilha Politicamente Correto & Direitos Humanos, editada no ano passado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que tem como titular o mineiro Nilmário Miranda. De autoria de um antigo militante comunista, o jornalista Antonio Carlos Queiroz, a cartilha bane do vocabulário, como inconvenientes, mais de noventa palavras. O documento é fruto de um convênio entre a Secretaria com a Fundação Universitária de Brasília, que resolveu terceirizar o serviço e o repassou ao jornalista. Quem dá nome às coisas agora não é o povo, mas o PT. Os dicionários e dicionaristas que se lixem.

Esta tendência a censurar dicionários não é nova no PT. Uma de suas deputadas, Lúcia Carvalho, não teve pejo algum em apresentar à Câmara Legislativa de Brasília um projeto que retirava dos dicionários, livros didáticos e obras literárias, todas as expressões por ela consideradas machistas. Pra começar, "paraíba mulher-macho', que desde há muito faz parte do cancioneiro nacional.

O insólito em tudo isso é que um cacoete ideológico, surgido nas universidades americanas nos anos 8O, seja endossado por antigos servidores de Moscou. Costumo afirmar que brasileiro adora copiar achados do Primeiro Mundo. Mas copia com dez ou mais anos de atraso, e sempre copia o pior. No caso, os mais lídimos representantes das esquerdas brasileiras, de um anti-americanismo ferrenho, foram buscar nos States a inspiração para seus pendores autoritários. Pois a linguagem PC - politicamente correta - é o stalinismo aplicado à linguagem. Stalinismo curiosamente oriundo de uma nação que se jacta de defender a liberdade. Não contentes de censurar livros, os neostalinistas querem censurar dicionários. Palavras que sempre estiveram na boca do povo - afinal, dela nasceram - passam de repente a constituir algo ilícito, ou no mínimo inconveniente, quando proferidas.

A cartilha do Nilmário não tem muitas novidades. Pretende, por exemplo, banir palavras como preto (inclusive na expressão "a coisa ficou preta"), baianada, aidético, cabeça-chata, sapatão. A palavra negro também tem suas restrições: "a maioria dos militantes do movimento negro prefere este termo a preto. Mas em certas situações as duas expressões podem ser ofensivas. Em outras, podem denotar carinho nos diminutivos neguinho ou minha preta". Em suma, se você disser negro acompanhado de um sorriso, talvez passe. Mais um pouco e o PT passa a regulamentar o sorriso.

Ora, há muito os jornais brasileiros evitam essas palavras. A linguagem PC infiltrou-se até na legislação. Chamar alguém de negro, mesmo que negro seja, hoje constitui crime. Há alguns anos, um negro foi preso em Brasília por chamar um negro... de negro. É cada vez mais freqüente - numa cópia servil da imprensa ianque - o uso de afrodescendentes para negros. Se você, leitor, é desses que adoram pautar sua linguagem pela moda, ao ver um amigo negro, não mais o chame de negrão. Mas de "meu caro afrodescendentão". Se for miudinho, "meu querido afrodescendentinho".

Preto de alma branca, nem pensar. É "um dos slogans mais terríveis da ideologia do branqueamento no país, que atribui valor máximo à raça branca e mínimo aos negros. Frase altamente racista e segregadora". Por analogia, a velha expressão popular "serviço de negro" muito menos. Mas falar em serviço de branco, quando você quer elogiar um trabalho, por enquanto não está proibido. Lapso do Queiroz. A levar-se a sério a famigerada cartilha, até a Bíblia teria de ser reescrita. Pois Sulamita é negra. Pior ainda: negra, mas formosa. Esse "mas" tem sido até hoje uma espinha na garganta dos ativistas negros.

Já baianada é mais complexo. Os paulistanos mais pudicos, que já hesitam em chamar alguém de nordestino, ao referir-se aos nordestinos, os chamam de baianos. Para São Paulo, acima do Rio de Janeiro todo mundo é baiano. O gentílico, neste caso, não é um pejorativo para baiano, e sim um eufemismo para nordestino. O "baiano ACM" pode, afinal ACM é do mal. Mas que nenhum jornalista ouse grafar "o baiano Jorge Amado". Está arriscando seu emprego, pois Amado é do bem. Na fronteira gaúcha, curiosamente, baianada era tentar montar o cavalo pelo lado errado.

