¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, junho 25, 2005
 
ESTADÃO FAZ JORNALISMO SAFADO (2)




(Trechos fundamentais do depoimento do Coronel Lício Augusto Maciel, suprimidos na reportagem de Denise Madueño)


Então, o Genoino foi mandado para Xambioá preso. A essa altura ele já deixou de ser detido para ser preso, e falou tudo sobre a área. Quando eu olhei para ele e disse: Você não tem mais alternativa porque aqui está a mensagem. Ele disse: Eu falo. Eu disse: É bom você falar.Genoíno, olha no meu olho, você está me vendo. Eu te prendi na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não te demos uma facãozada, não te demos uma bolacha, coisa que me arrependo hoje. (Palmas.). Um elemento da minha equipe, fumador inveterado, abriu um pacote de cigarro, aproveitou aquele papel branco do verso, surgiu um toco de lápis não sei de onde, e o João Pedro começou a anotar o que o Genoíno falava fluentemente nervoso como estava, começou a falar. Eu me levantei do chão, fui até o córrego meio próximo para beber um pouco dágua. Voltei, o papel estava cheio, toda composição da guerrilha nomes, locais, Grupo C ao sul, Grupo B da gameleira, perto de Santa Isabel, e Grupo A perto de Marabá. Eram os três grupos efetivos que eles presumiam completar trinta homens por grupamento e mais um grupo militar comandado por Maurício Grabois. Eu peguei aquele papel e ainda comentei com ele: pô, meu amigo, tu é um cara importante desse negócio aí, hein? E mandei o Geraldo para Xambioá.

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Triste notícia veio depois. O grupo do Genoíno prendeu um filho do Antônio Pereira, aquele senhor humilde, que morava nos confins da picada de Pará da Lama, a 100 km de São Geraldo. O filho dele era um garoto de 17 anos, que eu não queria levar como guia, porque ao olhar para ele me lembrei do meu filho que tinha a mesma idade. Então eu disse ao João: Não quero levar o seu filho. Eu sabia das implicações ou já desconfiava.
O pobre coitado do rapaz nos seguiu durante uma manhã, das 5h até o meio-dia, quando encontramos os três nos aguardando para almoçar. Pois bem. Depois que nos retiramos, os companheiros do José Genoíno pegaram o rapaz e o esquartejaram. Genoíno, aquele rapaz foi esquartejado, toda Xambioá sabe disso, todos os moradores de Xambioá sabem da vida do pobre coitado do Antonio Pereira, pai do João Pereira, e vocês nunca tiveram a coragem de pedir pelo menos uma desculpa por terem esquartejado o rapaz. Cortaram primeiro uma orelha, na frente da família, no pátio da casa do Antonio Pereira. Cortaram a segunda orelha, o rapaz urrava de dor, e a mãe desmaiou. Eles continuaram, cortaram os dedos, as mãos e no final deram a facada que matou João Pereira.
Esse relatório está escrito no CIE, porque foi escrito por mim, e eles não abrem para os historiadores com medo que isso apareça. Pois bem. Eles fizeram isso porque o rapaz nos acompanhou durante 6 horas, a fim de servir de exemplo aos outros moradores para não terem contato com o pessoal do Exército, das Forças Armadas. Foi o crime mais hediondo que soube, nem na guerra da Coréia e do Vietnã fizeram isso. Algo parecido só encontrei quando trucidaram o Tenente Alberto Mendes Júnior. O tenente se apresentou voluntariamente para substituir dois companheiros que estavam feridos, a turma do Lamarca pegou o rapaz trucidou, castrou e o obrigou a engolir os órgãos genitais.
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Quando me agachei ela me atirou à queima roupa. Me deu um tiro na mão e acertou na face, que atravessou o véu palatino e se encaixou atrás da coluna, e eu caí. O outro tiro que ela deu acertou o braço do Capital Curió, Subcomandante da minha equipe. O resto da minha equipe revidou, claro. Encerrada foi a carreira de bandida da Sônia, nome da guerrilheira.

Denise Madueño cita apenas as duas últimas frases. Escreve que a guerrilheira atirou, mas omite os ferimentos nos dois militares: ?Ele disse que, depois disso, ela recuperou a arma e atirou nele e no coronel Curió. "O resto da minha equipe revidou, claro. Encerrada foi a carreira da bandida Sônia, nome da guerrilheira", disse.
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Triste constatar que um jornal como o Estadão permite tais manipulações de notícias.