Quanto à cabeça-chata, não é por acaso que os nordestinos assim são chamados. Eles têm a cabeça chata - que se vai fazer? - e já tive em mãos estudos acadêmicos que tentam explicar o fenômeno. O fato é que nenhum jornal ousaria hoje chamar um nordestino de cabeça-chata. Muito menos de baiano. Ou seja, Queiroz está chovendo no molhado. A imprensa que hoje se diverte com a cartilha há muito vem utilizando a linguagem PC. Os jornalistas estão fingindo indignação ante o excesso de zelo do Nilmário, mas há muito se entregaram à censura da língua.

Índio, de repente, virou palavrão. Como não tenho a raridade em mãos, não sei se o autor sugere algum substitutivo. Em todo caso, pra começar, seria necessário uma nova denominação para o 19 de abril, Dia do Índio. Isso sem falar na censura a toda poesia indianista, estudos históricos e sociológicos. Melhor chamá-los de selvagens? Ou selvagem - o que vive nas selvas - terá também virado palavrão?

Baitola, bicha, boiola e veado, muito menos. Nem mesmo homossexualismo é recomendável, "tem carga pejorativa ligada à crença de que a orientação homossexual seria uma doença, uma ideologia ou movimento político". Melhor homossexualidade, como se a mudança de prefixo mudasse algo na preferência dos homossexuais. Quanto à palavra veado, parágrafo único: por especial deferência, é de uso reservado à Presidência da República, quando quiser referir-se aos pelotenses.

Sobrou até para expressões inocentes, como "farinha do mesmo saco", que não tem nenhuma conotação racial ou ideológica. "Junto com expressões como todo político é ladrão, todo jornalista é mentiroso, os muçulmanos são terroristas, ilustra a falsidade e leviandade das generalizações apressadas, base de todos os preconceitos. O fato de haver políticos corruptos, jornalistas imprecisos e muçulmanos extremistas não significa que a totalidade desses segmentos mereça aquelas respectivas acusações". A verdade é que esta expressão tomou corpo nestes últimos dois anos, quando os petistas chegaram ao poder. Anátema seja!

Ocorre que o autor foi mais realista que o rei. Em seu afã de cassar palavras, compilou várias de muito apreço por parte do Supremo Apedeuta. Lula, talvez por precaução, mandou suspender a distribuição da cartilha que, com poucos meses de existência, já virou raridade bibliográfica. Os homens desmoralizam as palavras e depois sentem-se obrigados a cassá-las.

Intelectuais e comunicadores são unânimes em seu repúdio à cartilha. Sem pretender bancar o original, vejo nela uma virtude: o autor colocou a palavra "comunista" entre as politicamente incorretas. Sem talvez lembrar que o PT tem suas origens, entre outras, no PCB e no PC do B, partidos hoje legalizados e atuantes. Esta é a grande novidade da cartilha. Alvíssaras: o autor intuiu que comunista passou a ser palavrão. Mas como definir, doravante, nulidades como Luiz Carlos Prestes ou Oscar Niemeyer? Não será fácil encontrar um novo adjetivo.

Durante décadas, os comunistas, particularmente os comunistas brasileiros, encheram a boca com a palavrinha, como se ela designasse os eleitos pelo deus da História. Ser comunista era entender o universo, ter uma idéia exata para onde rumava a humanidade. E ai de quem não o fosse. Era olhado com um misto de desprezo e piedade, como alguém que nada entendia do mundo, muito menos de si mesmo. Durante todo o século passado, estes senhores tiveram o monopólio da arrogância e sempre se julgaram os redentores da humanidade.

Caiu então o Muro de Berlim. A União Soviética desmoronou. A Rússia reduziu-se à sua desimportância. Secou a fonte financiadora da propaganda, da guerrilha e dos assaltos ao poder. Até Cuba ficou órfã. A arrogância dos salvadores do mundo foi minguando. Os partidos comunistas de todos os países começaram a trocar de nome. A palavra que era bandeira virou palavrão. Aqui reside, a meu ver, o grande mérito da cartilha. O reconhecimento, da parte de um velho apparatchik, que comunista não mais é título que dignifica, mas insulto que fere. Longa é a jornada dos camaradas até o entendimento. Aleluia, companheiro!

Mas estupidez não tem fronteiras e esta é a primeira lição que aprende o homem que viaja. Não caia o leitor no engano de pensar que o PT brasileiro é a única instituição ridícula no mundo. Em solidariedade ao obscurantismo petista ergueram-se na Itália dois advogados de Treviso, que empunharam um artigo do Código Penal para denunciar o jornal Manifesto, por ter-se referido ao novo Papa, Bento XVI, como pastore tedesco. Ou seja, pastor alemão. Mas não é o papa o pastor da Igreja? E no caso, não é alemão o pastor?

Precisamos consultar os cassadores de palavras do PT.

sábado, maio 07, 2005
 
DE OUTRO LEITOR


Olá Janer.

Chamo-me Felipe Svaluto Paúl, sou estudante de História na Universidade Federal Fluminense; tenho acompanhado os artigos do senhor e do Marcelo acerca da Inquisição, terminei agora a leitura do último pelo senhor escrito. Essa mensagem tem por intento primeiro parabenizá-lo pelos artigos; por vezes se pensa que o tema está batido, que não mais há quem defenda a Inquisição...mas eis que baste nele tocar que surgem os exóticos neo-tfpistas da toca, e pior, muitas vezes se autoproclamando, absurdo dos absurdos, liberais ou simpáticos ao liberalismo.

Se realmente é preciso levar adiante um esforço anticoletivista nesse país sem dúvida alguma a empreitada passa não apenas pelo ataque aos coletivismos de esquerda, mas também aos "de direita". O senhor é a única voz a fazê-lo no MSM, infelizmente - o que tem levado, via de regra, ao abandono desse site pelos mais sérios e respeitáveis liberais que conheço, passando a visitá-lo apenas seres como os que escreveram as mensagens que o senhore replica no artigo último. É pena.

Intenção segunda: escrevi há muito artigo replicando a série de artigos do D.Estevão que o senhor está citando vez ou outra...assim como o senhor também não recorri a historiador algum, aliás ainda não li nenhum livro sobre Inquisição, nem é uma de minhas temáticas prediletas. Tudo que fiz foi rebater aos argumentos do D.Estevão.
Caso o senhor queira ler, meu blog: www.warfarestate.blogspot.com. O artigo chama-se D.ESTEVÃO E A IDADE DAS TREVAS. Gostaria que lesse e comentasse.
Um abraço,
Felipe Svaluto Paúl

quinta-feira, maio 05, 2005
 
FHC TEM SEU DIA DE LULA


"Eu não queria que o tom do nosso encontro fosse o de saudade, mas o comichão do futuro" - disse ontem Fernando Henrique Cardoso - "E nós já estamos sentindo o comichão do futuro".

Ora, comichão é substantivo feminino. Terá o erudito ex-presidente se deixado contaminar pelo ar dos tempos?

Jornal algum ousou acrescentar um sic! à fala do Príncipe dos Sociólogos. Terá o ar dos tempos contaminado também os jornalistas?

terça-feira, maio 03, 2005
 
DE OUTRO LEITOR

Olá!

Através de um comentário de um participante de um grupo do orkut, cheguei ao midiasemmascara, o que me levou a seu blog.

Li a respeito da inquisição...Certo que a maioria das pessoas imaginam algumas pessoas conversando, amigavelmente, diante de uma mesa, como numa audiência em algum fórum, sendo-lhes dada ampla defesa e várias oportunidades. Poucos sabem o que foi, na Idade Média, a inquisição. No interior do Brasil, durou até um tempo maior que oficialmente divulgado. A "ampla defesa" você está descrevendo, muito bem.

Também não odeio o cristianismo. Só acredito que este é torturante, com um homem seminu, morto e culpando seus fiéis, dizendo que esta cena é a maior "prova de amor divino". Há de ser justificado, nisso, no homem ralado, espancado e crucificado, as torturas da inquisição. Talvez, muitos achem "pouco" os castigos dos hereges.

Abraços,

Egle Figueiredo
http://eglef.blogspot.com

segunda-feira, maio 02, 2005
 
DE UM LEITOR


Prezado Cristaldo,

É triste ver fundamentalistas religiosos "tomando conta" de diversos sitios na internet (como o midiasemmascara). Acreditam que fora do fundamentalismo católico ou cristão não há como criticar o "politicamente correto", o governo Lula, a esquerda... Dá até um certo receio porque é um pessoal novo, muito mal informado e já fanatizado. Espero que com o tempo eles possam ir deixando esta loucura fundamentalista. Sou leitor dos teus artigos e só posso pedir que continue tentando ir contra esta "barragem" de fanatismo.

Saudações,

Marcelo Alves

 
AOS FUNDAMENTALISTAS



Em minha última crônica, escrevi que, como dizia D. Estevão Bettencourt, nem o manso Santo Agostinho levantara sua voz contra a Inquisição. Imediatamente recebi a correção de um leitor atento, lembrando que Agostinho morrera nove séculos antes.

Foi evidentemente um lapso de digitação. Tanto que a frase correta estava logo no início do artigo: "É de notar que nenhum dos Santos medievais (nem mesmo S. Francisco de Assis, tido como símbolo da mansidão) levantou a voz contra a Inquisição". Assim escreveu D. Estevão. Frase correta, mas não muito. Ocorre que São Francisco morrera nove anos antes da instalação da Inquisição. Deixei-me enlevar pela erudição de D. Estevão e errei duas vezes. Uma por distração, outra por não checar a informação do prelado.

Errar é humano e não há quem escreva, seja jornalista ou prelado, que não tenha cometido erros ao longo de seu ofício. A Folha de São Paulo, por exemplo, dedica um espaço diário para corrigir os erros de cada edição, prática que deveria ser seguida por todo o jornalismo. Agradeci ao leitor e pedi correção ao editor. O insólito veio mais tarde. E-mails e cartas cheias de gozo invadiram meu correio e a seção de Cartas do midiasemmáscara. Por exemplo:

"O senhor é um ignorante pretencioso (sic!) ou apenas um mentiroso". Ou: "A sua falta de conhecimento histórico só é ultrapassada pela vontade de denegrir a Igreja". Ou ainda: "O restante de seus argumentos são tão ou mais estúpidos que este. Reconheça que nada sabe sobre cristianismo ou qualquer religião". O tom das mensagens foi de júbilo. Cristaldo errou: a Igreja está salva. Nenhum destes leitores insistiu em desqualificar o artigo de D. Estevão, que também incorria em erro.

Meu erro foi oportuno. Trouxe à tona um núcleo duro de leitores que não só aceitam a Inquisição como a defendem. Mas reconhecê-lo parece de nada ter adiantado. Continuam chegando cartas que ignoram o texto corrigido e se apegam ao anterior. Há um tipo de leitor que preferiria a insistência no erro. Mais fácil me contestar.

Ora, caríssimos, não é um lapso do articulista que vai negar a realidade da Inquisição. Não recorri a historiadores para descrevê-la. Bebi na água da fonte, o Manual dos Inquisidores, a mais hedionda construção jurídica produzida pelo ser humano. Meu erro não muda uma letra nos propósitos de Nicolau Eymerich. Que se corrija o autor, é coisa que agradeço. Mas discuta-se o documento, em seu horror, e não uma gafe do cronista, que em nada afeta o texto todo. Isso que nem falei de outro documento, o Malleus Maleficarum (O Martelo dos Bruxos), de Jacobus Sprenger e Heinrich Kramer, que regulamenta a perseguição às mulheres na Idade Média.

Outro leitor me adverte que o samsara budista não é o inferno, é apenas a sucessão indefinida das reencarnações. Ora, há infernos e infernos, inclusive dentro da própria Bíblia. O Sheol dos judeus é a morada de todos os mortos, subterrâneo e tenebroso, mas desprovido de castigo. Já para Mateus, é o fogo eterno que foi preparado para o diabo e seus anjos. No apócrifo Visio Pauli está melhor detalhado, com diferentes regiões e punições específicas para cada espécie de pecador. As gradações na idéia de inferno são tantas que Jérôme Baschet, em seu ensaio Les Justices de l'au-delà (700 pgs.), se contenta em compilar as representações do inferno na França e Itália... apenas do século XII ao XV. O samsara é um oceano a ser atravessado, uma prisão da qual se deve fugir, em suma, um estado de insatisfação e sofrimento, do qual o homem deve escapar, para chegar o mais rápido possível ao nirvana. No fundo, uma versão mitigada do inferno católico, uma espécie de purgatório.

O mesmo leitor faz uma insólita distinção entre opressões francas e hipócritas. Hipócritas seriam as ditaduras modernas e opressão franca seria a Inquisição. "No tempo da Inquisição, era possível dizer: ontem a Inquisição fez queimar X ou Y, pois era a coisa mais óbvia do mundo que cada um sabia. Em Cuba, não se pode dizer: Castro fez torturar X ou Y, sem correr o risco de ser torturado também por isso". O problema ocorreria nas ditaduras hipócritas, onde a tortura é oculta. Melhor as fogueiras da Idade Média que os porões de Castro - é o que deduzo da carta do leitor.

Penso diferente. Quando a tortura é oculta, na mente do ditador há pelo menos a consciência de que é algo hediondo e portanto deve ser escondida. Nas opressões francas - para usar a expressão do leitor - a consciência que existe é a de que a tortura é algo perfeitamente salutar, digno e justo. Os ditadores têm medo das denúncias e fazem tudo para impedi-las. Muito pior - há de convir o leitor - é um regime onde a autoridade se jacta da tortura e a apresenta como instrumento da justiça divina.

Outro leitor nega ter sido a Inquisição quem mandou Joana d?Arc para a fogueira, e sim um tribunal inglês. Ora, tenho em mãos a sentença proferida pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, a quem coube intermediar o resgate da donzela por dez mil escudos franceses, a fim de ser entregue ao Vigário Geral da Inquisição da Fé no Reino de França. No encarniçamento em defender a santa instituição, o leitor assume a velha prática stalinista de maquilar a História.
Outro leitor brande um argumento de um cinismo atroz. Que a confissão obtida sob tortura devia ser confirmada por escrito pelo imputado posteriormente, sem tortura, e somente assim as eventuais admissões de culpa podiam ser levadas a juízo. Ora, quem não assinaria qualquer confissão ante a perspectiva de novos suplícios? O leitor absolve todos os torturadores do mundo, desde que estes apresentem ao torturado a confissão a ser assinada, sem torturá-lo no exato momento da assinatura.

Houve leitor que me situasse como satanista, cultor do demônio. Mereci até um trocadilho infame: Satanaldo. Isso porque, em algum momento, manifestei minha simpatia pelo personagem: Jeová é do estilo "prende e arrebenta". Satã, não. Precisa tentar, por isso faz jus ao nome de o Tentador. Mas só crê no demônio quem crê em Deus. E vice-versa. Ateu sendo, não creio nem em um nem em outro. Manifesto minha simpatia por personagens literários, entes de ficção, nada mais que isso. É a mesma simpatia que nutro por Don Giovanni, de Mozart, ou pela Carmen, de Bizet.

Não faltou é claro quem falasse no Cristaldo nazista. Isso porque teci críticas ao Papa defunto. Como se João Paulo II fosse um vice-deus, pairando acima da humanidade e acima de qualquer crítica. Temos agora um novo insulto ideológico: nazista é quem critica o Papa.

Não poucos leitores denunciam meu ódio à Igreja e ao cristianismo. Ora, não odeio instituições nem doutrinas e muito menos pessoas. Não odeio nazismo nem comunismo, da mesma forma que não odeio igreja alguma. Por uma simples razão: jamais consegui odiar qualquer coisa. Isto me lembra o auge da última campanha eleitoral à Presidência da República. Quem quer que fizesse críticas ao PT era acusado de odiar o PT. Velho cacoete stalinista. O acusado, para defender-se, atribui ao acusador um sentimento nada nobre, o ódio. Criticar torna-se então sinônimo de odiar. No auge da Guerra Fria, quem quer que criticasse o comunismo estava manifestando seu ódio à União Soviética.

Não aceito esta sinonímia. Critico comunistas, nazistas ou cristãos, sem ódio algum. De nada serve odiar a realidade. Ela existe, e ponto final. Entre estas três doutrinas, considero o cristianismo a mais perversa. A Igreja é sábia. A Inquisição foi uma péssima idéia. Melhor a noção de pecado. Instala-se uma máquina de tortura no consciente de cada fiel e a ele outorga-se a iniciativa de acioná-la. Nazismo e comunismo não chegaram a este requinte. Para dominar, necessitaram a força bruta do Estado. As máquinas de tortura eram instrumentos externos ao indivíduo, acionadas por terceiros. Não espanta, pois, que o cristianismo exista há dois milênios e que nazismo e comunismo tenham conseguido se manter no poder por apenas décadas.

Os fundamentalistas que me desculpem, mas a Inquisição é indefensável.